"Sem reação", assassino de Carla acompanha 5h de depoimentos de acusação
Marcos André Vilalba de Carvalho está preso desde 14 de julho pelo assasssinato de jovem de 25 anos
Durante quase cinco horas, a mesma posição, o olhar fixo na tela do computador. De vez em quando um gesto repetitivo de balançar a cabeça. Foi assim, quase imóvel, sem reação, que Marcos André Vilalba de Carvalho, 21 anos, assassino confesso da jovem Carla Santana Magalhães, de 25 anos, assistiu os depoimentos de oito testemunhas de acusação contra ele, na tarde desta terça-feira (8) por meio de videoconferência, a partir do Fórum de Campo Grande para os locais onde estavam os participantes.
Foi a primeira audiência da ação penal por homicídio com quatro qualificadoras, entre elas feminicídio, contra Marcos. Ele está preso desde 14 de julho deste ano.
A próxima fase será ouvir os depoimentos em favor dele, mas como não houve apresentação de defesa preliminar, nem foram arroladas testemunhas, essa data ainda está indefinida. O juiz responsável, Aluízio Pereira dos Santos, titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri, deu cinco dias, a contar de hoje, para que a advogada de Marcos André, Michelli Francisco, apresente o rol de testemunhas.
Depois disso, explicou o magistrado, vai marcar a sessão para ouvir a defesa e o interrogado. Marcos falou três vezes sobre o crime na fase de inquérito, mas sempre de forma sucinta.
A única motivação apresentada por ele, segundo a peça investigatória, foi um cumprimento não respondido pela vítima.
Ouvido hoje, o delegado Carlos Delano, responsável pelo inquérito da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), relatou que o último interrogatório na delegacia, o criminoso admitiu ter guardado mágoa.
“Mereço respeito também”, teria dito o assassino, nas palavras da autoridade policial, sobre não ter sido cumprimentado por Carla.
Sem emoção - Na audiência de hoje, a postura de Marcos André coincide com o comportamento arredio atribuído a ele desde que foi descoberto como o responsável pelo assassinato de Carla, na noite de 30 de junho para 1º de julho. O réu assistiu aos depoimentos na sala de audiências do IPCG, onde cumpre prisão preventiva.
De máscara por causa do risco de contrair o novo coronavírus, o que também tornou a identificação de expressões faciais mais difícil, Marcos presenciou todos os testemunhos, incluindo os relatos detalhados do crime, como por exemplo a forma como ele fez um corte profundo no pescoço da vítima.
Usou uma faca de 30 centímetros de lâmina, como consta do processos. Também violou o cadáver sexualmente, detalha relembrado na audiência desta tarde.
Ao final, quando o juiz deu prazo à advogada para apresentar defesa e indagou - repetindo o nome dele mais de uma vez- se o réu havia acompanhado os depoimentos, o rapaz permaneceu sem reação. Foi a advogada quem confirmou isso.
Ninguém entende – Na audiência desta terça-feira foram ouvidas oito testemunhas elencadas pelo promotor do caso, Douglas Oldegardo dos Santos. Seis delas são familiares e amigos de Carla, uma o empreiteiro que dava emprego a Marcos André e que era uma espécie de apoio dele em Campo Grande, desde a vinda de Bela Vista, onde nasceu e cresceu o rapaz. A última testemunha foi o delegado.
Na voz das pessoas mais próximas, Carla foi definida com palavras muito semelhantes e o esperado tom de incredulidade com o que aconteceu.
“Era uma menina feliz, que gostava de tirar foto e dançar”, contou a melhor amiga, com quem Carla esteve minutos antes de ser atacada.
A jovem, vizinha da família, relembrou que as duas haviam ido a um petshop naquele dia e, mais tarde, Carla a chamou para ir ao mercado, comprar café.
Na volta, segundo a jovem, ainda ficaram conversando um pouco na casa da amiga e até "dançando". Na despedida, ainda esperou Carla “atravessar” o asfalto e seguir para a rua de terra onde morava com a família.
“Foi o tempo de eu pegar a tolha para tomar banho e a mãe dela chegar aqui gritando que a Carla havia sido roubada”.
Na calçada da casa da amiga, ficaram, segundo o testemunho, “a bolsa, rasteirinha, um cadeado, e o café.”
A mãe de Carla, Evanir, também foi ouvida hoje. Foi ela a última pessoa a ouvir a voz da jovem entre os familiares. "Ela gritou muito", resumiu, em um depoimento relativamente curto, no qual pareceu ter sido poupada da dor do detalhamento.