Nos pontos de ônibus, usuários são pegos de surpresa, esperando pelo que não vem
No Bairro Aero Rancho, usuários do transporte se dividiram entre compreensão e aborrecimento com situação
A paralisação dos motoristas do transporte coletivo, feita sem aviso prévio, pegou usuário de surpresa e, nas ruas, a população se dividia entre o aborrecimento para se virar e chegar ao trabalho e a compreensão da situação dos trabalhadores do setor.
Na Avenida Raquel de Queiroz, no Bairro Aero Rancho, ainda tinha gente desavisada nos pontos de ônibus, à espera do que não virá. Uma delas era a cabeleireira e diarista Shirley de Souza, 57 anos, que estava indo ao Monte Líbano, em dia de fazer diária.
Normalmente, pega ônibus para o Terminal Aero Rancho às 6h30, mas já estava há 10 minutos no ponto. “Eu escutei uma conversa [paralisação], mas achei que fosse na sexta-feira, tinha entendido isso”, disse Shirley.
Shirley estava na dúvida de chamar mototáxi, receosa do valor que deve pagar. “Vai dar uns R$ 20, gasto que nem podia fazer”, calculou. “Eles não deveriam parar sem avisar”, reclamou.
Antes de ser avisado pela vizinha, o servente de pedreiro Fábio Junior da Silva, 36 anos, ficou bons minutos no ponto de ônibus. “Acordei 5h, fiquei até 5h30 esperando, achei estranho, porque não passava”, contou.
Funcionário da obra no Parque dos Poderes, nem cogitou pegar carro de aplicativo por conta do gasto. “Se eu pegar, a minha diária vai embora, daqui até lá deve dar uns R$ 45, minha diária é R$ 80”, disse. “Lá é longe com força”, contou.
A solução encontrada era esperar a carona do chefe. Apesar do transtorno, Fábio entendeu a situação. “Se for para melhoria deles, fazer o quê? É uma reivindicação deles. Mas deveriam ter avisado os trabalhadores”.
A auxiliar de limpeza Karla Bernal, 38 anos, descobriu cedo que não teria ônibus, mas não acreditou no aviso do primo. Foi para o ponto esperar pelo ônibus que passava às 6h20 e, como não aconteceu nada, mandou mensagem para o motorista e teve a paralisação confirmada.
Karla voltou para casa e avisou o chefe que não teria como ir. Se fosse pegar carro de aplicativo, calcula que gastaria uns R$ 30. Aguardava na esquina pela carona da empresa, que se prontificou a buscá-la.
“Acho falta de respeito para população, não da parte dos motoristas, e sim, do consórcio.
Ficam falando que não tem dinheiro, mas onde que estão investindo este dinheiro? Para melhoria que não é”, disparou, listando os problemas que costuma encontrar: terminais sem bebedouro, ônibus lotados, sem ar condicionado. “Passagem é cara e quem paga é a população, muito difícil”.
A paralisação foi decidida pela categoria depois que o Consórcio Guaicurus não depositou ontem o vale que representa 40% do salário. Em ofício encaminhado à prefeitura, o consórcio informou que enfrentava o “esgotamento dos recursos financeiros”, impedindo a quitação de compromissos, como salário dos trabalhadores e pagamento dos fornecedores.
Em contato com a reportagem, Consórcio Guaicurus e a Prefeitura de Campo Grande informaram que podem ir à Justiça contra a greve dos motoristas, considerada ilegal e intempestiva, já que não respeitou o prazo de aviso mínimo de 48 horas. A expectativa principal é reunião entre as partes.