Cabeça Branca tinha “mar de terra” para pouso de aviões com cocaína
Quarta fase da Operação Spectrum prendeu hoje dois funcionários do traficante que cuidavam da logística para enviar cocaína pelo Porto de Paranaguá para a Europa
Delegados da Polícia Federal que investigam a organização criminosa liderada por Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, afirmam que o narcotraficante montou um “mar de terra” no Mato Grosso para pouso dos aviões que trazem cocaína da Bolívia, Peru e Colômbia. Já foram identificadas 16 fazendas que juntam somam 40 mil hectares de terra na imensidão mato-grossense.
Só nesta quinta-feira (22), quando foi deflagrada a Operação Sem Saída, quarta fase da Operação Spectrum – iniciada em 1º de julho de 2017 com a prisão de Cabeça Branca – são 11 mil hectares bloqueados por ordem da Justiça.
Dois funcionários do mega traficante que foi sócio de Jorge Rafaat Toumani e por muitos anos operou na fronteira com Mato Grosso do Sul, foram presos hoje – um em Curitiba (PR) e outro no Mato Grosso.
Em entrevista coletiva na capital paranaense para falar da quarta fase da operação, os delegados da PF Élvis Aparecido Secco e Roberto Biazolli informaram que os dois tinham papel fundamental na quadrilha. Os nomes não foram divulgados pela PF. Outras 14 pessoas foram presas temporariamente.
Os dois subchefes da quadrilha eram responsáveis pela logística para transportar a cocaína das fazendas no Mato Grosso até o Porto de Paranaguá, no Paraná, de onde a droga seguia em containers para a Europa.
A quarta fase da operação tem como objetivo desmantelar o patrimônio financeiro da quadrilha. “Apreensão de droga por si só não causa o impacto que a PF deseja”, afirmou Élvis Secco.
Dois núcleos foram alvos da operação de hoje, um do MT e outro do Paraná. “Todos que tenham ligação com Luiz Carlos da Rocha estão sendo investigados e responsabilizados, por isso o nome da operação sem saída”, disse o delegado.
No shopping – Meses antes da prisão de Cabeça Branca, os dois homens tinham sido gravados por câmeras do Shopping Iguatemi, em São Paulo na companhia do traficante. Inicialmente a PF achou que fossem seguranças dele, mas depois descobriu que eram membros importantes da quadrilha. As camisas usadas por eles no encontro com o chefão foram apreendidas nas buscas de hoje.
“Após a prisão do Luiz Carlos da Rocha descobrimos qual era o papel deles na organização: ajudavam no transporte de cocaína e na lavagem de dinheiro através de empresas e fazendas”, explicou Élvis Secco.
“Comer a cabeça” – O delegado Roberto Baziolli disse que as investigações mostram como Cabeça Branca agia com mão de ferro e através da violência para controlar o milionário esquema para mandar cargas de cocaína para países europeus.
Em áudios descobertos pela PF no celular de Luiz Carlos da Rocha, o traficante manda os dois homens presos hoje resolverem um problema de desvio de carga de cocaína no Porto de Paranaguá e diz que iria “comer a cabeça” do culpado se não recebesse cada centavo que era seu.
Logo após as ameaças a droga apareceu. O traficante preso nesta quinta em Curitiba foi a Paranaguá e alugou um imóvel para guardar o carregamento até ser enviado para a Europa. Ele pagou o aluguel com um cheque sem fundo.
“Esse investigado era o responsável pela logística para transporte da droga em caminhões, das pistas de pouso em fazendas no Mato Grosso, até o porto paranaense”, afirmou o delegado.
Segundo a PF, até agora já foram identificados e sequestrados R$ 500 milhões em patrimônio só no Brasil. Na quarta fase da operação deflagrada hoje foram R$ 100 milhões em patrimônio bloqueados, principalmente em propriedades rurais.
A quadrilha tinha várias formas de enviar cocaína de navio para a Europa. Blocos de concreto e até máquinas agrícolas eram usadas para esconder a droga. Uma máquina dessa foi apreendida recheada de cocaína na Itália.
Cabeça Branca era investigado há pelo menos 30 anos, mas a polícia não tinha conseguido chegar até ele porque, segundo a PF, o traficante operava sem chamar a atenção e sem se envolver diretamente com os carregamentos.
“Você nunca ia prender o Luiz Carlos da Rocha envolvido direto com um carregamento de cocaína. Ele foi preso porque nos dedicamos à lavagem de dinheiro. Tem que seguir o dinheiro. O traficante tem família, tem amigo, e muitas vezes esse amigo tem rede social, coloca fotos, não há segredo”, disse Élvis Secco.
Segundo o delegado, demorou para o bandido ser preso porque o foco da investigação estava equivocado. “Fizemos algo que nunca tinha sido tentado antes, que foi ir atrás do patrimônio”. Luiz Carlos da Rocha está preso no Presídio Federal de Catanduvas, no interior do Paraná.