Gravações demonstram poder de intimidação da quadrilha
Audiência nesta tarde na Auditoria Militar mostrou o grau de intimidação da quadrilha que explorava jogos de azar, sob comando do Major da reserva Sérgio Carvalho e até possibilidade de crime contra o Fisco Estadual.
Interceptações telefônicas mostraram que o capitão da PM (Polícia Militar) Paulo Roberto Xavier ameaçava a concorrência e dava cobertura aos locais onde havia máquinas caça-níqueis pertencentes ao major.
As gravações apresentadas mostram a voz de um homem truculento. Apontado como braço direito do major Carvalho, o capitão Xavier e o cabo Marco Massaranduba prestaram depoimento esta tarde na Auditoria Militar.
Xavier e Massaranduba são acusados de crimes de cárcere privado, falsidade ideológica, denunciação caluniosa, peculato, prevaricação, ameaça, chantagem, exercício de comércio por oficial, concussão, além de corrupção passiva e ativa.
Nas gravações após escutas telefônicas, uma voz bastante parecida com a do capitão, oscila entre a gentileza e a violência.
Embora o homem inclusive se identifique como Paulo em vários momentos, o capitão nega que a voz seja dele.
As primeiras perguntas do interrogatório foram referentes ao crime de cárcere privado. Segundo a denúncia, o capitão manteve refém o filho de uma mulher que explorava jogos de azar por um grupo concorrente ao do major Carvalho. Na ligação, um homem liga para o capitão e diz que é para Xavier soltar o rapaz, caso contrário, seria delatado.
A resposta foi um palavrão. Somente trinta minutos depois o rapaz foi libertado e a consequência foi a apreensão das máquinas do concorrente. O interrogado afirma que a voz não era dele, apesar de admitir que foi ao local "apenas para averiguar o cumprimento da Lei Seca."
Ao chegar no estabelecimento, a única pessoa que lá estava fugiu pelos fundos, conforme o capitão. O MPE aponta ainda que o cabo Massaranduba era o motorista de Xavier no dia, apesar dos dois estarem de folga no dia da ocorrência.
O capitão alega ainda que recebeu a oferta de propina para não apreender os equipamentos, porém, não revela o valor proposto. Para finalizar, o capitão diz não conhecer o rapaz que foi mantido em cárcere privado.
Empresário - As gravações também revelam a truculência do militar também para resolver questões particulares, da cerâmica Bem-te-vi, registrada em nome da esposa de Xavier, identificada como Cristiane. O capitão garante que não administrava a empresa e que pouco se envolvia nos negócios.
Contudo, uma escuta traz o diálogo entre um empresário do estado de São Paulo e a voz que Xavier afirma não ser dele. Numa discussão "acalorada" é feita a ameaça ao empresário para evitar a entrada de concorrentes no ramo de cerâmica em Mato Grosso do Sul.
A briga é feia, com som confuso, mas em determinado ponto a voz que seria do capitão fala: "Você sabe quem eu sou? Vou te matar aí".
A denúncia também revela esquema para burlar o fisco estadual, com objetivo de beneficiar veículos que transportassem mercadorias da Bem-te-vi.
Servidores de posto fiscal na divisa com São Paulo eram pagos para não fiscalizar as cargas da empresa, segundo denúncia.
Cocaína - Em outro caso, contra um ladrão que roubou um caminhão da transportadora de Xavier, o capitão aparece contando que recuperou o bi-trem com chantagem, acusa o Ministério Público. Ele teria ameaçado o homem de forjar um flagrande de apreensão de cocaína na casa da mãe do assaltante.
Incrédulo - Com semblante no mínimo contrariado, o juiz Alexandre Antunes questionou o réu: "O senhor não reconhece sua voz? E se su voz for periciada e der que é o senhor?". Novamente o capitão respondeu com o sonoro: não.
O depoimento do cabo Massaranduba, previsto para hoje, foi adiado para quinta-feira, quando também será interrogado o major Carvalho.