Com caminhonetes, produtores cercam acampamento indígena em área de conflito
Sem acordo no MPF, noite passada foi de mais ameaças de despejo forçado em Douradina
“Daqui meia hora o bambu vai envergar, vamos avançar, todo mundo organizado para o grande conflito”. A frase é de um dos produtores rurais que fazem cerco à área ocupada por indígenas no município de Douradina.
A noite passada foi de mais tensão e ameaças de ataque por parte dos fazendeiros para despejo por conta própria, mas não há relatos de confronto.
Vídeos postados pelos dois lados do conflito em redes sociais e grupos de aplicativo de conversa mostram o clima tenso na área Panambi/Lagoa Rica. As imagens mostram os indígenas em alerta, reunidos de um lado das terras. Do outro, várias caminhonetes com faróis ligados (veja acima).
Em um dos vídeos, gravado pelos produtores rurais, homem não identificado diz que fazendeiros e indígenas “estão organizados” para o “grande conflito”, ameaça que não se concretizou.
“Também ta chegando a Tropa de Choque, Pollon também ta chegando com a liderança”, afirma o homem, possivelmente se referindo ao deputado federal Marcos Pollon (PL-MS), representante dos ruralistas e integrante da “bancada da bala” no Congresso Nacional.
A tensão noturna ocorreu horas após fracassar a primeira tentativa de acordo, durante reunião no MPF (Ministério Público Federal), em Dourados.
Representantes dos produtores, os deputados federais Marcos Pollon e Rodolfo Nogueira (PL-MS), os estaduais Coronel David (PL) e Gleice Jane (PT) e a senadora Tereza Cristina se reuniram com o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida, mas não houve consenso sobre um desfecho amigável.
Conforme Anderson Santos, advogado do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e que participou da reunião, as negociações vão continuar durante a semana e novo encontro foi agendado para o dia 29 deste mês.
Sobre o clima de tensão na noite passada, Anderson disse não ter sido informado sobre confrontos em Douradina. Segundo ele, a Tropa de Choque a Polícia Militar chegou a ir ao local no domingo (21), mas não interferiu.
Produtores rurais continuam acampados perto da área ocupada pelos indígenas no dia 14 deste mês. No meio dos dois grupos estão equipes da Força Nacional, enviadas ao local para evitar novos confrontos.
Os indígenas cobram a retomada demarcação da área de 12 mil hectares, identificada em 2011 pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), mas o processo está parado na Justiça.
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