No primeiro dia de decreto, comércios abrem normalmente
Ao serem informados que as medidas de restrição começam hoje, comerciantes baixaram as portas
O domingo (13) começou com movimentação considerável em algumas das principais vias comerciais da periferia de Campo Grande, com pessoas aproveitando o tempo livre de dessa manhã para ir às compras e também fazer um rápido passeio. Contudo, a maioria sequer sabia que hoje já vigorava o decreto com mais limitações ao comércio.
Em uma das principais avenidas da região sul da Capital, a Cafezais, o Campo Grande News logo de pronto encontrou três lojas abertas, uma delas de venda de calçados e duas de vestuário. Ambas fecharam após a reportagem passar pelo local e avisá-los.
"Para mim, era só a partir de amanhã que começava esse decreto. Cheguei até ficar em dúvida, mas resolvemos abrir. Ficaram em um disse me disse, abre não abre, que a gente fica confuso e não sabe o que fazer", explica a dona de uma das lojas, que está naquele ponto da avenida Cafezais já faz sete anos.
A mulher, de 42 anos, revelou durante entrevista que é favorável a medidas mais restritivas, mesmo sabendo que elas vão afetar suas finanças. "Todo mundo vai sair endividado dessa pandemia, mas isso é necessário. Eu não perdi ninguém da família, mas vejo outras perdendo pessoas queridas".
A lojista ainda indica acreditar que o grande propagador da doença são as aglomerações em festinhas com adolescentes e jovens adultos que "não param quietos". "Vejo eles comprando roupas aqui e sempre é para sair. Isso deixa a gente vulnerável também, pois acabam trazendo o vírus até a gente", explica.
Por fim, a proprietária do estabelecimento, antes de encerrar o expediente, conta que mesmo reduzindo os lucros, passou a ir buscar roupas em São Paulo (SP) de carro para revender, visando proteger a família. "Os ônibus estão sempre cheios, 40 pessoas. Isso expõe minha família, não compensa. Tenho medo pelos meus filhos e netos".
No momento em que a loja era visitada pela reportagem, seis pessoas estavam no local fazendo compras, sendo três delas de uma família e três de outra. "Domingo é quando tenho folga e aproveitei para comprar roupas de frio para minha filha", diz Simone, de 35 anos e que também trabalha no comércio de Campo Grande.
"Fico em cima do muro sobre esse decreto. Tem o lado bom e o ruim. Não adianta fechar o comércio e continuar muita gente se aglomerando por aí. Quem se cuida acaba pegando de quem não se cuida. Inclusive, aconteceu isso com uma colega de trabalho. Ela teve covid-19, não resistiu e acabou morrendo", conta a cliente.
Pronto para fechar - Do outro lado da rua, o comerciante Renato Argenton, de 64 anos, também abriu seu estabelecimento sem saber que o decreto começaria a vigorar hoje. "Achei que era a partir de amanhã, ainda mais por que vi outros comércios abrindo", destacando ainda que só vai reabrir mesmo após dia 24, quando vence o decreto.
Ele conta que é costume abrir aos domingos de manhã pois é quando lojas mais centrais não abrem e, assim, as pessoas optam por ficar nos bairros mesmo. "Faz 15 minutos que subi as portas, mas então já vou recolher tudo e fechar", lamenta
Há 10 anos naquele ponto, Argenton crê que não é o comércio quem gera aglomerações, exceto nos finais de ano, e ainda reclama de lojas de departamento que podem ficar abertas. "Elas vendem comida e podem abrir, mas também há roupas ali e acabam vendendo também. Quem sai prejudicado nisso é o pequeno comerciante".
Apesar da reclamação, ele confessa preocupação com a pandemia, já que ele tomou as duas doses da vacina, mas seu filho e sua esposa ainda não estão imunizados. "Alguns clientes vão nas aglomerações e podem trazer o vírus até a gente".
Quanto a situação financeira, Renato revela que no ano passado teve que vender um carro para quitar contas que acumularam com a pandemia. "Pensei até em atender em delivery, mas para mim não compensa, é pagar para vender. Então vou ficar fechado até o dia 24 e ver as contas acumulando mesmo", diz o lojista.
Mercados - Diferente dos demais estabelecimentos, os mercados podem abrir nesse novo período de restrições, mas também tendo que obedecer normas e se adequar a algumas proibições. Ainda na Cafezais, é o caso de Thiago Soares Onofre, de 32 anos e proprietário de uma unidade recém inaugurada na via, nessa semana.
"Temos quatro lojas e nossa assessoria jurídica está cuidando disso de perto para sabermos certinho o que podemos ou não fazer. A liberação para vender bebidas alcoólicas trouxe um alívio para a gente, pois o prejuízo não fica tão grande, já que temos um estoque muito grande por causa da recém inauguração", conta.
Contudo, a venda pode ocorrer apenas para bebidas in natura, ficando vedado a comercialização das que estão geladas e prontas para o consumo imediato. "Lacramos com fitas todos os freezers com bebidas alcoólicas e também temos que deixar fechado um contêiner com R$ 30 mil em cerveja gelada, se não pode chocar".
Além disso, Thiago conta que ontem mesmo fez uma grande oferta de cervejas, vendidas a preço de custo. "Foi um festival da cerveja que fizemos, para conseguir liberar o nosso estoque que era grande e iriamos levar prejuízo", finaliza.
Em outro local da cidade, no bairro Ramez Tebet, na rua Martinez, o movimento era baixo e haviam dois mercados abertos, onde os funcionários sequer sabiam da validade já a partir de hoje do novo decreto. Uma conveniência, classe proibida de funcionar, também estava aberta. A pessoa que fazia o atendimento não quis falar com a reportagem.
Covid-19 - Mato Grosso do Sul registrou a morte de mais 38 pessoas por covid-19 apenas nas últimas 24 horas, conforme o boletim da covid-19 divulgado à pouco pela SES (Secretaria de Estado de Saúde). Além disso, 42 cidades do Estado entram hoje em bandeira cinza do Prosseguir, tendo que seguir regras mais rígidas.
Pelas próximas duas semanas, atividades não consideradas essenciais, como shoppings, bares e restaurantes, estão proibidas de oferecer atendimento ao público, em Campo Grande e outras 42 cidades do Estado. Assim, apenas 51 serviços podem funcionar. A medida, determinada pelo Governo do Estado, busca frear os números relacionados à covid-19
A princípio, a série de restrições, entre elas, o toque de recolher começando às 20h, estava prevista o para começar na última sexta-feira (11), mas 48h foram cedidas aos municípios para que cada um se programasse.
A lista de atividades permitidas traz mudanças de última hora, como no critério para vendas de bebidas alcoólicas. Antes proibidos de comercializar este tipo de produto, os supermercados foram autorizados a vender presencialmente cervejas, vinhos, entre outras bebidas, em temperatura ambiente.
Com isso, fica proibida a comercialização dos itens nas geladeiras e/ou freezeres. Outra mudança recente envolve o atendimento em lanchonetes. Até ontem (12), clientes estavam autorizados a comprar e consumir produtos no local.
Agora, esses estabelecimentos devem apenas funcionar no sistema delivery ou drive-thru. Lojas de materiais de construção podem abrir para atendimento ao público. Porém, as regras de biossegurança estabelecidas ao setor devem ser colocadas em prática. A lista completa pode ser conferida logo abaixo: