Procurada desde 2019, "Madrinha do PCC" gerencia estrutura da facção nas ruas
Mulher acabou presa neste domingo (9) após organizar o golpe do falso frete contra uma transportadora
Desde 2019, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul investiga a participação de Marcia Paschoala Espírito Santo, de 43 anos, em roubos de veículos e sequestros em Campo Grande. Conhecida como “Madrinha do PCC”, a mulher acabou presa neste domingo (9) após organizar o golpe do falso frete contra transportadora de Nova Alvorada da Sul e manter o motorista em cárcere privado por mais de 10 horas.
Na audiência de custódia, ela foi solta com uso de tornozeleira eletrônica, porque tem duas filhas pequenas.
Márcia foi detida por policiais do Batalhão de Choque em Campo Grande depois que o proprietário do caminhão desconfiou das atitudes do suposto contratante e denunciou o sequestro do funcionário, de 30 anos, para a polícia antes mesmo do crime de confirmar. Os policiais também prenderam Edelson Padilha Conceição, 36 anos, o responsável por levar o caminhão roubado para a fronteira, e o primo de Márcio, Gemerson Matheus, de 26 anos.
A partir daí, as equipes de investigação descobriram que a mulher era a responsável por organizar cada detalhe do crime, que começou a ser articulado dias antes, com a “contratação” dos envolvidos no roubo.
Foi o que contou Edelson Padilha. No dia 5 de maio ele recebeu a proposta de Márcia para levar o caminhão roubado até a fronteira do Estado com a Bolívia. Receberia pelo crime R$ 5 mil. No telefone, a “Madrinha do PCC” foi enfática: sabia que o “amigo” faria tudo por dinheiro, pois devia agiotas e era ameaçado por isso, indicam os levantamentos.
Ele aceitou a proposta, acompanhou o sequestro às margens da MS-040 e assumiu a direção do caminhão, mas quando chegou em Miranda foi parado por policiais rodoviários federais e preso em flagrante. Em depoimento revelou que não era a primeira vez que “trabalhava” com Márcia. Em setembro do ano passado aceitou levar um caminhão boiadeiro para Corumbá por R$ 3 mil. Na época, o motorista também foi mantido em um cativeiro até que Edelson conseguisse entregar o veículo na cidade que fica a 446 quilômetros da Capital.
O preso contou ainda que Márcia era a responsável por organizar todo o crime – das pessoas que participariam até a casa usada como cativeiro. Afirmou que era ela quem se comunicava o tempo inteiro com os verdadeiros mandantes do crime: líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) que cumprem penas nos presídios.
O relato do homem, no entanto, não surpreendeu a polícia. O nome de Márcia como líder do esquema de roubo a veículos em Campo Grande apareceu pela primeira vez em 2019. Ela passou a ser alvo de investigações nesta época, como responsável por várias ações na cidade, mas não havia provas concretas de sua participação.
Já naquele ano as denúncias apontavam a mulher como o braço forte do PCC na rua, inclusive com organização de diversos roubos na cidade, sempre com as vítimas sendo mantidas em cativeiro até os veículos serem levados para os países que fazem fronteira com o Estado.
Apesar de não ter sido presa pelos assaltos, o histórico de crimes da “Madrinha do PCC” é anterior a isso. As primeiras acusações aparecem em 2004, quando foi preso por tráfico de drogas. O crime rendeu a primeira condenação, cerca de 2 anos. Em depoimento neste domingo (9), a mulher lembrou que passou 10 anos de cadeia por vender drogas. Contou também que há 15 é usuária.
Na lista de processos em seu nome, Márcia soma casos lesão corporal, de inadimplência e também de negligência com os filhos. Ela é mãe de sete crianças – hoje quatro já são maiores de idade e das três mais novas, que possuem 8, 5 e 2 anos, apenas duas ainda moram com ela.
Ao ser levada para a Defurv (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Furtos de Veículos), unidade que irá investigar o roubo do caminhão, Márcia não quis falar, mas para a Polícia Militar justificou a participação como forma de pagar uma dívida com a facção paulista.
Ligações com o crime – Não é possível rastrear o momento exato em que Márcia se tornou protagonista no organograma do PCC, mas a reportagem apurou que o envolvimento da mulher com uma das lideranças da organização criminosa: Rosenilso Barros dos Santos, conhecido como “Velho”, “Lucas” ou “Branco”.
A relação amorosa entre os dois é registrada até mesmo na ficha criminal de Márcia. Rosenilso Barros foi alvo de operação e investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) pela primeira vez em 2013, quando foi apontado como um dos líderes da fação em Mato Grosso do Sul.
Ao lado de nomes conhecidos por outras investigações do Ministério Público como Carlos Ney dos Santos Ribeiro, o "Alejadinho do Skate”, Diego Freitas Leites, o “Daleste”, Cleber Oséias de Moraes Pires, o Grandão, Flávio da Silva Luz, o Fênix”, Rodrigo Ferreira Soares, conhecido como “Vedita”, Samuel Aparecido dos Santos, o “Diamante”, Waltensir Sampatti Nacareth, o “Mano Brown” e Wilson Gomes Granjeiro, vulgo “Urubu”.
Segundo a denúncia, os nove suspeitos formavam a “Geral dos Estados”, segundo principal núcleo da facção paulista e responsável por transmitir informações às demais células da organização, por criar normativas e diretrizes de procedimentos, além de exercer o controle e a disciplina dos membros que se encontram presos e os que se encontram em liberdade.
Naquela época, Rosenilso era responsável por administrar os pontos de venda de droga e armas de fogo da facção criminosa, pelas arrecadações financeiras e pelas planilhas de controle de pagamentos dos integrantes com as rifas (mensalidades), além da situação dos quadros do PCC.
Agora é a vez da “Madrinha do PCC” ser algo de investigação. Apesar do flagrante deste fim de semana, a mulher foi liberada com uso de tornozeleira eletrônica por ser a responsável pelas duas filhas mais novas, de 2 e 5 anos.