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Capital

Ordem para chacinas na região norte saiu de Penitenciária Federal de MS

Investigação da PF mostra que líder de facção amazonense organiza assassinato de desafetos em Campo Grande desde início de 2016, por meio de visitas, apesar de estar em regime diferenciado

Rafael Ribeiro | 09/01/2017 09:37
Mentor da chacina, Zé Roberto da Compensa (foto) transmite ordens mesmo no RDD em Campo Grande (Foto: Divulgação/Polícia Civil do Amazonas)
Mentor da chacina, Zé Roberto da Compensa (foto) transmite ordens mesmo no RDD em Campo Grande (Foto: Divulgação/Polícia Civil do Amazonas)
Investigação sobre visitas de líderes da FDN atrasa transferências de mais líderes para presídio federal de MS (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)
Investigação sobre visitas de líderes da FDN atrasa transferências de mais líderes para presídio federal de MS (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)

O massacre em presídios de Amazonas e Roraima, onde ao menos 100 detentos foram mortos até agora desde o início do ano, foi pensado, planejado e organizado em Campo Grande, mais precisamente de dentro da Penitenciária Federal.

Relatório preliminar do Ministério da Justiça e Cidadania, revelado domingo (8) pela TV Globo, aponta que há pelo menos três meses o principal líder da facção criminosa Família do Norte (FDN), José Roberto Fernandes Barbosa, 44 anos, deu a ordem das execuções de dentro do presídio, por meio da visita de familiares e advogados.

A Polícia Federal, no entanto, vai além. Investigação do órgão mostra que a prática é recorrente desde que Barbosa, conhecido como ‘Zé Roberto da Compensa’, foi transferido para o presídio sul-mato-grossense, no final de 2015.

“Apesar do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), ele conseguia comunicação (com Manaus (AM) através das visitas e advogados”, explica nota do órgão na capital amazonense.

Em março de 2016, o Ministério Público do Amazonas descobriu que Barbosa ordenou, de Campo Grande, a morte de pelo menos 11 ex-aliados que teriam entrado no programa de delação premiada da Operação La Muralla, que prendeu 17 líderes da FDN.


Apenas um desses assassinatos foi consumado e a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Amazonas) reconheceu ao Tribunal Regional Federal amazonense que a principal linha de investigação era a de que a ordem partiu de dentro do Presídio Federal de Campo Grande.


“As restrições impostas no sistema penitenciário federal são bem rígidas, mas nem sempre suficientes para reprimir a continuidade de práticas criminosas dentro do cárcere”, disse o desembargador Maurício Kato, em decisão de agosto de 2016 que manteve Barbosa no RDD.


Pelo menos três acusados foram presos pela Polícia Civil do Amazonas ao longo do ano passado acusados de passarem informações de Campo Grande para os presídios de Manaus. Um deles, Erik Leal Simões, ficou detido em Mato Grosso do Sul por quatro meses e ganhou na Justiça o direito ao regime semi-aberto no estado natal.

Apesar do isolamento no RDD, Barbosa tem direito constitucional de uma visita por semana. Ela pode ocorrer presencialmente ou por vídeo-conferência, em data fixa e duração não informados. Outros quatro integrantes do bando amazonense também estão na penitenciária federal.

Mudança de foco – A informação da passagem de informações de dentro da Penitenciária Federal atrasa a decisão de transferência imediata de pelo menos dois dos 17 líderes da chacina amazonense identificados para a cadeia sul-mato-grossense, segundo apurou o Campo Grande News.

A Polícia Civil amazonense, por exemplo, investigará o nome de quatro pessoas, dois parentes e dois advogados de Barbosa, que o visitaram entre outubro e novembro. E quer a saída dos sub-líderes e autores das mortes já identificados somente após a conclusão do inquérito sobre a chacina.

A guerra entre as facções criminosas teria explodido em setembro do ano passado, depois de um “comunicado” que uma das quadrilhas emitiu o “Salve Geral do PCC”, decretando o fim da aliança com Comando Vermelho.

O texto foi escrito a mão, na Penitenciária de Presidente Venceslau, em São Paulo, onde fica a cúpula do PCC. Possivelmente foi transportada por algum advogado ou visitante e enviado às prisões brasileiras dominadas pela facção. O “salve” se espalhou.

Em decisão também tomada em Campo Grande, a FDN decidiu se aliar ao Comando após ter armas e pontos de passagem de cocaína na fronteira com a Colômbia tomados pelo PCC. Quase todos os mortos em Amazonas e Roraima são integrantes da facção paulista.


A Polícia Federal não descarta que a aliança entre amazonenses e cariocas possa ter sido fortalecida pelo fato de Barbosa cumprir pena em Campo Grande ao lado de nomes conhecidos do Comando, como Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar. Familiares e advogados dos cariocas colaborariam com os nortistas em questões como aluguel de casas, transporte e comida em Mato Grosso do Sul.


Apesar do Estado não ter registrado conflitos violentos até aqui, há o medo de que a guerra de facções exploda nos presídios estaduais locais desde a última semana, quando um drone com armas foi lançado sobre a penitenciária de Dourados (a 233 km de Campo Grande) com facas e drogas.

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