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Capital

"Tragédia anunciada", diz defesa sobre a morte de Jamil Name

Doente e preso, Name "recebeu uma pena de morte sem sequer ser condenado", diz defesa

Adriano Fernandes | 27/06/2021 20:47
Jamil Name no presídio federal de Mossoró, durante audiência de processo. (Foto: Reprodução de vídeo em processo)
Jamil Name no presídio federal de Mossoró, durante audiência de processo. (Foto: Reprodução de vídeo em processo)

"A morte de Jamil Name foi uma tragédia anunciada". O comentário é da defesa do empresário, que por reiteradas vezes tentou transferir Jamil Name para prisão domiciliar, por conta de sua idade avançada e de seus problemas de saúde. Todas os pedidos, no entanto, foram negados pela justiça. Internado desde o dia 2 de junho, depois de contrair covid-19 dentro da prisão o empresário e réu na operação Omertà, morreu aos 82 anos, neste domingo (27).

Em nota à imprensa o advogado Tiago Bunning Mendes apontou que o cliente "recebeu uma pena de morte sem sequer ser condenado", desde que foi preso em 27 de setembro de 2019. "Imaginem um Senhor bastante idoso, portador de diabetes, hipertensão e várias outras doenças crônicas, com dificuldade de locomoção, de audição e de visão, moribundo, sendo retirado de sua família aos 80 anos de idade no dia 27/09/2019. Foi encaminhado para o regime prisional mais severo do nosso país, permanecendo preso preventivamente num Presídio Federal, em regime disciplinar diferenciado, a mais de 3.000km de sua família, sem que existisse ao menos uma sentença condenatória em seu desfavor. Tudo isso no meio da maior crise sanitária da nossa geração, quando morreram praticamente 4 milhões de pessoas pela Covid-19. Por quanto tempo achavam que esse Senhor aguentaria? Qual seria sua expectativa de vida nestas condições?", questiona.

Name foi diagnosticado com covid-19 em 26 de maio, depois de ter tomado as duas doses de vacina contra a doença. Desde o dia 2 de junho ele estava internado em um hospital de Mossoró (RN) e acabou não resistindo ao agravamento de um quadro de insuficiência renal.

"Viveu seu último dia de vida preso em uma cama de hospital de uma UTI, entubado, inconsciente e sem qualquer familiar ao seu lado. Recebeu uma pena de morte sem sequer ser condenado. Daqui alguns anos ninguém acreditará que isso aconteceu no Século XXI, em um Estado Democrático de Direito, onde não se admite a pena capital e a lei garante a prisão domiciliar a quem possui doença grave ou tem mais de 80 anos, justamente para evitar a morte, porque o Estado pode tirar a liberdade de qualquer pessoa, mas não deve tirar a vida de ninguém", criticou o advogado.

Bunning classificou como "injustificável e inadmissível" o que ocorreu com o seu cliente, uma vez que "a defesa promoveu incansáveis pedidos de prisão domiciliar, habeas corpus e outras medidas jurídicas cabíveis, em todas as instâncias". "A morte de Jamil Name foi uma tragédia anunciada", afirmou.

De acordo com o advogado, Name sofreu diarreias contínuas desde o dia 27 de março desde o que provocou "severa desnutrição". O quadro clínico levou a necessidade de internação na enfermaria da Unidade Penal onde Jamil permaneceu "completamente incapacitado desde 26/05/2021 quando foi transferido as pressas diretamente para uma UTI".

Ainda conforme a defesa, 70 casos positivos de covid-19 (sendo 69 agentes e 1 interno) foram confirmados na Penitenciária Federal de Mossoró/RN, anteriores a contaminação de Jamil. "Todas essas informações foram cerceadas da defesa que mesmo solicitando não recebia os prontuários médicos atualizados há mais de 1 (um ano), desde março de 2020", concluiu.

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