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Capital

Peça-chave na Omertà, hacker muda versão e diz que assinou depoimento sem ler

Ele negou que tivesse conhecimento do plano para executar o pai de Matheus Coutinho Xavier, que acabou morrendo por engano

Marta Ferreira | 23/06/2020 15:30
Advogado Alex Viana de Mello (no alto), Eurico (esquerda) e juiz Aluizio Pereira dos Santos, durante audência. (Foto: Reprodução)
Advogado Alex Viana de Mello (no alto), Eurico (esquerda) e juiz Aluizio Pereira dos Santos, durante audência. (Foto: Reprodução)

Apontado como peça fundamental na investigação sobre a execução de Mateus Coutinho Xavier, de 20 anos, morto por engano em 9 de abril do ano passado, Eurico dos Santos Mota, 28 anos, contradisse nesta terça-feira (18) o depoimento que deu à Polícia Civil sobre o caso. O relato é uma das provas usadas pela acusação contra 5 réus, indicados como integrantes de organização criminosa alvo da operação Omertà

Em audiência realizada por vídeo, Eurico disse ao juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, onde corre o processo, que assinou “sem ler” o relato aos policiais, feito no dia seguinte à prisão, ocorrida em 21 de novembro do ano, passado, em Joinville (SC). Disse, ainda, ter se sentido "coagido".

Solto desde 29 de maio, o rapaz negou ao magistrado que tivesse conhecimento do plano para executar o pai de Matheus Coutinho Xavier, o capitão reformado da Polícia Militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, que acabou vitimando, por erro dos executores, o filho dele, o estudante de Direto Matheus.

Essa informação consta do inquérito concluído pela força-tarefa da Polícia Civil responsável pelas apurações. Está, também, na denúncia apresentada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), contra 5 envolvidos no plano de execução.

Segundo a acusação, Eurico foi contratado para rastrear e repassar informações sobre a rotina de Paulo Xavier à milícia armada alvo da operação. Os contatos dele, segundo apurado, foram os pistoleiros José Moreira Freires, o Zezinho, e Juanil Miranda Lima, ambos foragidos.

Indagado pelo magistrado, o réu negou a informação de que sua tarefa no esquema foi levantar “em tempo real” a localização de Paulo Roberto Xavier. Foi Eurico, conforme o inquérito, quem apontou os nomes de Juanil e Zezinho à força-tarefa.

Eurico também rejeitou a ideia de ter feito, mesmo que de forma terceirizada, como apontado na peça processual acusatória, a terceirização do serviço para um hacker.

Ele negou para o juiz. Disse que estava desempregado, que foi contratado apenas para fazer uma pesquisa sobre uma pessoa que estaria desaparecida por dar calote de R$ 1,5 milhão na venda de fazenda. Essa pessoa, disse, seria um “corretor de seguros.

“Não falou em nenhum momento de matar ninguém”, afirmou, sobre Juanil, a quem disse ter visto umas “3 vezes”. Afirmou, ainda, ter conhecido o ex-guarda civil metropolitano de Campo Grande apenas por morar na casa da ex-mulher dele, onde  foi localizado primeiro em abril do ano passado, dias depois da morte de Mateus.

Ele prestou depoimento e foi liberado porque naquele dia porque não havia ainda acusação formal, mas acabou fugindo. Eurico disse que foi colocado em um ônibus pela equipe policial, que o mandou ir embora do Estado para não correr risco de morrer.

Temor - Eurico dos Santos Mota encerrou o depoimento dizendo estar com “muito medo”. Na audiência, se negou a responder perguntas de advogados de outros réus e também do promotor responsável, Douglas Oldegardo dos Santos. Só dialogou com o advogado de defesa, Alex Viana de Mello, e com o juiz.

A sessão de hoje começou cedo e dura o dia todo, para ouvir os acusados. Depois, vêm as alegações finais das partes e o juiz decide se leva os denunciados a júri. Essa é uma das ações derivadas da Omertà que está em fase mais adiantada.

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