Bater ponto para quê? Pandemia acelerou o "eu me demito" em choque de gerações
Entenda o que empresas podem fazer em meio a fenômeno chamado de “grande resignação” nos EUA, que chegou em MS
Basicamente, eles fizeram várias descobertas e hoje têm objetivos diferentes com relação ao emprego. Profissionais descobriram que dá para ganhar o mesmo dinheiro batendo ponto por menos horas. Outros motivos: qualidade de vida, home office, viajar por alguns dias e compensar depois e ambiente de trabalho mais saudável.
Especialistas explicam o que está havendo, porque empresas estão sofrendo sem entender pedidos de demissão e o que podem fazer para não ter prejuízos.
O que está acontecendo?
Empresas geridas por pessoas da geração baby boomer (nascidos entre 1946 e 1964) não estão dando conta de entender e aceitar que os empregados da geração Y ou millennials (1981-1996) e da geração Z (1997-2010) pedem demissão por muito menos do que ocorria há algumas décadas, na avaliação do administrador e palestrante, especialista em Gestão e Atendimento, Sanger Santos.
"As empresas ficaram paradas em processo antigos, criados pela geração baby boomer. Coisas como assiduidade e pontualidade eram indicadores relevantes, mas hoje, o que importa mais é a produtividade. Se a minha empresa precisa de um profissional e ele se propõem a trabalhar duas ou três horas por dia e conseguimos acertar uma remuneração justa, pronto", detalha Sanger.
O que eles querem?
Os profissionais deste início de século buscam um sentido para o trabalho muito além de ter dinheiro para comprar um carro, uma casa, casar e ter filhos. O fenômeno "eu me demito", chamado de “grande resignação” nos Estados Unidos, chegou ao Brasil.
Acontece que lá, o nível de desemprego é baixíssimo, enquanto o Brasil tem 12 milhões de desempregados e, em Mato Grosso do Sul, são mais de 100 mil procurando emprego.
Pesquisa realizada pela Kaspersky mostra que 53% dos brasileiros entrevistados pretendem trocar de emprego neste ano. Metade das pessoas disse que quer um equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Estudo encomendado pela Você S/A ao estúdio de inteligência de dados Lagom Data mostra que dobrou o número médio de pessoas pedindo demissão no Brasil, nesse período "quase pós-pandemia". Cerca de 500 mil pessoas se demitem a cada mês.
Profissionais de RH (Recursos Humanos) que atuam em Mato Grosso do Sul concordam que o fenômeno já vinha acontecendo, mas foi acelerado com a pandemia, quando muita gente perdeu emprego e descobriu que dá para empreender ou trabalhar de casa e fazer em menos horas o mesmo que fazia em oito horas diárias.
"E agora, José?"
O que os especialistas de RH têm a dizer sobre isso? A resposta é simples.
Empresas vão continuar tendo perdas se não olharem para esse fenômeno, aceitá-lo e criar estratégias para manter os empregados.
É o que a especialista em Desenvolvimento e Implantação de Processos de RH Maildes Marinho aconselha aos seus clientes, que buscam cobrir vagas abertas desesperadamente, principalmente na área de tecnologia, escassa em profissionais qualificados, que foram os primeiros a perceber que podem "dar as cartas" no emprego.
Vendas, contabilidade e mercado financeiro também têm empresas caçando profissionais na concorrência todos os dias para suprir as vagas de quem pediu demissão em MS.
Cadê eles?
Estão por aí, buscando “um sentido para seus empregos”, nas palavras de Maildes. "Muitos foram para o empreendedorismo. Outros querem um emprego para conciliar com o atendimento a outros clientes ou sua própria empresa”, revela.
Maildes explica que a maioria entre os que pedem demissão ainda quer a “segurança” de ser empregado. Os especialistas chamam isso de “questão cultural”, pois entendem que os profissionais estão começando a perceber que é possível viver sem ser empregado, mas ainda não se sentem 100% seguros para tal, já que viram seus pais e avós sobrevivendo a base de empregos formais.
“Essas pessoas que se demitiram ainda buscam mesclar as duas coisas, salário fixo e empreendedorismo e isso já está sendo um desafio para as empresas. A palavra é flexibilizar. Não dá para exigir exclusividade. Todo mundo descobriu, na marra, que o empreendedorismo dá certo. Por outro lado, a empresa tem que entender que precisa ser menos rígida e negociar horários e formas de trabalho”, aconselha Maildes.
É um caminho sem volta, segundo Sanger. “Hoje, quem dita como, quando e o que são os profissionais. As empresa precisam criar estratégias para sobreviver, porque a consequência de demissões é a perda de talentos e, consequentemente, a perda de resultados, de clientes e de dinheiro”, explica.