Só ‘milagre’ curou dor de Hellen, que perdeu filhos e marido em acidente
“Muitos me perguntam por que só eu sobrevivi. Confesso que ainda não sei a resposta, acredito que foi um milagre e procuro viver com gratidão por estar aqui”, diz a pastora
Se um dia Hellen pediu a Deus a morte, hoje, é a gratidão a Ele pela vida que a mantém de pé. Os dois filhos pequenos e o marido se foram em acidente de carro em outubro de 2015. De lá para cá, dor, saudade, perdão e a crença em um milagre a fizeram seguir em frente, ou como ela mesma prefere dizer: ‘nascer de novo’, com a certeza de que tudo tem um porque.
“Muitos me perguntam por que só eu sobrevivi, se não acho que é algum tipo de punição por viver em pecado, ou se é porque tenho ainda alguma missão. Eu confesso que ainda não sei a resposta, acredito que foi um milagre e procuro viver com gratidão por estar aqui”, diz.
O acidente foi na noite de quatro de outubro de 2015, no quilômetro 281 da BR-262, entre Ribas do Rio Pardo e Água Clara - distante cerca de 170 quilômetros de Campo Grande. Hellen Rolon de Sousa Duarte é quem dirigia o carro, e tinha como passageiros o marido, Wanderson Duarte de 31 anos, os dois filhos, Lucas e Gabriela, com apenas 11 e 8 anos de idade, e a pastora amiga da família, Jocelise Pereira de Oliveira, 34 anos.
Um carro que vinha na direção contrária invadiu a pista e a mãe não conseguiu desviar. Foi uma colisão frontal. Os dois carros pegaram fogo. Trê pessoas morreram carbonizadas.
Dos que estavam no carro de Hellen, apenas ela sobreviveu. No outro veículo havia o motorista, Roberto Benitez, 37 anos, e a esposa dele, Marlen Alves Costa, 21 anos, que também morreu.
Apesar de saber que o outro motorista estava bêbado, Hellen se sentiu culpada. “Nem que eu quisesse conseguiria explicar a dor que senti. Eu gritava, eu não entendia, eu questionava muito. De um dia para o outro eu perdi tudo e achava que era culpa minha”, diz.
Por um mês, Hellen viveu entre o sofá e a cama. Chegou a se mudar de cidade, na tentativa de esquecer algo que não lembrava direito, mas, que lhe causava dor e saudade imensuráveis. “Do acidente eu não lembro até hoje. Mas, eu tinha que buscar um jeito de superar aquilo. Conseguir me ver sozinha de novo”, explica.
O consolo veio ao questionar novamente: “porque isso está acontecendo comigo? Eu perguntava para Deus. Até que Ele me enviou uma palavra por meio de uma pessoa que mora em Minas Gerais, que eu nem conhecia, que disse: por que gritas em desespero? Porventura não tens rei? O teu conselheiro morreu, para que estejas sofrendo como uma mulher com dores de parto?... Não tive dúvidas que era uma resposta”, conta.
Apesar de luz para o caminho, Hellen ainda sofria com a dor da saudade. “Eu parei de questionar, mas ainda sentia muita falta. Meus filhos tinham uma vida pela frente, meu marido estava no auge e eu não tinha mais minha família”, diz.
Foi só há seis meses que a cura completa veio. “Deus falou em meu coração muito forte que o propósito é que eu faça a obra. Assumi uma comunidade no Jardim Futurista e lá encontrei consolo. Hoje eu acredito numa restauração completa, que Deus ainda vai me dar. Muita gente estranha quando digo que ainda vou ter uma nova família, mas a restauração é isso, viver em plenitude”.
Do acidente, Hellen, que na visão da medicina jamais poderia ter sobrevivido, pois estava se recuperando de trombose cerebral e não poderia de forma alguma bater a cabeça, só restaram três cicatrizes. “Que é para eu lembrar a dor que senti e como fui curada”, acredita.
Quanto ao motorista do outro carro, Roberto Benites, que responde em liberdade por homicídio simples, lesão corporal e por dirigir bêbado, Hellen só tem um desejo. “Gostaria muito de conversar com ele. Falar com ele sobre Deus e dizer que sei o que está sentindo. Porque eu acho que ele deve se sentir culpado, afinal, a esposa dele também morreu. Além disso, ele estava bêbado, acredito que ele não sabia o que estava fazendo”, diz.
Pastora, hoje Hellen dirige uma comunidade da igreja Internacional da Graça de Deus em Campo Grande. A quem passa ou já esteve na mesma situação pela qual passou, ela deixa uma mensagem: