Na Praça do Rádio, profissionais da enfermagem pressionam por R$ 7 bi para piso
Liberado ao Ministério da Saúde, dinheiro ainda não chegou às instituições, dizem manifestantes
Profissionais da enfermagem de Campo Grande e municípios do interior paralisaram seus trabalhos nesta quinta-feira (29) para se manifestarem pela garantia do piso salarial nacional da categoria, que conta com recurso de R$ 7,3 bilhões destinados pelo Governo Federal ao Ministério da Saúde.
Eles estão concentrados na Praça do Rádio Clube desde as 7h e prometem ficar no local até o fim da tarde, para chamar atenção para a causa com cartazes e carro de som. A expectativa das lideranças sindicais que organizam a paralisação é que 400 pessoas participem ao longo do dia.
O enfermeiro Claudinei Bilancere Correia, 50, é um dos presentes. Ele explica que luta por um direito adquirido. "Foi aprovada uma lei federal e já teve a destinação dos recursos para o repasse da verba dos do piso. O problema é que esse repasse não aconteceu e ainda ninguém recebeu".
O movimento de paralisação acontece concomitantemente em todos os estados brasileiros, com a mesma justificativa.
Recurso não chegou - Presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), Lázaro Santana afirma que a categoria realiza a paralisação por não ter a garantia do pagamento do piso salarial nos hospitais e demais instituições de saúde, tanto públicas quanto particulares.
Os profissionais não sabem se os recursos para o complemento necessário ao salários para se chegar ao piso realmente serão depositados. "Não sabemos nem se esse recurso chegou às instituições", afirma Santana.
O sindicalista também cita a preocupação que votos desfavoráveis de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), já registrados em relação à lei que institui o piso salarial da enfermagem, possam novamente suspender seu pagamento no Brasil.
Jornadas exaustivas - O piso salarial é reivindicado pela categoria há mais de 10 anos. Uma das justificativas para sua aprovação é que o adoecimento mental e físico dos profissionais da área tem relação com remunerações ruins, que os obriga a trabalhar em mais de um emprego ou estender suas jornadas para receber extras.
O vice-presidente da CNTS (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde) e funcionário da Santa Casa de Campo Grande, Osmar Gussi, também defende que a lei do piso não seja "retalhada" pelo STF, igualando o mesmo piso para diferentes cargas horárias semanais. "O piso é mais do que justo para esses profissionais, para não vermos mais esses profissionais trabalhando em dois, três empregos para sustentar e arcar com suas responsabilidades", acrescenta.
A técnica de enfermagem Dayane dos Santos, 36, chegou cedo na praça. Ela também trabalha na Santa Casa e ainda no centro cirúrgico, setor onde a carga de estresse é grande. Ela detalha um pouco a rotina:
É bem corrido. Chegam várias pessoas graves. Às vezes, acabamos de montar a sala para um tipo de cirurgia e temos que desmontar para entrar um outro paciente, uma emergência. Tem dias que lidamos com a tristeza de ver pessoas morrendo, mesmo fazendo tudo que fazemos, mesmo com todas as correrias, mesmo improvisando com a falta de insumos.
Mas temos as nossas glórias. São dias em que o paciente sai bem, que fica tudo bem. Isso supera um pouco a tristeza de quando perdemos um paciente.
Eu falo que a enfermagem está doente, tem várias pessoas afastadas por problema psicológico, por doença. Às vezes, faltam funcionários e você tem que correr mais para suprir aquela falta, sabe? E tem gente que faz muita hora extra para tentar ajudar a equipe a atender todo mundo".
Dayane acredita que o pagamento do piso trará valorização.
Que a gente tenha um salário melhor, mais digno, porque estamos ali todos os dias. Passamos Natal, Ano Novo, Dias das Mães e dos Pais lá dentro com a família do centro cirúrgico, com a família do hospital, porque nós somos mais uma família. Passamos mais tempo no hospital do que em casa, às vezes dobramos plantões. Que possamos ser valorizados e falar assim: eu estou ganhando o que eu mereço ganhar".
Valores - Valores do piso fixados por lei e emenda constitucional são:
- Enfermeiros – R$ 4.750
- Técnicos de enfermagem – R$ 3.325
- Auxiliares de enfermagem e parteiras – R$ 2.375