Morre pistoleiro que executou traficante no “quadrilátero das mortes”
Crime foi cometido a mando de Tiago Paixão de Almeida, o “Boy”, apontado como o chefe do tráfico na região
Principal suspeito de assassinar Luiz Felipe da Silva, de 22 anos, em abril deste ano no Jardim Tijuca, morreu meses após ser internado no Hospital de Câncer de Campo Grande - Alfredo Abrão. Caio César Oliveira da Silva, conhecido como “Gordinho”, foi contratado por Tiago Paixão de Almeida, o “Boy” e atirou mais de 20 vezes na “biqueira” administrada pela vítima.
Caio foi preso em 1° de abril deste ano por matar Luiz Felipe e ferir um adolescente de 15 anos, em uma boca de fumo do bairro. Para cometer o crime, contou com a ajuda de Fabiano Saraiva, o “Magrelo” e de outras duas pessoas: Marcelo Rodolfo das Nevez Oliveira e Thiago da Silva Gomes.
A execução, no entanto, foi orquestrada por Tiago Paixão de Almeida, traficante responsável por controlar a venda de drogas em toda a região. “Boy” estava, segundo testemunhas, incomodado com a desobediência de Luiz, que insistia em não comprar o entorpecente dele. Passou, então, a missão de “acabar com a biqueira e quem tivesse nela”, aos comparsas.
Nesta época, o traficante estava na prisão. Desde 2018 cumpria pena por tráfico, mas nunca deixou de comandar o esquema de venda de drogas no bairro. De dentro da cadeia ele repassou a ordem para Marcelo Rodolfo, que apesar de sempre negar o crime, foi apontado pela polícia como parceiro de Paixão no crime.
Marcelo intermediou a contratação de Caio e de Fabiano como executores do crime, arrumou um Fiat Uno para eles irem até o local do homicídio e orientou seu “funcionário”, Thiago da Silva, a entregar a chave do carro e também auxiliar na fuga da dupla.
No dia 31 de março, Caio e Fabiano foram até a casa indicada. Ela ficava no trecho conhecido no bairro como “quadrilátero das mortes”. Isso porque só neste ano foram três execuções em intervalo curto de dias no local, todas atribuídas à briga pelo controle do comércio de drogas ilegais.
Testemunhas contaram que quem desceu com a justificativa de comprar drogas foi “Gordinho”. Não demorou muito para sacar a arma, uma pistola, e tirar contra o traficante e outros dois adolescentes. Foram mais de 20 tiros, Luiz morreu atingido por vários deles. Um dos jovens foi ferido na mão e o outro conseguiu escapar sem lesões.
Os dois pistoleiros fugiram, mas horas depois acabaram presos por policiais do Batalhão de Choque. Além deles, a polícia também encontrou e prendeu Thiago da Silva, que confirmou trabalhar na boca de fumo de Marcelo e ter, a mando dele, entregado o Uno e pedido uma corrida por aplicativo para os assassinos de Luiz.
Caio não saiu mais da prisão. Foi levado para o Instituto Penal de Campo Grande para esperar por julgamento, mas em agosto foi internado, a princípio no Hospital Universitário, com complicações na vesícula. O estado de saúde dele fez com que a segunda audiência do caso na justiça, marcada para ouvir as testemunhas de defesa no dia 30 de agosto, ser adiada. A primeira ocorreu dias antes, em 9 do mesmo mês e teve depoimentos da acusação.
Com o passar do tempo, o quadro de saúde de Caio pirou e ele precisou ser transferido para o Hospital de Câncer de Campo Grande - Alfredo Abrão. O diagnóstico foi de “neoplasia maligna de esôfago”, ou seja, câncer entre o estômago e o fígado.
A doença se espalhou pelo organismo de Caio e no dia 22 de setembro ele morreu em decorrência das complicações causadas pelo tumor e por insuficiência hepática. Em 5 de novembro, o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2° Vara do Tribunal do Júri, declarou extinta a punibilidade do homem de 35 anos e seu nome foi retirado do processo como autor.
Ainda assim, a morte de Luiz segue em análise na justiça, mas para apurar o envolvimento dos outros quatro envolvidos. A audiência adiada em agosto já ganhou nova data e ocorre nos primeiros dias de dezembro. Fabiano e Thiago da Silva continuam preso no Instituto Penal. Tiago Paixão está no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho e responde ainda a crime de tráfico de drogas e homicídios.
A prisão - Tiago Paixão foi preso durante a operação "Progresso", em 19 de dezembro de 2018. A ação descobriu um laboratório onde o grupo chefiado por ele produzia drogas, na Vila Fernanda, em Campo Grande. No imóvel, cujas faturas estavam em nome da mulher de “Boy”, Marília Teixeira de Freitas, 36 anos - havia 2,5 mil “gotas” de droga, divulgou a Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico).
A embalagem usada pela quadrilha é diferente das normalmente vendidas: é um invólucro de saco de lixo preto, fechado com uma chama de vela, de modo a parecer uma gota.
Tiago também cumpriu pena por homicídio e já sofreu um atentado a tiros.