“Não acredito”, diz avó sobre versão de acidente que deixou bebê em coma
Garotinho de 1 ano deu entrada em hospital com clavículas quebradas, traumatismo craniano e pulmões perfurados
Dois dias após bebê de 1 ano e 1 mês ser internado na Santa Casa de Campo Grande com as clavículas fraturadas, traumatismo craniano e pulmões perfurados (pneumotórax), a família paterna da criança corre contra o tempo para conseguir legalmente a guarda do menino. Para a avó, uma dona de casa de 58 anos, as versões de acidente doméstico dadas pela mãe e padrasto do bebê, que estão presos, “não colam”.
“Entreguei a vida do meu neto nas mãos de Deus, mas não tem mais condições de deixar ele voltar para a casa dela [ex-nora]. Sei que ela [a mãe] vai me dar muito trabalho, mas estou disposta a enfrentar. Meu neto quase morreu. Quando ela ligou e falou que ele tinha caído, não acreditei. Não acredito nela”, afirmou nesta manhã, em entrevista emocionada ao Campo Grande News.
Enquanto ela cuida do garotinho, que está em coma induzido e respirando por aparelhos, o pai está em busca da documentação necessária para fazer o pedido da guarda. “Estou correndo atrás da guarda do meu filho”, disse à reportagem sobre a impossibilidade de falar com a equipe nesta manhã.
Foi o rapaz, segundo a avó da criança, que, na terça-feira (14), recebeu a notícia de que o filho poderia ter sido vítima de espancamento. “Quando chegamos ao hospital, ela [mãe do bebê] estava abraçada com o rapaz [padrasto]. Começamos a perguntar o que houve, ela começou a chorar, a abracei e disse: ‘vamos orar’. Mas o médico chamou meu filho e perguntou o que ele achava que havia acontecido. Não sabíamos de nada, mas o médico disse: ‘seu filho foi espancando e eu vou chamar a polícia’”, narra a dona de casa.
Histórico de conflito – A avó e o pai do menino já haviam procurado a ajuda da Defensoria Pública e do Conselho Tutelar para mediar o conflito com a mãe da criança. Segundo a dona de casa, faz seis meses que a ex-nora deixou de viver com o filho e, desde então, o pai só conseguiu ver o menino uma única vez. “Chegamos a ficar 40 dias sem notícias do meu neto”.
A avó paterna conta que todos moravam juntos e que a relação dela com a jovem sempre foi conturbada, assim como o relacionamento do ex-casal. As brigas na família beiravam a agressão física. “Tivemos uma vida bem difícil enquanto ela estava com meu filho. Ela me xingava, vinha para cima de mim. Chegou a sair da minha casa, mas engravidou e a acolhi novamente”, descreveu sobre a convivência de dois anos.
A ex-sogra relata que o último conflito colocou fim no relacionamento do filho com a moça. “Depois que ela já tinha ganhado o bebê, brigamos novamente. Ela avançou em mim e aí tirei ela da minha casa de novo”.
Desde então, segundo a avó, a mãe do neto estava morando com rapaz que se tornou padrasto da criança e colocava empecilhos para as visitas. A dona de casa narra que a ex-nora dizia que visitas deveriam ser marcadas com antecedência, mas quando o dia chegava, a mãe “inventava desculpas” para não receber o ex-companheiro e a ex-sogra. “Fomos à Defensoria para pedir na Justiça que pudéssemos visitar meu neto e me orientaram a procurar o Conselho Tutelar, porque eu estava preocupada, sem notícias. Ela ficou brava porque foi chamada lá”.
Embora não tenha certeza sobre o que aconteceu com o bebê, a avó diz confiar no trabalho da polícia. “Só quero justiça”.
A investigação – A DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) investiga o caso. De acordo com o delegado Roberto Morgado, na terça-feira, equipe da especializada foi enviada à Santa Casa depois que médicos comunicaram à emergência policial que, pelo quadro da criança, desconfiavam que o bebê havia sofrido maus-tratos em casa.
Mãe e padrasto deram duas versões sobre o ocorrido e acabaram presos. Primeiro, relataram uma queda da cama. Mas, havendo a suspeita de crime na casa da família, a perícia foi acionada e durante os trabalhos, quando confrontado, o padrasto acabou contando outra história. Ele disse que o casal decidiu mentir para não revelar que havia deixado o bebê sozinho em casa.
O homem afirmou que saiu por volta das 7h para levar a mulher, manicure, na casa de uma cliente, e que demorou um pouco a voltar. Em casa, ele se deparou com o enteado, que havia sido deixado em um sofá, caído no chão. Pegou o garotinho, o acalmou e o colocou no berço. Mais tarde, por volta das 9h, o bebê teria apresentado piora e vomitado. Foi quando ele decidiu contar o ocorrido para a mulher, deu banho na criança, tentou massagem cardíaca e respiração boca a boca e só então levou o menino para unidade de saúde.
O casal responde por abandono de incapaz, com causa de aumento por lesão corporal grave, e fraude processual qualificada (tentativa de atrapalhar a apuração dos fatos). A investigação não descarta, porém, a suspeita de maus-tratos e até de tentativa de homicídio.