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Capital

Na Justiça, funcionário de lava-jato diz que "brincadeira" matou Wesner

Audiência realizada no Fórum foi a terceira e última do caso; Agora juiz decide se o crime será julgado pelo Tribunal do Júri ou pela Vara Comum

Izabela Sanchez e Geisy Garnes | 30/10/2017 16:46
Thiago Giovanni Demarco Sena, 20 anos, e Willian Henrique Larrea, 30 (Foto: Geisy Garnes)
Thiago Giovanni Demarco Sena, 20 anos, e Willian Henrique Larrea, 30 (Foto: Geisy Garnes)

Durante a terceira e última audiência do caso judicial sobre a morte de Wesner Moreira da Silva, violentado no dia 3 de fevereiro em um lava jato no bairro Morumbi, em Campo Grande, as duas testemunhas esperadas pela defesa não compareceram. A escolha do advogado, Samuel Trindade, foi "abrir mão" dos depoimentos, conforme declarou, "porque o processo está maduro para ir a julgamento".

Nesta tarde, enquanto a família de Wesner pedia por "Justiça" do lado de fora, Willian Henrique Larrea, 31, tentou desconstruir a tese de acusação. O funcionário do lava-jato relatou ao juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida que acompanhou Wesner crescer, e que o crime foi resultado "de uma brincadeira".

"Bateu ar nele"

Nesta tarde, além das testemunhas que deixaram de ir ao local, Willian e Thiago Giovani Demarco Sena, 20 anos - outro acusado pelo crime -, eram esperados na audiência. Willian relatou ao magistrado que as brincadeiras "com tapas", por exemplo, eram comuns.

Ele alegou "conhecer Wesner desde o berço", ao ser questionado pelo juiz sobre a proximidade com o adolescente.

"Jamais pensei que chegaria nisso", argumentou, ao relatar que conhecia o adolescente morto. Ao juiz, o funcionário do lava jato chamou a brincadeira de "bater ar nele".Willian também afirmou "conhecer a dor da perda" por ter um filho. Willian tentou argumentar a mesma tese da defesa. Ele conta ter ido ao banheiro enquanto as "brincadeiras" ocorriam.

"Escorregou no chinelo"- A porta do banheiro, contou, "não fecha direito" . "Lavou a mão" e correu atrás do adolescente, "uma brincadeira", afirmou. Nesse momento, Willian alegou que Wesner "escorregou no chinelo".

Willian alega ter "pegado o adolescente nas costas" enquanto Thiago - o proprietário do lava jato - pressionou a mangueira de ar comprimido, alega o MPE-MS (Ministério Público Estadual), "com as roupas", alegou, no adolescente.

"Tiago veio e bateu o ar. Por cima da roupa. Na mesma hora ele passou mal", afirmou. Willian também alega na mesma hora o adolescente já demonstrou mal estar. A defesa e o dono do lava jato alegam terem levado o adolescente, assim que perceberam, para o socorro.

Willian admite, no entanto, que Wesner queixava-se de dores na barriga. "Entrou ar nesse moleque", contou ao juiz. Enquanto Thiago dirigia o veículo, afimou, Wesner ia no colo dele, vomitando.

Advogado - Durante a audiênciaa, o advogado lembrou do último julgamento no Fórum, ocasião em que o perito teria afirmado que a mangueira não foi introduzida, e que "houve imperícia", conforme já alega durante o processo.

O caso tem duas teses. Outros profissionais da perícia alegam o contrário. Na segunda audiência do caso, um dos especialistas, Marco Antônio de Melo, alegou que a mangueira de ar foi introduzida no ânus do adolescente.

"Mangueira de ar comprido não é brinquedo. A sua proximidade pode arrancar até um globo ocular. Se fosse perto da boca aberta, poderia ter causado lesões graves no esôfago", comentou o especialista, que analisou Wesner quando o menino deu entrada em estado grave na Santa Casa.

O profissional tem como base três laudos, além de relatos de profissionais que assistiram Wesner. O médico enfatiza que mesmo que os laudos não atestem ferimentos na região anal, não excluem a possibilidade de que a mangueira de ar tenha sido utilizada para praticar a violência.

Futuro do caso - Agora, o juiz deu cinco dias para que a perícia entregue os laudos que faltam para que o julgamento siga o rito. O magistrado também pediu que defesa e o MPE-MS (Ministério Público Estadual) manifestem-se. Depois disso, caso deverá permanecer no Tribunal do Júri ou cair "na vala" dos crimes comuns.

No canto direito, a mãe de Wesner segura um cartaz com a imagem do adolescente (Geisy Garnes)
No canto direito, a mãe de Wesner segura um cartaz com a imagem do adolescente (Geisy Garnes)

"A aflição de uma mãe"

Com cartazes e outras formas de protesto, a família acompanha o caso de perto. Marisilva Moreira da Silva, 44 anos, mal segurava a emoção ao relatar "pedir a Deus que toque o coração do juiz para que ele entenda a aflição de uma mãe. "Quero que contem o que aconteceu de fato", protestou, em alusão ao depoimento de defesa.

"Porque o que eles fizeram foi muita maldade. E eles não se arrependem nada. É um absurdo isso de ameaça. Nos sentimos ameaçados com esses monstros soltos. O que queremos é a prisão deles", contou.

"Quando isso ocorrer", relatou a mãe, "vou sentar e chorar de alívio, porque prometi ao meu filho".

Caso Wesner - Quem fez a denúncia contra a dupla foi o primo da vítima, de 28 anos, no mesmo dia do crime. No relato à delegacia, o rapaz disse que o adolescente “brincava com os colegas de trabalho”, quando um dos homens o agarrou e o dono do estabelecimento inseriu a mangueira de ar comprimido no ânus do garoto.

Wesner teve hemorragia grave e uma parada cardiorrespiratória na Santa Casa, segundo a assessoria de imprensa do hospital, onde o adolescente de 17 anos ficou internado por 11 dias.

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