Palavras de Wesner à beira da morte levam MP a acusar dupla de homicídio
Pouco antes de morrer, "na agonia", segundo o procurador-geral, Wesner disse que agressão não foi brincadeira
Para o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Thiago Giovanni Demarco Sena, 20 anos, e Willian Henrique Larrea, 30, devem ser julgados por homicídio doloso (quando há a intenção de matar) contra Wesner da Silva de Oliveira, 17. A dupla usou uma mangueira de alta pressão para injetar ar no adolescente, que perdeu parte do intestino e morreu com hemorragia interna grave 11 dias depois de ser internado na Santa Casa.
Um depoimento dado por Wesner no leito de morte foi determinante para que o procurador-geral Paulo Cezar dos Passos tomasse a decisão. Tanto a polícia, quando promotores e juízes ainda tinham dúvidas sobre se o caso deveria ser tratado como lesão corporal seguida de morte ou como homicídio.
O parecer do chefe do MPMS foi encaminhado ao Judiciário nesta sexta-feira (17), 44 dias depois do ocorrido. Em entrevista coletiva dada a imprensa no fim da tarde de hoje, Passos fez questão de ressalta ainda que tomou a decisão com base na provas materiais já juntadas no processo.
O procurador lembrou ainda que, pouco antes de morrer, Wesner disse que não foi vítima de uma brincadeira de mal gosto, como era tratado o ocorrido pelos agressores e pela própria vítima num primeiro depoimento.
“Levei em conta depoimento da vítima no leito de morte, na agonia, algo que não vai poder ser dito novamente, um momento que não pode ser repetido. A vítima disse que não era uma brincadeira”, destacou.
Para o chefe do MPMS, o crime é de homicídio doloso, porque Thiago e Willian assumiram o risco de matar o adolescente quando o seguraram e usaram a mangueira contra ele. “Pela Constituição, é um crime doloso contra vida e deve ser julgado pelo Tribunal do Júri.
A partir de agora, a promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani, da 18ª Promotoria de Justiça, assume a acusação. O processo fica tramitando na 1ª Vara do Tribunal do Júri, sob o comando do juiz Carlos Alberto Garcete.
Impasse - A falta de consenso sobre a natureza do crime que resultou na morte do adolescente fez com que o Justiça negasse pelo segundo dia seguido a prisão da dupla.
Thiago e Willian tiveram pedidos de prisão encaminhados à Justiça. Porém, no dia 16 de fevereiro, o juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal de Campo Grande, declinou do caso e o encaminhou para outra vara.
O motivo foi o entendimento dele de que caso se trata de um homicídio doloso, ao invés de uma lesão corporal grave que resultou em morte posterior. Assim, o caso parou nas mãos de Carlos Alberto Garcete, que negou a prisão dos envolvidos no dia 17 do mês passado.
O caso foi encaminhado ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), que determinou que o MPMS decidisse sobre como prosseguiria com a acusação.
Crime – Quem fez a denúncia contra a Thiago e Willian foi o primo da vítima, de 28 anos, no dia 3 de fevereiro, mesmo dia do crime. No relato à delegacia, o rapaz disse que o adolescente “brincava com os colegas de trabalho”, quando um dos homens o agarrou e o dono do estabelecimento inseriu a mangueira de ar comprimido no ânus do garoto.
Wesner teve hemorragia grave e uma parada cardiorrespiratória na Santa Casa no dia 14 de fevereiro. Segundo a assessoria de imprensa do hospital onde o adolescente de 17 anos estava internado há 11 dias, ele morreu às 13h35 depois que médicos tentaram reanimá-lo por 45 minutos.