Especialista da USP avalia que morte de Mayara foi feminicídio
Para ela, além da pena rígida, o reconhecimento da violência de gênero é importante
Durante evento em Campo Grande nesta sexta-feira (27), a especialista da USP (Universidade de São Paulo) em enfrentamento à violência contra a mulher, Vânia Pasinato, avaliou que o assassinato da musicista Mayara Amaral, 27 anos, que está sendo conduzido pela polícia como latrocínio, deveria ser tratado como um caso de feminicídio, crime que tem como base a violência de gênero.
"Todos os elementos apontam para um caso de feminicídio, sendo que o latrocínio surgiu como forma de acobertar a real motivação do crime", disse Pasinato, durante evento voltado ao debate sobre políticas de enfrentamento a violência contra a mulher, realizado na Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande.
Vânia é pós-doutorada em Soliciologia pelo núcleo de gênero da USP (Universidade de São Paulo) e participou de evento nesta manhã na Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande.
Ela citou que entre os elementos que mostram um caso de feminicídio está o relacionamento da vítima, com um dos acusados, Luís Alberto Bastos Barros, 29, assim como o encontro em um motel, sob pretexto de um encontro amoroso, considerando as informações divulgadas até agora.
"Estes aspectos mostram que não se trata de um latrocínio, as pessoas envolvidas não estavam interessadas em roubar e sim praticar a violência de gênero. Se fosse [latrocínio] não precisava de tanta premeditação e nem atrair a vítima para um motel", pontuou.
A especialista ainda citou que independente do tamanho da pena, é importante que a investigação mostre a verdadeira motivação e o tipo de crime. "Toda minha experiência nesta área me leva a crer que o caso da Mayara foi feminicídio e não latrocínio".
A tipificação como feminicídio está sendo cobrada pelos movimentos feministas e de defesa dos diretos das mulheres, com argumentos semelhantes aos utilizados pela especialista. Um dos argumentos usados para defender que houve violência sexual, e também de gênero, é o fato de os assassinos terem tentado queimar o corpo, encarado como uma forma de dificuldar a investigação dos crime, entre eles estupro.
No próximo dia 4, um protesto está marcado contra os crimes de gênero, em memória a Mayara.
Investigação - O delegado que estava responsável pelo caso até ontem, Tiago Macedo, explica que o que foi dito até agora e a tipificação do crime, são fruto de uma investigação baseada não só nos depoimentos dos suspeitos, mas em outras provas, que ele prefere não revelar, segundo ele para para preservar a vítima.
Ele no entanto alega que pode mudar. “Aquela tipificação do crime foi sustentada em elementos que estão dentro do inquérito, que nós dispomos até o momento. Pode mudar? Sim", explicou. Ainda disse que o crime não se caracteriza como feminicídio, porque este é quando a motivação está relacionada ao gênero sexual, e quando o crime é um homicídio.
“Neste caso, ao que tudo indica até o momento, não houve homicídio. O que aconteceu ali é que o autor, verificando a possibilidade de cometer um roubo, atraiu a vítima e teve como resultado deste crime, que é um crime contra o patrimônio, a morte da vítima".
Crime - Três homens foram presos pela morte da musicista. De acordo com o delegado, um dos suspeitos, Luis Alberto bastos Barbosa, 29 anos, que também é músico, alegou que tinha um relacionamento com a moça e combinou um encontro com ela no motel, por volta das 22h de segunda-feira (24).
De acordo com a investigação, ele levou um amigo para o encontro, Ronaldo da Silva Moeda, 30 anos. As circunstâncias em que a jovem acabou no local com os dois homens não foram esclarecidas.
O plano da dupla, conforme a investigação, era roubar o carro e outros pertences da moça, e depois assassiná-la. Quando ela percebeu a emboscada, tentou reagir, mas acabou morta, ainda segundo as informações divulgadas pela polícia. O corpo foi parcialmente carbonizado, e jogado na região do Inferninho.