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Cidades

Funai e órgãos de saúde nem sabiam que "indiozinho" mora em hospital

Natalia Yahn | 22/01/2016 08:20
Edemar "mora" na Santa Casa deve passar por uma cirurgia no coração. (Foto: Marcos Ermínio)
Edemar "mora" na Santa Casa deve passar por uma cirurgia no coração. (Foto: Marcos Ermínio)

Enquanto o menino indígena Edemar Gonçalves da Silva, 4 anos, aguarda por uma cirurgia cardíaca que pode salvar sua vida, as autoridades de saúde e de proteção ao índio fazem um jogo de empurra em relação à responsabilidade e solução do caso.

A coordenação regional da Funai (Fundação Nacional do Índio), em Campo Grande, foi procurada para falar do caso, mas não sabia da situação. Informou ser responsabilidade da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) o atendimento na área de saúde para os indígenas de Mato Grosso do Sul.

Já o coordenador estadual da Sesai, Hilário da Silva, só soube do caso ontem (21), por intermédio da reportagem do Campo Grande News, após a publicação da notícia que mostrou a espera do menino pelo procedimento.

Ele esteve na Santa Casa na tarde dessa quinta-feira, para uma reunião com o presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), Esacheu Nascimento, onde tratou de outros assuntos em relação ao atendimento dos índios. “Como soube do caso do Edemar, questionei o hospital e fui informado que a cirurgia é de risco, mas está para acontecer. Realmente estava tudo pronto para fazer o procedimento quando ele nasceu, como os pais não autorizaram, a situação dele se agravou”, disse Hilário.

Edemar tem um grave problema no coração, conhecido como anomalia de Ebstein. Ele nasceu com a doença rara que provoca insuficiência cardíaca por conta de uma má formação. Na época do nascimento a Santa Casa chegou a adquirir todos os materiais necessários para realizar o procedimento, mas os pais não autorizaram a cirurgia e levaram o garoto para a Aldeia Bororó, em Dourados – a 230 quilômetros de Campo Grande – onde viveu até ser internado em dezembro de 2014.

Edemar recebe o carinho de funcionárias da Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)
Edemar recebe o carinho de funcionárias da Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)

Atualmente os indígenas do Estado não recebem atendimento de saúde diferenciado. “As pessoas, indígenas ou não, acham que a Sesai é um sistema de saúde paralelo, e não é. Os índios usam o mesmo SUS (Sistema Único de Saúde) disponível para todas as pessoas. A única diferença é que na aldeia é feito o trabalho de assistência básica. Porém casos de média e alta complexidade são responsabilidades dos gestores municipal e estadual, então não tem prioridade, ninguém fura fila”, afirmou o coordenador da Sesai.

A espera do “indiozinho” rendeu mais de um ano internado nos dois hospitais. No HU (Hospital Universitário) de Dourados, Edemar deu entrada no dia 4 de dezembro de 2014, com uma grave pneumonia. Na época ele foi levado para o hospital pela irmã, Jaqueline Lopes, 23 anos – que atualmente o acompanha. Por isso precisou esperar 10 meses até ter a saúde restabelecida e poder transferido para a Santa Casa da Capital, onde chegou no dia 28 de outubro de 2015.

Ele vive na Santa Casa como se fosse seu próprio lar. Lá ele já considera as enfermeiras como mãe, avó, tias e madrinhas. “Ele foi praticamente adotado, é muito bem cuidado”, disse Hilário da Silva.

Somente após a publicação da reportagem pelo Campo Grande News a SES (Secretaria de Estado de Saúde) estabeleceu prazo – de uma semana – para que o procedimento, que vai preparar Edemar para a cirurgia, seja realizado.

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