No velório de universitários, a dor se mistura à busca por uma explicação
Ninguém parece acreditar no que aconteceu. E não poderia ser diferente. A morte dos estudantes Breno Luigi Silvestrini de Araújo, de 18 anos, e Leonardo Batista Fernandes, 19 anos, chocou familiares, amigos e desconhecidos, que se despediram dos rapazes na manhã deste sábado (1).
No velório dos estudantes - mortos após serem sequestrados na saída de um bar - uma multidão ainda tentava acreditar no que aconteceu. No olhar de cada parente, de cada amigo, um misto de revolta e dor.
O Parque das Primaveras ficou lotado. Na capela, os caixões dos universitários, amigos de infância, foram posicionados lado a lado. Era intensa a movimentação para dar o último adeus a Breno e Leonardo.
Quem foi ao velório buscava e tentava distribuir conforto. E o alento chegava a todo o momento, em um novo abraço, uma nova lágrima que rolava, nas palavras de carinho ou nas canções que entoavam.
“E ainda se vier, noite traiçoeira, se a cruz pesada for Cristo estará contigo. O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo”, dizia uma das músicas.
O primeiro a ser enterrado, às 9h30, foi Breno, que cursava engenharia civil. O sepultamento de Leonardo aconteceu às 11h. Ele era estudante de direito no Rio Grande do Sul e estava em Campo Grande porque a universidade está em greve.
"Breno era bem na dele, bem tranquilo. Ele era mais quieto", disse um rapaz que preferiu não se identificar. "A irmã dele sempre me dizia que eu era igual a ele, mas japonês. Parecíamos na personalidade e também fisicamente", disse Vinícius Ueta, 19 anos.
Visivelmente abalado, Jorge Fernando, tio de Leonardo, diz que “a ficha ainda não caiu”. “Sem Palavras. É violento demais, uma coisa absurda. Ainda estamos passados”, disse, consternado.
Segundo os amigos mais próximos, o rapaz “era tranquilo”. Gostava de poesia e frequentava aulas de Jiu Jitsu. Sthefanie Carretoni, de 19 anos, tem boas lembranças do amigo que “fazia todo mundo rir”.
O crime que chocou pela brutalidade também chamou a atenção pelas circunstâncias em que aconteceu. “É um absurdo porque não foi de madrugada, foi às 20h30, em um lugar movimentado”, afirmou. “São duas vidas em vão”, completou.
Camila Zequini, de 18 anos, que mora perto do bar 21, também questiona a situação que considera absurda. “Eu passo ali todos os dias”, relatou. Para Márcio Moura, de 28 anos, o que falta é policiamento, especialmente nas fronteiras, onde os criminosos sabem da facilidade em traficar.
Ele acredita que os bandidos mataram para roubar o carro em que os universitários estavam, uma Pajero, que foi abandonada em Corumbá.
Eduardo Maluf, de 19 anos, cobra mais segurança. “Tem que ter policiamento em bar, em tudo”, destacou. Ele acredita que os estudantes não reagiram porque ficaram sem reação.