Sessão a R$ 4,67 e necessidade de outro local inflam espera por fisioterapia
Representantes do Crefito apontam soluções para a Prefeitura de Campo Grande reduzir imensa fila do SUS
Quanto mais cedo se começa um tratamento de fisioterapia, maiores são as chances de evitar sequelas. A espera de longos meses para conseguir sessões com profissionais da área via SUS (Sistema Único de Saúde) em Campo Grande, no entanto, separa os pacientes do ideal para sua plena recuperação.
Há aproximadamente 20 mil pessoas aguardando por sessões na Uerd (Unidade Especializada em Reabilitação e Diagnóstico), que fica no Bairro Vila Almeida e é o único local onde atualmente o serviço é prestado na rede pública do município. Pacientes com quadros mais graves têm esperado até três meses, enquanto os casos mais simples podem exigir espera de até um ano.
O tamanho da fila e o tempo esperado foram apurados pelo Crefito 13 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 13ª Região) e levados até o Comitê de Saúde do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul no mês passado.
Soluções foram sugeridas na última reunião do comitê e também diretamente à Prefeitura da Campo Grande. A principal delas é criar outro espaço para o atendimento e equipá-lo. "Seria importante a prefeitura estruturar um equipamento público, mais centralizado, de preferência. Nós fizemos propostas, demos sugestões e nos colocamos à disposição para ajudar", afirma o presidente do conselho, Renato Nacer.
Outros caminhos discutidos são firmar convênios com universidades e contratar empresas para prestar o atendimento público, alternativas as quais a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) já recorreu e tenta recorrer novamente. O obstáculo agora, segundo Renato, é a defasagem do valor oferecido pelo atendimento dos pacientes do SUS.
Enquanto resolução reajustada anualmente pelo Conselho Federal dos profissionais estipula entre R$ 73 e R$ 109,50 a sessão, a Tabela SUS a fixa em R$ 4,67. "Uma grande diferença", ressalta o presidente do Crefito.
Faltam servidores - Secretária-adjunta da Saúde do Município, Rosana Leite reconheceu que são poucos os profissionais de fisioterapia no quadro de servidores atualmente, em entrevista concedida ao Campo Grande News nesta segunda-feira (10).
A Sesau pretende agir para equacionar a falta de fisioterapeutas na rede municipal com contratação e concurso público. "Estamos correndo atrás de recursos financeiros para conseguir contratar. É importante também reforçar que está sendo estudada a possibilidade de concurso com a contratação de novos servidores da categoria, assim, iremos também reforçar o quadro fixo de fisioterapeutas na prefeitura", disse a adjunta.
Ela também citou que um edital de contratação de empresas foi lançado para aliviar a atual demanda da Uerd, mas que não registrou interessadas. Uma nova tentativa será feita, afirmou, com a publicação de outro edital.
Renato Nacer defende que a prefeitura complemente o valor fixado pela Tabela SUS para ter sucesso na contratação de empresas. "É um valor absurdo, impraticável", reclama. "A prefeitura nunca propôs aumentar esse repasse ou complementar. Que empresa vai conseguir se manter recebendo menos de R$ 5 por paciente? Esse valor está fora da realidade", questionam também os agentes fiscais do Crefito 13, Rodrigo Koch e José Melo, que conhecem o dia a dia dos profissionais da Capital.
À reportagem, Rosana Leite afirmou que a prefeitura precisa se ater ao valor da tabela. "Para o contrato, se precisa do processo licitatório. Nós não tivemos interessados no nosso chamamento. Colocamos o valor que a administração pública pode [fixar]. Não podemos colocar além do valor da Tabela SUS e não houve empresas interessadas em servir isso", pontuou.
Desde 2019 - Naquele ano, pouco antes do início da pandemia de covid-19, a fila de espera pelas sessões de fisioterapia já podia ser considerada grande, com 2 mil a 3 mil pessoas. Isso porque a prefeitura tinha contrato com três clínicas particulares e duas universidades para encaminhar os pacientes regulados na época, lembram os fiscais.
Dentro de uma população de 897.938 pessoas, conforme estima o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a fila de espera atual, de cerca de 20 mil pessoas, representa 2,2% desse total. O presidente do Crefito 13 considera inaceitável o aumento, diante da existência de 4,5 mil profissionais ativos na área em Campo Grande, e pede soluções imediatas.