Três meses de abusos viraram tormento por 2 anos para funcionária de playground
Ela e uma ex-colega denunciaram à polícia, gerente que se esfregava e tentava beijar funcionárias a força
Mais de dois anos baseados em remédios controlados, ansiedade, depressão e tentativas de suicídio. Vítima de assédio moral e sexual em uma empresa de playground em Campo Grande, a funcionária decidiu procurar a polícia após se encorajar, ao ver uma colega denunciando os mesmos abusos no local de trabalho.
O relato das duas é de que o gerente tentava beijar a força funcionárias, se esfregava nas vítimas e até as humilhava em público. O caso foi investigado pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
A vítima será chamada de Rosana, a fim de preservar a identidade dos envolvidos. Ela conversou com o Campo Grande News nesta segunda-feira (23), quando foi prestar um depoimento complementar na Deam.
"Demorei para denunciar. Por medo, por vergonha. Quem iria acreditar em mim?", questiona. Agora, ela e a ex-colega pedem justiça. "Eu não fui a primeira e nem seria a última", diz Rosana.
A vítima entrou na empresa em dezembro de 2018 e ficou até março de 2019. "Foram os piores meses da minha vida. Ele humilhava em público, fazia comentários sexuais e eu via que não era só comigo", conta.
Rosana lembra que, por diversas vezes, por conta das mais de 12 horas que ficava no local, tinha que usar o banheiro para tomar banho. "Ele fazia comentários, sugestões para ter relação sexual, chamava na sala e se esfregava, uma vez, chegou a trancar a porta com uma funcionária dentro".
Os abusos começaram a gerar problemas psicológicos e a funcionária acabou afastada. "Depois, tentei voltar e ele já não estava lá. Mas eu olhava pro banheiro, para sala dele e já vinha tudo de volta na cabeça", lamenta. Rosana desenvolveu ansiedade, depressão e transtorno obsessivo compulsivo. Em laudo, psiquiatra atesta que as doenças foram ocasionadas pelos abusos morais e sexuais. "Hoje, fico bem quando tomo meus remédios, mas é uma luta diária que estou passando, eu e minha família", lamenta.
Ela afirma que o medo e a vergonha fizeram com que ela demorasse a denunciar os assédios. "Foi bem depois que tomei coragem, mas muitas das meninas não quiseram, porque tem medo. Medo de perder o emprego, medo de contar para o marido e acontecer algo, então, elas aguentavam quietas".
O caso foi investigado pela Deam e o processo está em andamento no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). O Campo Grande News omitiu o nome da empresa, porque o funcionário já foi desligado. Mesmo assim, tentou contato com a empresa em que as mulheres prestaram serviço, mas não obteve retorno até a publicação deste material.