Na rua com 25 crianças, moradora lamenta corte de luz: "Necessidade básica"
Terreno é irregular, mas quem perdeu “gatos” pede que os serviços essenciais sejam regularizados
O endereço é irregular, uma invasão da massa falida da construtora Homex, no Jardim Centro-Oeste, mas quem teve a energia cortada hoje em ação de combate a “gatos” pede que os serviços essenciais sejam regularizados pelas concessionárias de energia elétrica e abastecimento de água.
“A rua tem 25 crianças, não tem como ficar sem luz, é uma necessidade básica. A gente não está aqui porque quer, mas porque a gente precisa”, afirma a dona de casa Rosângela Alves Soares, 49 anos. Ela mora na área de invasão há dois anos e oito meses. A moradia é compartilhada com esposo e neto. Enquanto no entorno, residem as filhas, uma delas com quatro crianças. A água que abastece as casas vem do poço.
“A luz oscila muito e já chegou a queimar duas geladeira. Sabemos que é difícil para a empresa, traz prejuízo, mas a gente não está se recusando a pagar”, diz Rosângela. Ela relata que gastou R$ 700 em fios para fazer a ligação irregular.
Esposa do presidente do bairro, Elizangela Madalena Prudêncio, 40 anos, afirma que o local tem 2.448 famílias. Ela também pede para que o fornecimento de água e luz seja feito de forma regular. “Mesmo que a gente não possa ficar aqui, uma área particular. Podemos ir pagando água e luz”, diz.
A dona de casa Adriana Freitas, 33 anos, lamenta a situação das crianças. “Na esquina, tem um bebê de 16 dias. Tem criança que precisa de energia para fazer inalação”.
De acordo com o gerente comercial da Energisa, Ercílio Diniz Flores, são cerca de 80 pontos de ligação clandestina e que o problema se arrasta por mais de dois anos. “Não é uma ação de combate ao furto de energia, mas para preservar a vida. Temos vários princípios de incêndio nessa região. A cada quinze dias, queima de três a quatro transformadores”.
A ação envolve 120 pessoas, com um exército de eletricistas, 70 veículos da Energisa e equipes da PM (Polícia Militar) e do Batalhão de Choque. Antes da invasão, era fornecido um megawatts hora/mês e depois da ocupação, o consumo cresceu para 150 megawatss hora/mês.
Histórico - A área invadida é remanescente do projeto milionário da Homex, que veio a Campo Grande com a promessa de construir três mil casas.
A chegada foi precedida por tensão entre a prefeitura e a Câmara Municipal. O ano era 2010 e um projeto para permitir a vinda do grupo, que anunciou investimento de R$ 200 milhões, foi votado com trâmite acelerado.
As mudanças eram para reduzir o tamanho mínimo do terreno, passando de 360 para 250 metros quadrados e aumento da quantidade de casas por condomínio. Mas, já em 2013, o projeto foi abandonado. E os terrenos da empresa, que receberiam os residenciais, foram invadidos. Imóveis ainda no térreo logo foram ocupados e servem de moradia e comércio, como salão de cabeleireiro e conveniência.
Quem comprou os apartamentos e mora nos imóveis concluídos também enfrentou problemas e ações cobram indenização da Homex e da Caixa Econômica Federal.