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Capital

Polícia diz que provas mudaram 'Caso Mayara" de feminicídio para latrocínio

Investigação segue em curso e será concluída até a próxima sexta-feira (04), segundo a polícia

Luana Rodrigues | 31/07/2017 13:52
Na sequência, Anderson, Luis Alberto e Ronaldo,
presos pelo crime. (Foto: Marcos Ermínio)
Na sequência, Anderson, Luis Alberto e Ronaldo, presos pelo crime. (Foto: Marcos Ermínio)

Diante da polêmica criada em torno do caso, Polícia Civil de Mato Grosso do Sul divulgou nota no fim da manhã desta segunda-feira (31), esclarecendo que, num primeiro momento, chegou a considerar a possibilidade de feminicídio na investigação sobre a morte de Mayara Amaral, 27 anos, ocorrida na semana passada, em Campo Grande. Segundo a polícia, conforme o crime foi sendo desvendado, as investigações e "provas reais" apontaram para latrocínio - roubo seguido de morte e ocultaçaõ de cadáver. Estão presos pelos crimes Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, Ronaldo da Silva Olmedo, e Anderson Sanches Pereira, 31 anos. A polícia investiga, ainda, se houve estupro da vítima.

Segundo texto divulgado no site da PC, desde as primeiras diligências realizadas com o objetivo de esclarecer o achado do cadáver - quando o corpo de Mayara foi encontrado parcialmente queimado e om sinais de agressão - todas as linhas de investigação foram consideradas pela autoridade policial. O auto de prisão entregue à justiça informa que o registro inicial, quando o corpo foi achado, foi de homicídio qualificado. O feminicídio é uma qualificadora dos casos de homicídio, que torna o crime hediondo.

"Em nenhum momento, o feminicídio foi descartado como uma das linhas de investigação. O trabalho policial neste momento depende do resultado de diligências e perícias, que começaram a ser produzidas já na prisão em flagrante", esclarece a polícia.

De acordo com o texto, o enquadramento em latrocínio só se fundamentou após a prisão em flagrante dos suspeitos. "Não houve nenhum preconceito ou relutância da Polícia Civil em registrar o crime como feminicídio, atuando de forma imparcial e livre de preconceitos de gênero", garante a polícia.

A direção da polícia alega ainda que esta tipificação, de latrocínio, consta no rol dos crimes hediondos e tem como proteção não só o patrimônio, mas a vida: "O crime foi tipificado na ocasião da prisão em flagrante dos autores em que os fatos investigados se ajustam como latrocínio, roubo seguido de morte, cuja pena mínima é de 20 anos de reclusão e a pena máxima, 30 anos de reclusão, e se mantém até o momento".

A nota esclarece também que os investigadores chegaram até a esta tipificação por meio da confissão de um dos autores "de que o delito foi planejado visando o roubo dos bens e o fato de os bens da vítima terem sido encontrados pela Polícia já partilhados entre os indiciados".

Ainda segundo o texto, as investigações prosseguem perante a Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos e Veículos), mas foi a celeridade dos agentes que permitiu a prisão em flagrante dos autores, convertida pela Justiça como preventiva.

"A Polícia Civil jamais deixará de cumprir sua missão, de apurar com rigor todos os fatos, principalmente nos crimes contra a vida, garantindo a aplicação da justiça, bem como os direitos e garantias fundamentais dos investigados, sendo certo que, para tanto, conta a instituição com autoridades policiais e agentes capacitados e preparados para condução e finalização dessa investigação", reforça a nota.

Conforme a nota, a investigação segue em curso e será concluída até a próxima sexta-feira (04), quando o inquérito será encaminhado para a Justiça.

Investigação - Conforme o auto de prisão em flagrante dos três envolvidos, o crime começou a ser desvendado, quando a mãe de Mayara procurou a polícia na madrugada do dia 26, informando o desaparecimento da filha. Ela estranhou o fato de a jovem não ir almoçar na casa dela, como de costume diário.

Pouco antes da zero hora, ela registrou um boletim de ocorrência informando que a musicista havia recebido ameaças, em razão de uma mensagem enviada do celular da vítima. A mensagem vinda do telefone de Mayara para o da mãe dizia: “Você está onde agora? Ele é louco, mãe. Está me perseguindo. Estava na casa dele e brigamos feio”.

A essa hora, o corpo parcialmente carbonizado de uma mulher jovem já havia sido achado, e estava sem identificação. Os policiais fizeram buscas por boletins de desaparecimento e foram informados, por volta das 2h do dia 26, que a mãe havia procurado a polícia.

Diante da informação sobre as mensagens, os policiais, então, chegaram até o suposto autor dos textos, mas a participação dele foi descartada. As mensagens foram uma tentativa de incriminar Fábio Henrique Benevidez Gonzales, tatuador com quem Mayara já havia se relacionado. Ele chegou a ser tratado como suspeito, o que foi rapidamente descartado.

No depoimento aos policiais, Fábio comentou que Mayara estava saindo com um músico chamado Luís. Simultaneamente, os policiais foram à casa do ex-marido de Mayara, Pieter, buscar informações. Apesar de estar sem contato com Mayara há alguns meses, foi ele, segundo o auto de prisão, quem forneceu a senha que garantiu o acesso ao rastreador on-line do aparelho celular.

Trajeto - Na sequência, os investigadores procuraram uma das amigas que moravam com Mayara. Ela também comentou sobre Luis. Pelo notebook dela, os investigadores conseguiram descobrir que o telefone indicava que a vítima havia saído de casa às 18h28, seguido para rua Andiroba, 97, no bairro Coophatralho, e depois, às 21h34, deixado o local e seguido para a rua Santo Inácio, onde não chegou a parar.

De lá, o trajeto do aparelho indica a entrada no Motel Gruta do Amor, na avenida Euler de Azevedo. O rastreador só indicou movimentação às 10h do dia seguinte, quando houve a saída do motel em direção à casa de Luis. Para por aí, às 10h06, o monitoramento do aparelho, mas a linha de investigação já apontava para os três presos.

Os investigadores foram até o endereço indicado pelo rastreador e lá encontraram Luís. No local, na casa dele, Luis, segundo a polícia, admitiu ter estado com Mayara, mas negou ter ficado com carro dela. Ele foi confrontado pelo irmão, que disse que o veículo ficou com ele sim. O rapaz ainda voltou a tentar incriminar Fábio, mas acabou se contradizendo. No quarto dele, foram localizados vários objetos da jovem como dois violões, roupas, calçado e cartões, além de uma sacola plástica com o martelo usado no crime, e uma pá de ponta jogada no quintal.

Devido às provas encontradas ali, Luís acabou confessando o crime. O relato dele é de que no dia 24 marcou encontro com Mayara no motel, por volta das 22h.

Na versão de Luis, para não ser visto, Ronaldo se escondeu no banco de trás do veículo. Lá, ocorreu o crime. Ainda segundo o que foi relato à polícia, para ir embora, os dois homens colocaram o corpo de Mayara no porta-malas. Como o quarto ficou cheio de sangue, Ronaldo deixou o documento de identidade da vítima como garantia de pagamento adicional para a limpeza. 

A Polícia Civil tem imagens tanto do motel quanto de um local por onde o trio passou no trajeto entre o assassinato e o abandono do cadáver na região do Inferninho.

Alziro e Ilda descartam que Mayara foi vítima de um feminicídio (Foto: Marcos Ermínio)
Alziro e Ilda descartam que Mayara foi vítima de um feminicídio (Foto: Marcos Ermínio)

Visão da família - Em entrevista ao Campo Granda News neste domingo (30), os pais de Mayara afirmaram que concordam com a tipificação estipulada atá agora pela polícia para o crime.

"Mataram minha filha para roubar um carro”, definiu a mãe, que aceitou conversar com a reportagem no primeiro fim de semana sem a filha e revelou a suspeita mais forte dentro de casa: a de que os três homens presos por matar Mayara, entre eles um músico com quem a vítima se relacionava há poucos meses, queriam, na verdade, roubar um veículo Duster modelo 2013 da família.

Toda a repercussão e informações têm causado mal estar e sofrimento para a família, que tenta aprender a lidar com a dor da perda diariamente. “Nós nunca condenamos a polícia, pelo contrário, nós elogiamos o que eles fizeram, reconhecendo o corpo e prendendo os culpados com rapidez. Queremos destacar isso para deixar a memória da minha irmã em paz". Sobre a violência sexual, Gisele adota cautela. "Prefiro esperar os laudos para falar sobre o estupro, mas eu não descarto, eles são monstruosos".

"Eu choro pela polícia ao ver as matérias que estão saindo sobre o trabalho deles. São eles que vão salvar outras Mayaras. Essa bandeira do feminicídio tomou uma proporção que não temos mais como impedir. Nós respeitamos a luta, mas não queremos que a história da Mayara vá por esse lado".

- Matéria editada às 14h27, de 01/08/2017, para correção de informações

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