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Capital

Siufi apelou aos “amigos” do Tribunal de Justiça para impedir investigação

Ângela Kempfer | 10/06/2013 09:19

Com relações de parentesco e amizade com pessoas poderosas em Mato Grosso do Sul, o médico Adalberto Siufi recorreu a quem pode nos dias que antecederam o afastamento dele da direção do Hospital do Câncer de Campo Grande.

Interceptações telefônicas da Operação Sangue Frio, divulgadas agora, indicam que o médico recorreu a juiz e 2 desembargadores para evitar a saída do HC e comprometer a investigação, com o afastamento da promotora Paula Volpe.

Sempre com tratamento muito íntimo, chamado por “Beto”, Siufi parece bem próximo de várias autoridades do Estado.

Aparentemente desesperado diante das sucessivas denúncias, o médico recorreu, inclusive ao procurador de Justiça Antonio Siufi Neto, para que ele intercedesse junto ao procurador- chefe do Ministério Público Estadual, Humberto Brites.

Siufi: Eu deixei na portaria um documento para você. Você recebeu?
Antônio: Amanhã cedo eu já falo então com o Humberto. Eu estava aguardando esse documento para conversar com ele.

No dia seguinte vem a resposta também por telefone, com o compromisso de troca da promotora responsável pela investigação.

Antônio: Dei uma olhada está excelente o pedido. E agora à tarde eu falo com o doutor. Eu vou conversar com ele e já passo para você a situação.
Siufi: : É, porque isso é uma afronta, né Toninho?
Antônio: É. Eu vou solicitar a ele um promotor que não seja ninguém envolvido já com o problema. E para resolver isso já, já intervir e tomar as providências.

Depois da suposta conversa com Humberto Brites, o procurador de Justiça garante que levou a cópia do documento e pediu agilidade.

Siufi: E essa promotora vai ser afastada?
Antônio: Vai. Mas eu acredito que de hoje para amanhã ele
Além de ser parente de Antônio Siufi, o médico se mostra amigo do juiz Fábio Salamente e dos desembargadores Claudionor Abss Duarte e João Carlos Brandes Garcia, aposentado em fevereiro deste ano.
Claudionor: Pronto, Claudionor.
Siufi: Oi, doutor. Aqui é o Adalberto, tudo bem?
Claudionor: Oi, professor. Tudo bem, graças a Deus.
Siufi: O senhor está no tribunal, aí?
Claudionor: Não, não estou. Acabei de chegar em casa. Tô em casa, quer passar em casa?
Siufi: Eu precisava viu, doutor. Não incomoda o senhor, não?
Claudionor: Que que é isso! Sabe onde moro, né?
Siufi : Sei. Eu tô aqui no Ministério Público, aí dou um chego aí.

As interceptações mostram insistência por parte do médico e também da filha dele, Betina Siufi. São várias as ligações para pedir apoio e depois cobrar uma resposta aos magistrados.

Em determinado ponto da investigação, os dois parecem evitar conversas por telefone e passam a solicitar encontros. Em uma das ligações, o desembargador aposentado Brandes Garcia é tão solícito que decide ir até o consultório do oncologista para uma conversa sobre o processo.

Siufi: Eu precisaria de um favor seu, mas precisaria explicar pessoalmente para o senhor.
Brandes: Uai, tudo bem. O senhor escolhe o local, as armas. O senhor marca aí o lugar, aí, que eu vou lhe encontrar. Quer que eu vá até aí no consultório? Para mim não tem problema nenhum.
Siufi: Vou lhe aguardar, então.
Brandes: Eu vou aí, daqui a dez minutos eu estou aí.

Já ao lado do desembargador, o médico conversa por telefone com a filha.

Siufi: Doutor Brandes está falando com o cara, com o Meneghelli.
Betina: Quê?
Siufi: Doutor Brandes está aqui no consultório falando com Meneghelli, no telefone.

Depois de um dia de solicitações aos amigos influentes, Adalberto Siufi liga novamente Abss Duarte

Siufi: Conversamos aqui. E ele falou diretamente com a pessoa.
Claudionor: Ai, que bom!
Siufi: E ele não tinha recebido ainda, não, diz ele.
Claudionor: Bom, fica mais tranquilo, você. Tenha tranquilidade. Aquilo que eu te falei, as coisas se encaminham. Tá bom?
Siufi: Muito obrigado, hein.
Claudionor: Tá, não há de quê.

Betina chega a ir ao Fórum de Campo Grande, para pedir apoio ao juiz Fábio Possik Salamene, mas não é recebida. Depois, o pai consegue a conversa, indo até a casa do juiz.

Siufi: Ô, chefe.
Fábio: Ô, Beto.
Siufi: Estou liberado para tomar um café. Onde você está?
Fábio: Estou chegando em casa. Quer dar um pulo aqui?
Siufi: Tá bom. Tô indo aí.
Fábio: Tá bom. Tô te esperando.

Ao mesmo “amigo”, Siufi repassa o nome do juiz responsável pela decisão sobre o afastamento.

Fábio: Oi, Beto.
Siufi: Eduardo Meneghelli com ação, lá.
Fábio: Tá.
Siufi: Se dá para segurar é bom! Obrigado, viu.
Fábio: Tá.

Dias depois, Eduardo Meneghelli acaba se declarando impedido de julgar e a decisão é repassada ao juiz da Vara de Direitos Difusos, Coletivos, Individuais e Homogêneos, Amaury da Silva Kuklinski, que concedeu liminar e afastou judicialmente a diretoria do Hospital do Câncer em março.

O médico recorreu até ao presidente da Assembléia Legislativa, Jerson Domingos. Em telefonema pede para que ele converse com o governador. “A mulher tá infernizando”, reclama ao deputado sobre Paula Volpe. Como resposta, Jerson informa que já procurou André Puccinelli e garante que uma solução será encontrada.

Jerson: Oi, Beto!
Adalberto: Escuta, você falou com o cara pra nós? A mulher está infernizando nós aqui, rapaz.
Jerson: O André?
Siufi: Essa promotora, rapaz.
Jerson: Fica tranquilo que eu vou falar com ele.
Siufi: Dá um puxão de orelha nessa moça, aí. Paula Volpe.
Jerson: Tá.
Siufi: E se você falar com ele (governador), você me dá uma posição pra mim?

As gravações foram divulgadas na manhã de hoje pela TV Morena. Em entrevista, Salamene admitiu que esteve com Adalberto, mas garantiu que só ouviu o médico por conta da amizade, sem mediar qualquer providência.

Apesar de toda a articulação, Adalberto Siufi não conseguiu reverter o afastamento, nem a substituição de Paula Volpe. Segundo o Ministério Público Estadual, tudo indica que as autoridades citadas ouviram Siufi por questão de amizade, mas não influenciaramem qualquer decisão referente ao caso.

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