'Pontos cegos' garantem que celulares funcionem dentro de presídio
A Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) iniciou uma varredura no complexo penitenciário de Campo Grande para identificar os chamados “pontos cegos” do sistema de bloqueio de celulares, para que sejam adotadas medidas para impedir o uso de celulares pelos detentos. Depois do treinamento de agentes penitenciários no último dia 13, que provocou a revolta dos presos da penitenciária de Segurança Máxima, vários deles passaram a relatar o que ocorreu naquele dia por meio de aplicativos de celular.
O presidente em exercício da Agepen, Rafael Garcia, disse que o trabalho deve ser concluído em 10 dias. “Vamos fazer um rastreamento completo, para eliminar os pontos onde os celulares estão funcionando”, afirmou. O levantamento está sendo feito por servidores da Agência e técnicos da empresa que implantou os bloqueadores no complexo penitenciário de Campo Grande.
Mas algumas situações já são do conhecimento de servidores do sistema penitenciário, conforme diz o presidente do Sinsap (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de Mato Grosso do Sul), André Luiz Garcia Santiago. Segundo ele, o sindicato recebeu informação de que no corredor central da Máxima e nos setores A e B do Raio 2, os celulares funcionam. É nessa parte da unidade penal que estão os integrantes do PCC, a facção criminosa que comanda vários presídios no país.
Santiago diz ainda que um dos indicativos de que os bloqueadores não estão conseguindo impedir que os presos se comuniquem externamente por meio de celulares, é que em todas as operações pente-fino são apreendidos aparelhos. Em uma delas, realizada há três meses, mais de 60 celulares foram encontrados dentro do Presídio de Segurança Máxima.
O Campo Grande News apurou que tem sido frequente o pedido de transferência de celas pelos presos. Isso levanta a suspeita de que os detentos sabem onde os celulares funcionam, e pedem para mudar de “alojamento” por esse motivo. Um agente, que não quis que o nome fosse publicado, disse que alguns chegam a simular rivalidade dentro da cela onde está, para conseguir a transferência alegando estar correndo risco, situação conhecida dentro do presídio como “montar no porco”.
Rafael Garcia afirmou desconhecer essas situações. Mas assegurou que será apurado e medidas serão tomadas para impedir que os detentos consigam usar o celular dentro complexo penitenciário da capital.
Enquanto alguns detentos usam normalmente o celular, do outro lado do muro a situação é inversa. “Tenho pai em São Paulo e não consigo conversar com ele direito para ter informações. Preciso ir para longe de casa para conseguir usar o celular”, reclama a dona de casa Tânia Ferreira, vizinha há 21 anos do complexo penitenciário da capital.
Ela relata que no início, quando os bloqueadores foram instalados, chegou a pensar em jogar o celular fora, por achar que estava com problema. “Conversei com os vizinhos e vi que o problema era com todo mundo”, diz ela. Um adolescente de 14 anos, que também mora ao lado do Presídio de Segurança Máxima, comentou que o sinal costuma cair e dependendo do horário a telefonia celular nem funciona.