Operação prende dono e fecha "pior ferro-velho de Campo Grande"
O ferro-velho da Rua Jatobá, bairro Guanandi, considerado o mais problemático de Campo Grande, foi interditado na manhã desta quarta-feira (2) e o proprietário do local, José Ferreira da Silva, foi preso em flagrante por crime de poluição ambiental, furto de energia e de água.
Ele foi levado para a Decat (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e de Proteção ao Turista), onde ficará preso. O delegado Wilton Vilas Boas explicou que Silva também vai responder por colocar a vida de terceiros em risco. "Ele furtava energia e os fios passavam pela rua. Se uma pessoa pisasse ali poderia até sofrer uma descarga elétrica e vir a óbito".
O trabalho de retirada dos materiais do terreno deve durar uma semana, de acordo com a previsão inicial da CCEV (Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais) - ligada a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).
A interdição foi realizada pela Vigilância Sanitária Municipal, e teve o apoio da Decat, Exército, Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e Conselho Tutelar. No local, equipes da Energisa e da Águas Guariroba também trabalhavam para retirar ligações clandestinas de abastecimento de energia elétrica e água.
O coordenador da CCEV, Alcides Ferreira, confirmou que o depósito - conhecido como "ferro-velho do Zé" -, atualmente, é o maior problema para as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti - que transmite dengue, zika e chikungunya. "Este é o pior lugar em termos de focos do mosquito no bairro Guanandi. Acredito que é o maior da cidade toda. Os mosquitos que se proliferam aqui infestam uma área enorme e por isso os casos de dengue e zika são inúmeros na região".
Vizinhos do ferro-velho, Johny Mikolet, 30 anos e Joseane Oliveira, 29 anos, moram no local há seis meses e já pegaram dengue e zika este ano. O filho deles, Enzo Gabriel, de apenas 4 meses, também teve dengue e só melhorou há uma semana. "Nosso filho quase morreu. Ele ficou muito mal. Precisamos procurar atendimento no hospital particular porque no posto demorou demais para ele ser atendido. Ficou todo o meu salário para pagar o médico", disse o pai do bebê.
O casal veio de Anastácio, a 130 quilômetros de Campo Grande, quando Joseane estava grávida e na pressa de arrumar um lugar para morar, acabaram ficando vizinhos do ferro-velho. "Nos arrependemos demais, tem muito mosquito, chega a formar nuvem. Além de escorpião e rato, que é até maior do que o gato, parece um gambá de tão grande, e outros bichos", afirmou Mikolet.
Agora, por conta da interdição do ferro-velho, o casal que já procurava outra casa para morar decidiu que vai esperar. "Se forem limpar tudo mesmo e resolver o problema a gente fica, mas senão vamos embora. Meu marido e meu filho tiveram dengue e eu zika. Como já tive dengue antes percebi que os sintomas são mais leves, mas fiquei preocupada por causa do bebê", disse Joseane.
Problema - O Campo Grande News mostrou o problema do "ferro-velho do Zé", em uma reportagem publicada no dia 27 de janeiro. Na época moradores do bairro Guanandi também reclamaram do local e dos demais ferros-velhos da região.
Mas o coordenador da CCEV afirma que todos os locais são monitorados e com a interdição de hoje (2) o trabalho de combate aos criadouros do Aedes será intensificado. "Nos outros ferros-velhos do bairro existe entrada e saída, transição dos materiais, e os demais cuidam, tiram a água acumulada, fazem a cobertura dos artigos. Aqui (ferro-velho do Zé) não era feito nada disso, o problema é antigo, são mais de 14 anos. Foram feitas várias notificações, além dos processos em tramite na Justiça", explicou Ferreira.
Para os agentes de controle de vetores a interdição do ferro-velho vai contribuir muito no combate à dengue no bairro. "O caso aqui é bem conhecido por todos. Os agentes não conseguiam nem entrar. Agora vai ser um grande alívio", disse a supervisora de controle de vetores, Marina Antunes.
Os vizinhos do ferro-velho afirmaram que uma famílía vivia nos fundos do terreno usado como depósito. "Era o pai, mãe e três crianças. Eles viviam no meio da sujeira e todos já tiveram dengue este ano", disse Mikolet.
A Sesau informou que a família foi retirada do local, mas não revelou para onde foram levados.
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