Índios avisam à Anistia que vão retomar terras "por conta própria"
Em encontro com o secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, cerca de 150 lideranças indígenas de todo o Estado foram, unânimes, no discurso de retomar suas terras e fazer a demarcação por conta própria. Eles declaram-se cansados de esperar por uma ação do Governo Federal e estão decididos a iniciar a retomada das áreas nos próximos dias.
A informação é do coordenador regional do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Flávio Machado, que acompanhou a agenda de Shetty, nesta quarta-feira (7), em Dourados. Esta foi a primeira vez que o secretário-geral da Anistia Internacional veio ao Brasil.
A programação dele começou com visita ao Acampamento Indígena Apikay, na beira da rodovia. Lá, ele ouviu a história da cacique Damiana, que, em seis anos, viu seu marido, dois filhos e dois netos morrerem atropelados. O problema é o principal da comunidade, que também foi alvo de vários ataques, quando casas foram queimadas.
Ao lado de Damiana, Shetty foi visitar o túmulo dos parentes dos cerca de 40 índios que residem no acampamento. Na ocasião, ele observou a presença suspeita de seguranças, não identificados. “Essa é a terceira vez que vou ao local e sou vigiado”, contou o coordenador do Cimi.
Na sequência, Shetty seguiu à Aldeia Indígena Jaguapiru para participar de encontro com lideranças de todo o Estado. “Os índios relataram os problemas das comunidades e avisaram retomar, em prazo curto, por conta própria suas terras”, relatou Machado.
A promessa do governo era fechar, neste mês de agosto, a compra de terras na região do Buriti para devolver aos índios. O plano era usar a negociação como modelo para a reintegração das áreas em todo o Estado. Segundo o Cimi, em Mato Grosso do Sul a situação dos índios é a pior da América, com índices recorde de desnutrição, mortalidade infantil, suicídio e homicídios.
Em resposta ao apelo dos líderes, Shetty prestou solidariedade. “Ele terá, na sexta-feira (9), reunião com o primeiro escalão do Governo Federal e a nossa expectativa é de que ele cobrará ações imediatas”, disse o coordenador regional do Cimi.
Segundo ele, a missão da Anistia Internacional é interceder pelos direitos de todos os grupos sociais. Atualmente, três milhões de pessoas do mundo todo fazem parte da organização.