Festas, Ferrari e viagens colocaram família de Mundo Novo na mira da PF
Máfia é alvo de Operação Laços de Família, da PF, deflagrada na manhã desta segunda-feira para cumprir 230 mandados
A quadrilha alvo da operação Laços de Família não censurava a ostentação no Facebook. As práticas do clã "Molina" chamaram a atenção em uma cidade de apenas 18 mil habitantes, Mundo Novo, a 476 km de Campo Grande. O grupo é acusado de “lavar” dinheiro do tráfico internacional em 10 empresas. Nas redes sociais, a movimentação milionária começou a ser descoberta em fotos de carros veículos de luxo, viagens internacionais e uma super festa de casamento.
A Polícia Federal frisou que o comportamento da família na pequena cidade estava completamente diferente do estilo de vida do restante da população, incompatível também com o salário do chefe da família, o subtenente da Polícia Militar Silvio Molina.
Nos perfis dos familiares, principalmente da esposa e das 2 filhas, as fotos são de deixar qualquer um desconfiado. A exposição na internet soma viagens à Paris, Orlando, passeios com helicópteros, chegada luxuosa da filha de Molina a um casamento usando Limousine, além de exibição de Ferrari, lanchas e jet-skis.
Com a Ferrari, de placas de Brasília, Jefferson Henrique Piovezan Azevedo Molina, filho de Molina, chegou a invadir um rodeio da cidade para chamar a atenção e exibir o luxo. Jefferson também dirigia Ferrari na Europa, quando publicou fotos em Paris. O veículo está ainda registrado em nome de empresário de Curitiba, dono de um loja de peças.
Jefferson foi assassinado com 8 tiros no ano passado, no Centro de Mundo Novo, aos 25 anos. Ele adminsitrava uma transportadora da família.
Conforme o delegado, a execução pode ser consequência da violência empregada pela família na região, inclusive com uso de tortura contra desafetos. A máfia, como apontada pela PF, não pertencia às facções conhecidas no Brasil, porém, tinha ligações comerciais diretas com o PCC e com o tráfico internacional, fornecendo e comprando drogas.
Só na fase de investigação, o grupo perdeu R$ 61 milhões em negócios, aponta a PF. Agora, as ordens judiciais incluem sequestro de sete helicópteros, sendo uma das aeronaves usadas para levar Gegê do Mangue e Paca, lideranças da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), para execução.
Conforme a polícia, a estratégia garantia “vida luxuosa e nababesca [requintada] aos patrões do tráfico internacional de drogas, que incutiam o temor e o silêncio na região, pela sua violência e poderio”. Também eram utilizados helicópteros para transportar joias, dadas em pagamento pelas drogas.
Laços de Família – A Operação Laços de Família é resultado de investigação que começou em 2015. Nesta segunda-feira (25), equipes da PF foram às ruas de 5 Estado para cumprir 230 mandados de prisão, apreensão e sequestro de bens. Até o fim da manhã, 21 pessoas haviam sido presas, 15 delas em Mato Grosso do Sul – 2 mulheres e 12 homens, sendo 2 presos temporários e 10 homens presos preventivamente.
Ainda segundo a PF, muitos dos alvos de mandados de prisão preventiva já são presidiários, mais uma evidência da ligação do clã com facções criminosas que agem de dentro dos presídios do país.
Dos 15 pessoas, segundo o delegado Luciano Flores de Lima, superintendente da Polícia Federal de Campo Grande, sete devem ser levadas para a Penitenciária Federal da Capital, “após autorização do juiz responsável em conceder a vaga”, devido ao grau de periculosidade e participação no esquema. O subtenente e outro PM serão transferidos para o Presídio Militar.
Durante o cumprimento dos 35 mandados de busca e apreensão, três pessoas foram presas em flagrante por posse ilegal de arma de fogo. A PF só não detalhou também se os mesmos já eram alvos de mandados de prisão.
Para a Operação Laços de Família, foram expedidos no total 20 mandados de prisão preventiva, 2 de prisão temporária, 35 de busca e apreensão em residências e empresas, 136 de sequestros de veículos, 7 mandados de sequestro de aeronaves (helicópteros), 5 de sequestros de embarcações de luxo (incluindo o de um iate usado pelo PM considerado o cabeça do esquema e pela família dele para lazer) e 25 mandados de sequestro de imóveis (apartamentos, casas, sítios, imóveis comerciais).
Dez empresas foram identificadas como pessoas jurídicas que facilitavam a lavagem do dinheiro oriundo do tráfico, todas foram fechadas por ordem da 3ª Vara Federal de Campo Grande.