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Interior

Acompanhados pela PM, arrendatários deixam fazendas invadidas por indígenas

Comandante do batalhão de Ponta Porã lidera operação para evitar confronto no município de Antônio João

Por Helio de Freitas, de Dourados, e Mylena Fraiha | 28/09/2023 17:16


Após princípio de tensão na manhã desta quinta-feira (28), arrendatários começaram a deixar propriedades rurais invadidas desde domingo (24) por indígenas que lutam pela posse de 9.500 hectares do Tekoha Ñande Ru Marangatu, no município de Antônio João, fronteira com o Paraguai. Equipes da Polícia Militar e da Força Nacional acompanham a saída dos agricultores para evitar confrontos (veja o vídeo acima).

A disputa entre fazendeiros e a comunidade indígena ocorre há quase 25 anos. Palco de vários conflitos até com morte, a área foi demarcada e homologada em 2005, mas a batalha judicial travada pela posse impediu, até agora, os guaranis-kaiowás de ocuparem as terras.

No domingo, afirmando estarem cansados de esperar por definição da Justiça, os indígenas ocuparam a Fazenda Morro Alto, ao lado da Aldeia Marangatu. Na noite do mesmo dia, equipes da Polícia Militar se deslocaram para a área, para evitar confrontos.

Na terça-feira (26), os indígenas ampliaram a ocupação e entraram também na Fazenda Fronteira. Hoje, iniciaram movimentação para ocupar também a Fazenda Barra. Todas as propriedades pertencem à família do ex-prefeito de Antônio João, Dacio Queiroz Silva.

“Estamos na área desde domingo para garantir a paz entre os dois lados, preservar vidas e permitir que os arrendatários retirem seus equipamentos e insumos. De um lado estão os indígenas, do outro os arrendatários e no meio a Polícia Militar com equipes da Força Nacional”, afirmou ao Campo Grande News o tenente-coronel Edson Guardiano, comandante do 4ª Batalhão, em Ponta Porã.

Policiais conversam com indígenas que retomaram invasões em Antônio João (Foto: Divulgação)
Policiais conversam com indígenas que retomaram invasões em Antônio João (Foto: Divulgação)

O comandante afirmou que apesar do aparente clima de tensão, a situação está sob controle, devido à presença dos policiais. Guardiano conversou com lideranças indígenas, pediu compreensão com o trabalho e disse que a PM não é inimiga de nenhum dos lados (veja o vídeo acima).

“Estamos garantindo que os arrendatários possam tirar seus bens e materiais para minimizar prejuízos e negociamos com os indígenas para não destruírem nada e evitar conflito na retirada do material. Há muitos insumos, maquinários, móveis e veículos”, explicou.

Tumulto – Segundo o oficial da PM, hoje de manhã, durante a retirada de pertences dos arrendatários, houve princípio de tumulto entre uma moradora e uma indígena. A indígena chegou a desmaiar de nervosa, mas o policial interveio e controlou a situação. A mulher não precisou de atendimento.

Novas invasões  – Segundo ocorrência registrada na Polícia Civil, os indígenas começaram a surgir na Fazenda Morro Alto, por volta de 23h de domingo. No local, montaram acampamento.

Já na noite de terça-feira para quarta-feira, novo acampamento foi montado na Fazenda Fronteira, atualmente totalmente invadida. Lideranças disseram o número de indígenas acampados nas duas fazendas gira em torno de 300 pessoas.

De acordo com a vereadora de Antônio João, Inaye Kuña Ñevangaí, que também é liderança da Ñande Ru Marangatu, “os indígenas da região estavam cansados de esperar o julgamento do território e optaram por iniciar novo acampamento”. Segundo ela, as lideranças inicialmente não demonstraram apoio ao movimento, mas agora, após decisão coletiva, resolveram apoiar.

A proprietária da Fazenda Barra e presidente do Sindicato Rural de Antônio João, Roseli Pio, ainda não se manifestou sobre os recentes acontecimentos.

A filha dela, Luana Ruiz, disse ao Campo Grande News, que a situação é complicada e de conflito. "Eu preciso esperar um pouquinho, porque a situação é delicada. Nós vamos estabelecer diálogo dos dois lados, para a manutenção da paz, esse é o nosso objetivo. Mais detalhes eu vou aguardar primeiro as manifestações. Não vou falar nada, para não correr o risco de falar algo que não condiz com a realidade", afirmou ela, ontem à tarde.

Famasul – Nesta quinta-feira, o presidente da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Marcelo Bertoni, criticou as invasões de terra e defendeu o diálogo.

“[ocupações] São muito prejudiciais ao bom relacionamento e ao convívio e à conversa. Acho que o diálogo é o melhor caminho. Não é o momento de tomar as invasões como forma de fazer pressão para coisa que não tem decisão nenhuma. Ainda está tudo meio conturbado, sem saber para que lado ir. Então, acho que essas invasões teriam que cessar, para a gente conseguir sentar na mesa e conversar. Já esperou por tanto tempo, esperar um pouco mais talvez seria mais prudente nesse momento”, afirmou, em entrevista coletiva, em Campo Grande.

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