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Capital

Proibidos de ‘pisar’ nos locais de trabalho, terceirizados vivem incerteza

Prefeitura rompeu convênios com entidades e 4 mil contratados devem ser demitidos, mas não sabem quando

Anahi Zurutuza e Richelieu de Carlo | 17/12/2016 12:47
Em protesto no Centro, muitos trabalhadores levaram filhos; funcionários da Omep e da Seleta temem ficar sem ter como sustentar famílias (Foto: Marcos Ermínio)
Em protesto no Centro, muitos trabalhadores levaram filhos; funcionários da Omep e da Seleta temem ficar sem ter como sustentar famílias (Foto: Marcos Ermínio)

Eles já sabiam que mais cedo ou mais tarde seriam demitidos, mas não que seria de supetão. Agora, os trabalhadores terceirizados para creches, escolas e outras unidades educacionais da Prefeitura de Campo Grande, além dos ligados à assistência social, vivem na incerteza de quando serão desligados formalmente, se receberão o 13º salário, o “acerto”, como passarão o Natal sem dinheiro e se terão emprego no próximo ano.

Na tarde desta sexta-feira (16), a Prefeitura de Campo Grande publicou no Diário Oficial do Município o anúncio do rompimento imediato dos convênios com a Omep (Organização Mundial para a Educação Pré-escolar) e com a Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária, entidades que terceirizavam mão de obra e serviços para a administração municipal, mas que se afundaram em denúncias relacionadas à contratação de “fantasmas” e desvios de dinheiros dos cofres municipais.

Por meio do comunicado oficial, o Executivo municipal também proíbe que os contratados da Omep e da Seleta tenham “acesso a toda e qualquer repartição pública, onde desempenhavam suas funções”.

Pessoas vinculadas às entidades se sentem humilhadas e desamparadas com as medidas tomadas.

É o caso Roseli dos Santos, 36, que trabalha há dez anos como recreadora no Ceinf (Centro de Educação Infantil) da Vila Popular – no oeste de Campo Grande – e é contratada pela Seleta. “O que é mais revoltante é que os grandes roubam e a gente é que é impedido de trabalhar. Eu estou impedida até de buscar meu material pedagógico, que ficou lá. Isso é um absurdo. No final do ano eles fazem isso? Como fica o Natal? Quem vai pagar as nossas contas? O juiz? O Bernal?”, questionou durante protesto que reuniu cerca de 300 trabalhadores na manhã deste sábado (17), no centro da Capital.

Ceciliana, cozinheira há cinco aos pela Seleta (Foto: Marcos Ermínio)
Ceciliana, cozinheira há cinco aos pela Seleta (Foto: Marcos Ermínio)

Cozinheira de uma casa de acolhimento para deficientes mantida pela prefeitura na Vila Carvalho, Ceciliana Maria Moreira, 34, é contratada Seleta há cinco anos e ficou sabendo pela imprensa que a partir de hoje não poderia mais voltar ao local de trabalho. Ela sustenta dois filhos e teme ficar sem o dinheiro da rescisão.

“Nosso trabalho é nossa dignidade. Trabalhamos para sustentar nossas famílias. Agora, somos desempregados. Como ficaremos nesta época de crise? O pior de tudo é o desamparo, o descaso e o desrespeito que estão tendo com a gente. Me sinto como uma criminosa, pois não posso colocar o pé no local do meu trabalho”, falou à reportagem indignada.

Ela conta ainda que ontem (16) o recebeu uma mensagem da chefe dela, que lamentou a situação, mas informou que não tinha o que fazer.

Grávida, Hevellen não sabe se será desligada da Omep (Foto: Richelieu de Carlo)
Grávida, Hevellen não sabe se será desligada da Omep (Foto: Richelieu de Carlo)

Grávida de quatro meses, Hevellen de Oliveira, 20, trabalhava como assistente administrativa na SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) e conta que foi informada pela chefia, na tarde desta sexta-feira, que deveria ir embora levando seus pertences, pois é contratada pela Omep.

Ela reclama do “disse me disse”. “Não sabemos de nada, quando vamos ser demitidos mesmo. Tem gente que me falou que porque estou grávida não posso ser demitida, enquanto outros disseram que não vou receber nada”.

Hevellen está separada do marido e morando com os pais desde que ficou sabendo que funcionários da Omep e da Seleta seriam demitidos até fevereiro de 2017. Embora tenha decidido abandonar a casa de aluguel, ela teme ficar sem cursos para cuidar do filho que está para chegar.

Decisão judicial e operação – A pedido do MPE (Ministério Público Estadual), o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, determinou na quinta-feira (15) o rompimento dos contratos com a Omep e a Selete e, por consequência, funcionários serão demitidos.

A decisão foi tomada três dias depois que força-tarefa comandada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Operação Urutau e prendeu três pessoas – dentre elas a presidente da Omep, Maria Aparecida Salmaze – ligadas a suposto esquema de desvio de dinheiro dos cofres municipais por meio das entidades, classificadas pelo MP como “indústria de fantasmas”.

Também foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e sete de condução coercitiva.

Para substituir os 4 mil demitidos, o MPE recomendou que a prefeitura faça contratos temporários com trabalhadores que ocupem cargos em unidades que oferecem serviços essenciais. O prefeito eleito Marquinhos Trad (PSD) estuda a alternativa.

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