Sem gratuidades, tarifa seria R$ 2,70, garante Consórcio Guaicurus
"Estudante paga R$ 4 mil de mensalidade em faculdade e anda de ônibus de graça", reclama diretor
Tarifa a R$ 2,70 e ônibus circulando com velocidade média de R$ 25 km/h. Esse cenário seria possível no transporte coletivo urbano de Campo Grande sem as gratuidades na passagem e com faixas exclusivas. Mas a realidade é passagem de R$ 3,95, 14 milhões de viagens gratuitas no ano passado (pagas pelo usuário comum) e velocidade média de 15km/h, inferior ao desempenho de uma carroça.
“Precisamos valorizar o transporte coletivo e cobrar tanto do empresário e mais ainda de quem pode definir políticas públicas. Fala que o transporte é ruim, que o preço que pago não vale. Mal sabe ele que está pagando gratuidade de maneira indiscriminada. O cidadão pode pagar R$ 3 mil, R$ 4 mil na mensalidade da faculdade e não vai pagar o próprio ônibus. Quem paga a conta desse cidadão?”, questiona o presidente do Consórcio Guaicurus, João Rezende.
O grupo venceu licitação bilionária há sete anos para explorar o transporte coletivo até 2032. De acordo com Rezende, são 10 categorias com direito à gratuidade nos ônibus do transporte urbano, sendo três com maior impacto: estudantes, idosos e portadores de necessidades especiais.
A primeira categoria atendida foi a da terceira idade, a partir da Constituição Federal de 1988. “Em 1993, nós tivemos aqui o Juvêncio César da Fonseca, que disputava a prefeitura de Campo Grande com a Marilu. E orientaram que ele prometesse a tarifa de ônibus gratuita para os estudantes. Ele, que estava perdendo, assim fez e ganhou a prefeitura. Ele colocou o usuário para pagar a conta”, afirma Rezende, sobre a origem da gratuidade para estudante na Capital.
Como as gratuidades impactam no valor final da tarifa do ônibus, o advogado André Borges, responsável pela assessoria jurídica do Consórcio Guaicurus, explica que os caminhos legais para rever os benefícios são revisão por parte dos legisladores municipais, diminuindo o número e impondo mais limites, ou o pagamento do poder público. “Evitando que o ônus todo recaia sobre quem paga a tarifa” afirma Borges.
Devagar, devagarinho – O deslocamento dos ônibus transporte coletivo por Campo Grande poderia aumentar de 15 km/h para 25 km/h se fossem ampliadas as faixas exclusivas, já existentes em trechos como na Rui Barbosa e das avenidas Afonso Pena e Duque de Caxias.
“Mais do que a velocidade, mudaria o padrão da viagem. A grande angústia nossa é ver que o cidadão não confia no transporte e ele tem razões de sobra para isso. O ônibus não consegue cumprir horário na maioria das vezes. Tem que disputar espaço com os carros, motocicletas, caçamba de lixo”, diz Rezende.
De acordo com Rezende, a faixa exclusiva é a solução mais rápida e econômica. O presidente do consórcio exemplifica que em São Paulo o então prefeito Fernando Haddad (PT) pretendia implantar 100 quilômetros de faixa exclusiva, mas a solução foi tão eficiente que a faixa foi adotada em quase 600 quilômetros.
Os veículos registram maior lentidão em pontos com a avenida Eduardo Elias Zahran e a Rua da Divisão, entre os bairros Parati, Guanandi e Aero Rancho, a região mais populosa da cidade.
Há anos existem projetos de obras, como quatro novos terminais e 80 quilômetros de corredor de ônibus. No quesito soluções, uma intervenção eficiente foi a estação Peg Fácil, em que o tempo de embarque foi reduzido de oito minutos para 40 segundos.
Números – No ano passado, o transporte coletivo fez 48 milhões de viagens em Campo Grande. A frota tem 570 ônibus, que devem ter reforço de 55 novos veículos. Por dia, são transportadas 200 mil pessoas.
Conforme João Rezende, o modelo de integração permite um deslocamento de 60 quilômetros, entre Indubrasil e Anhanduí por R$ 3,95. Segundo ele, a possibilidade de pagar apenas por trecho viajado é para não onerar quem mora mais distante do Centro.
"O cálculo por trecho traria desequilíbrio irreparável. Por isso no Brasil e em boa parte do mundo é tarifa única".