Nem obra milionária do PAC tirou a Vila Popular do dramático mapa de inundação
“Já perdi sofá, geladeira, guarda-roupa, colchão”, diz moradora que enfrentou 3 alagamentos em 18 meses
Nem obra milionária do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) Imbirussu-Serradinho conseguiu tirar a Vila Popular, em Campo Grande, do Mapa de Prevenção de Desastres. Seja 2014, 2019, 2021 ou 2023, o bairro sempre é notícia por ter famílias expulsas pela água do Córrrego Imbirussu.
O mais recente capítulo foi na chuva do último dia 4 de janeiro, quando a Capital registrou 159 milímetros em 12 horas, total esperado para cair em 15 dias.
Vizinha há um ano e seis meses do parque linear Imbirussu, Tereza José Pereira, 50 anos, contabiliza três alagamentos. “Já perdi sofá, geladeira, guarda-roupa, colchão. Tem que jogar tudo fora e a gente não sabe nem o que fazer. A água vem muito rápida”, diz.
Os moradores da Avenida Rádio Maia, prolongamento da José Barbosa Rodrigues, usam o corpo para medir a força das águas do córrego Imbirussu. Tem chuva que fica pela cintura, enquanto outras inundações faz a água bater no peito ou, até mesmo, no pescoço.
“Precisam fazer algo por nós, colocar manilha embaixo do viaduto para a água descer”, diz Lúcia Miranda, 58 anos, que há 30 anos vê a água invadir o imóvel.
Na varanda, a arquitetura da necessidade levou a construção de uma mureta, com um pequeno espaço para a passagem das pessoas. Quando vem a inundação, é colocada uma proteção nesse vão. Mas a tentativa de retenção da cheia vai por água acima, literalmente. Neste caso, a inundação passa por cima da mureta.
No passado, ela e o marido corriam para abrir uma comporta que fica num ponto mais abaixo da rua, mas agora a área esta isolada e ela teme a força da enxurrada.
Problema crônico - Em 18 de dezembro de 2014, a inundação expulsou 30 famílias de casa. O drama faz oposição às esperanças registradas em 18 de março de 2008, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veio à Vila Popular para lançar a obra do PAC.
Ao todo, o investimento de R$ 120 milhões resultou em remoção de famílias afetadas pela inundação, além de um parque linear, pensado para que a área verde drenasse a inundação, ligação viária, escola, creche, Cras (Centro de Referência de Assistência Social), centro comunitário, posto de saúde e escola ambiental. A obra foi entregue em 2011.
Conforme o Mapa de Prevenção de Desastres, o quadro é de ocupação urbana sobre a planície de inundação do Córrego Imbirussu. Com casas construídas numa porção mais baixa e plana, na planície de inundação do córrego e com o lençol freático muito raso, gerando frequentes inundações, que colocam em risco 56 pessoas.
As orientações são implantação de sistema de alerta para eventos anômalos, para que os moradores possam ser removidos temporariamente do local com antecedência e monitoramento da APP (Áreas de Proteção Permanente) para que não ocorra o avanço da ocupação.
O Campo Grande News questionou, no dia 27 de fevereiro, a prefeitura de Campo Grande sobre a necessidade de nova obra, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.