"Minha casa, meu inferno", diz moradora sobre condomínio destelhado
Lonas foram improvisadas para conter a chuva, mas também cederam e houve prejuízos para famílias
Moradores do Condomínio Reinaldo Busaneli, no Jardim Campo Nobre, em Campo Grande, têm enfrentado uma série de dificuldades por conta dos estragos deixados pela chuva. Com o temporal da semana passada, casas ficaram destelhadas e desde então, o problema não foi resolvido totalmente. Não apenas quem mora no último andar tem sofrido, como também nos pisos inferiores, há goteiras e alagamentos.
Foram colocadas lonas para tentar conter o efeito da chuva, mas não foi o suficiente. As paredes começaram a mofar e muitos evitam até ligar aparelhos eletrônicos para evitar curtos-circuitos. Há 386 famílias vivendo nessa unidade habitacional.
A dona de casa Luciene Rica da Silva, de 45 anos, mora desde 2014 no local e nunca viu uma situação tão preocupante como a que tem vivido nesta semana. “Há mais ou menos uma semana, veio o temporal e levou tudo as telhas. Desde então, está todo mundo desabrigado, praticamente. Tem hora que falta água, luz. Muitos saíram das casas, está faltando moradia mesmo. Ontem, foi muito pesado, muitas casas alagaram.”
A empregada doméstica Cleide Alves de Souza Leite, de 53 anos, relata que tentou contato com a Caixa Econômica Federal para angariar algum tipo de seguro, mas que isso dependeria da ação da síndica do local, que segundo os moradores em geral, não tem conseguido resolver tal situação.
Minha casa, meu inferno“, diz a empregada doméstica em alusão ao programa habitacional do Governo Federal, Minha Casa Minha Vida, do qual este condomínio é vinculado.
Cleide ressalta que não conseguiu dormir nesta noite, por conta da água. “Alagou tudo. Passei a noite arrancando a água daqui com o rodo e sinto que estamos correndo risco. Colocaram lona aqui, estamos nesta situação mesmo com as contas em dia”. Os moradores gravaram vídeos mostrando os efeitos da chuva. Assista:
A babá Ana Claudia Correia, de 36 anos, também cobra da Caixa uma ajuda em relação a esse problema, mas entende que a administração tem de “correr atrás da verba”. “Está tudo alagado, entrou água na sala, na cozinha. Entrou água no disjuntor e estou sem luz. É um absurdo, porque o local onde a gente mora é aqui.”
Ela relata que foi impossível dormir em meio a tempestade desta madrugada. Seus três filhos, de 4, 8 e 15 anos, também tiveram problemas durante o sono, porque estavam em meio ao alagamento.
O auxiliar de manipulação Thiago Souza da Silva, de 36 anos, conta que ficou puxando água durante a noite, e que até ensacou os móveis para evitar que molhassem mais. “Até chamamos os bombeiros, mas vieram e disseram que não podem fazer nada, que era pra chamar a Defesa Civil. É uma situação insustentável.”
De acordo com a síndica do condomínio, Cleonice da Silva Dias, de 47 anos, há previsão de que na segunda-feira (25) consigam, ao menos, uma resposta na Caixa Econômica Federal para tentar adequar o problema. “Fui com a advogada para entrar com o pedido de amparo substancial. Conversamos com o gerente, assinei um monte de papel e disse que teríamos de correr atrás de perito, engenheiro, mestre de obras e apresentar três orçamentos”.
“Inclusive, com os danos que tiveram os apartamentos dos moradores. Porque eles precisam ser ressarcidos, só teremos resposta amanhã”, disse Cleonice. Ela também alega que mais da metade dos moradores está inadimplente em relação às cobranças de IPTU ou aluguel.
A reportagem também questionou a assessoria de imprensa da Caixa, via e-mail, sobre quais ações podem ser feitas para sanar tais problemas. Por meio de nota, informam que os beneficiários devem procurar uma agência do banco para formalizar esse tipo de ocorrência. "Após esse procedimento, a situação é analisada pelo Fundo Arrendamento Residencial".
Além disso, a instituição disponibiliza o canal "De Olho na Qualidade", para que clientes possam registrar suas reclamações por meio do telefone gratuito 0800-721-6268 ou 4004-0104. Nesses casos, "a construtora é acionada para promover os reparos de sua responsabilidade".
Ação da natureza - Em menos de uma semana, Campo Grande já enfrentou outra forte tempestade. Anunciado várias vezes nos últimos dias, logo nas primeiras horas de domingo, ainda na madrugada, a chuva veio com muita intensidade e destelhou casas, além do teto de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).
Segundo análise da meteorologia da Uniderp, choveu cerca de 101,5 milímetros na Capital, somente até o fim da manhã. A previsão é de que os mesmos ventos, que chegaram a ultrapassar 65 quilômetros por hora, ocorram também nesta tarde.
(*) Matéria atualizada às 17h39 para acréscimo de resposta por parte da Caixa Econômica Federal.
Confira a galeria de imagens: