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Capital

Preso sob suspeita de golpe do pneu, empresário chama delegada de "mentirosa"

Número de clientes insatisfeitos é ínfimo, diz rede acusada de cobrar valores abusivos por serviços básicos

Por Anahi Zurutuza e Ângela Kempfer | 06/03/2024 16:00
Unidade da Eduardo Elias Zahran, que recebeu cliente que chamou a PM (Foto: Henrique Kawaminami)
Unidade da Eduardo Elias Zahran, que recebeu cliente que chamou a PM (Foto: Henrique Kawaminami)

Preso sob acusação de golpe contra clientes em Campo Grande, o empresário João Lopes de Freitas diz que vai até as últimas consequências contra a delegada Joilce Silveira Ramos, responsável pela investigação que levou o dono da Champions Pneus à cadeia. Apesar da empresa estar no nome de outras pessoas, ele diz ser o proprietário, mas nega qualquer fraude ou cobrança abusiva. "Essa delegada é uma mentirosa e eu vou provar isso", reclama.

Investigado por superfaturar orçamentos e enganar clientes, o dono da empresa, fundada em fevereiro de 2020, informa que tem 10 lojas em Campo Grande e Dourados, onde diz atender em média 2,5 mil pessoas por mês.

Embora responda na Justiça a pelo menos 4 dezenas de processos por maus serviços prestados ou venda casada, conforme noticiado pelo Campo Grande News em matéria publicada nesta terça-feira (5), a rede considera ínfimo o número de ações judiciais propostas por cliente insatisfeitos. “Agora imagina se não vai ter reclamação. Vai ver quantas essas empresas grandes, como Enersiga e operadoras de telefone têm”, comenta.

Revoltado depois de pagar fiança e sair da prisão, ele diz que vai acionar a Corregedoria da Polícia Civil contra a delegada. "O problema que provocou a minha prisão aconteceu no sábado, quando a cliente foi lá na loja. Eu nem estava lá, porque sou adventista e guardo o 7º dia. Então, como é que ela aparece na segunda e me prende em flagrante?", contesta.

O empresário diz que a confusão todo começou quando a polícia "chegou sem nenhum documento e disse que ia aprender o veículo". "Agora me diga, como eu não ia reclamar? Não vou liberar nem uma caneta BIC de cliente sem uma ordem judicial".

Segundo ele, a Champions faz o que todas lojas do ramo fazem. O problema, na avaliação dele, é que o consumidor não quer pagar por serviços especializados. "Se quiser comprar só pneu, vai no supermercado e depois pede para montar na borracharia. Aqui, para não perder a garantia do pneu, tem de fazer cambagem, alinhamento... uma série de serviços que têm seu valor. Com essa buraqueira na cidade, não dá só pra trocar pneu e sair rodando", argumenta.

O empresário afirma que já trabalha no ramo há mais de 40 anos e que nunca teve problemas sérios, porque sempre que alguém entra com processo, faz acordo. "Hoje, minhas lojas todas continuam abertas normalmente. E mais, tenho delegado que é cliente e já fez o serviço comigo mais de 5 vezes e sempre volta. Como que um delegado vai continuar comigo se eu estou errado?", questiona.

Sobre o caso que trouxe a situação à tona na Avenida Eduardo Elias Zahran e o levou para a prisão, João voltou a dizer que as acusações da cliente são falsas. Na versão da empresa, orçamento passado ela havia sido aprovado e a confusão se deu depois, na hora do pagamento, porque ela só apresentou uma foto do cartão de crédito e não conseguiu pagar os R$ 6,8 mil em 12 vezes.

A versão foi reforçada em nota de esclarecimento enviada ao Campo Grande News. “Inclusive, no referido caso que repercutiu na mídia, a cliente havia autorizado o serviço, estando devidamente ciente do serviço feito em seu carro e os valores que seriam lhe cobrados, estando a Ordem de Serviço assinada”, afirma o texto subscrito pelo advogado Thiago Neves de Almeida Vidal, que se apresenta como representante legal da Champions.

“É inverídica a informação de que a empresa apreendeu o veículo da cliente para exigir e coibir ao pagamento. Em verdade, o atendimento foi feito no sábado, 02 de março de 2024, e a referida cliente informou, em razão do horário, que buscaria o veículo e faria o pagamento devido na segunda-feira, 04 de março de 2024”, completa o texto.

A empresa garante que sempre orientou os funcionários a fazerem “a comunicação prévia sobre a necessidade da realização de serviços de mecânica e os valores cobrados, bem como exerceu suas atividades somente com a assinatura da ordem de serviço e autorização expressa dos consumidores”.

A nota também nega que a delegada responsável pela prisão de João Lopes tenha sido vítima “de golpe” supostamente aplicado pela loja, “já que a mesma nunca levou seu veículo ao local”.

Joilce Ramos afirmou à reportagem que passou por situação parecida em uma das unidades da rede no ano passado e formalizará denúncia, por tentativa de estelionato.

Caso – João Lopes foi preso na segunda-feira (4) por estelionato, depois de denúncia de cliente. Conforme boletim de ocorrência, a PM (Polícia Militar) foi acionada pela mulher relatando que havia deixado seu carro, um Ford Fiesta, na loja para trocar pneus e foi informada que o serviço ficaria por cerca de R$ 500. Mais tarde, o estabelecimento informou que, na verdade, precisaria cobrar R$ 2,6 mil da dona do veículo, que supostamente estava com duas rodas amassadas.

Ainda de acordo com o relato, a cliente não aprovou o orçamento e informou que mais tarde passaria para buscar o carro. Quando chegou ao comércio, porém, foi informada de novo valor – R$ 6,8 mil. Ela alega ainda que foi coagida a assinar documento com a desculpa que, do contrário, teria o carro guinchado do local e depois percebeu que se tratava da ordem para execução dos serviços.

O dono da loja pagou fiança de R$ 5 mil e foi solto após passar por audiência de custódia na manhã desta quarta-feira, dia 6.

A defesa dele ao entrar com pedido de liberdade provisória disse que o cliente não é o dono da empresa. “O requerente não é sequer dono da empresa onde a suposta vítima teve seu ‘desacordo comercial’, mas sim procurador”, alegou. A unidade da Zahran está registrada em nome de um homem e de uma mulher, nora de João.

No documento, o advogado cita ainda que a vítima procurou a polícia porque se arrependeu da contratação dos serviços, mas não informou ao estabelecimento que gostaria de retirar o carro ou que se recusava em realizar o serviço. Ainda conforme a defesa, foram juntadas reclamações do site “Reclame Aqui” para embasar o auto de prisão em flagrante, mas as reclamações não são da loja que seu cliente é procurador.

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