Moradores enfrentam temor e dúvidas sobre como serão desapropriações para obra
Prefeitura de Campo Grande declarou 52 imóveis de utilidade pública, mas não detalha os locais
A notícia de que a Prefeitura de Campo Grande declarou 52 imóveis de utilidade pública para desapropriação de áreas e passagem de um novo acesso ao conjunto Moreninhas acirrou os sentimentos de preocupação e expectativa de moradores com o empreendimento. Quem vive no trecho em que deve passar o traçado e suspeita que vai perder parte ou todo o imóvel persiste à espera da versão definitiva sobre a nova rota e o impacto em suas vidas.
A obra vai começar na Rua Salomão Abdalla, no cruzamento com a Avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá, e percorrer bairros da região até chegar aos fundos do conjunto Moreninhas, criando um caminho mais curto para quem seguirá a partir das regiões leste e norte da cidade.
Morador antigo da Rua Salomão, seu Alcy da Silva, de 82 anos, conta que circularam muitas versões sobre a obra ao longo dos anos, já que se trata de um projeto antigo. Ao longo do tempo, ele foi reformando o imóvel e acredita que sua valorização pode ter influenciado no traçado da rua. Segundo ele, um fiscal da prefeitura teria revelado sobre a preocupação com o valor da desapropriação da casa dele.
Silva defende que é possível a realização da obra sem a desapropriação de imóveis, somente com a redução das calçadas das casas existentes. “A calçada é larga, eu acho uma bobagem isso”. Para ele, não seria necessária uma avenida, mas somente a pavimentação da Salomão Abdalla. A rua tem um declive, o que o favorece a formação de enxurrada e deixa trechos intransitáveis na época das chuvas, a ponto de a tubulação de água ficar exposta.
Ele e a sobrinha, Cláudia Nazário Barbosa, de 51 anos, que mora perto da casa de Alcy, temem sobre o destino deles se houver desapropriação dos imóveis em que vivem. Ela mora na Rua Polo Sul, no Bairro Campo Alto, que também está na rota do novo acesso às Moreninhas. Cláudia contou à reportagem que gostaria de fazer reformas na casa, mas vai adiando os planos diante da indefinição.
Osvalda Costa, de 67 anos, também é moradora antiga. Está há 13 anos ali e ouviu várias versões sobre a obra, inclusive de que não seria preciso atingir residências. “Eu não sei como vai ser, eu tenho a escritura”, comenta, ao mencionar que se tiver que sair, ela espera ser indenizada pelo valor real do imóvel.
Miriam Saldanha, de 67 anos, engrossa o coro das dúvidas. Ela vive uma situação mais complicada, porque sua moradia é irregular. Mesmo assim, fez reformas e espera não ser prejudicada. “Eu não sei o que vai acontecer conosco. Se eles me tirarem daqui vou para onde?”, questiona. O temor é que seja deslocada para alguma região com menos infraestrutura. “Nós não podemos sair. Já deviam ter avisado. Deixa um aviso, marca uma reunião em uma escola. Já pensou encostar a patrola e derrubar todo mundo”, indaga.
Mesmo convivendo com o medo sobre o futuro, ela destaca a importância da passagem do asfalto, já que tiveram que aceitar conviver com a poeira, o barro e buracos.
Sueli Rocha também apoia a chegada da nova rota para as Moreninhas, vislumbrando ter algum lucro. Ela mora em uma casa alugada na Rua Salomão Abdalla e afirma que, se o imóvel não for atingido pelas desapropriações, poderá vender espetinho ou apostar em alguma outra atividade que gere renda.
A obra - O edital publicado pela prefeitura apontando 52 imóveis que são atingidos pelas desapropriações menciona 24 áreas no Jardim Pacaembu, 17 no Campo Alto, 5 no Universitário e 4 no parcelamento Sitiócas Alvorada. Entretanto, não foram indicadas as ruas, somente lotes e quadras. A reportagem tentou ontem obter mais detalhamento com a prefeitura, inclusive sobre a relação com os moradores, mas não obteve informações.
Conforme divulgado no final de 2022, a abertura do novo acesso às Moreninhas envolve R$ 42,9 milhões, com a execução de 9.346,74 metros de drenagem, 2,2km de ciclovia, 10 km de pavimentação e 4,5 km de recapeamento. O começo é na rua Salomão, na altura da Avenida Guaicurus, onde termina o asfalto, e o final na avenida Alto da Serra. Trata-se de uma obra que envolve recursos do Município e do governo estadual.