Enquanto Paraguai faz até trincheira, Brasil só fechou fronteira no papel
Na Linha Internacional não há movimentação de policiais brasileiros; em Ponta Porã, população ignora pandemia e lota as ruas
Com o país em situação de emergência por causa da pandemia do novo coronavírus, autoridades sanitárias do Paraguai estão escavando até valas para barrar a passagem de pessoas na fronteira com Mato Grosso do Sul. Foi o que ocorreu na manhã desta sexta-feira em Ypejhú, cidade paraguaia vizinha de Paranhos (MS), a 469 km de Campo Grande. Retroescavadeira foi usada para abrir uma vala no trecho de terra entre as duas cidades.
Em Capitán Bado, desde quarta-feira (18) os acessos para Coronel Sapucaia estão interditados por militares armados. Mesma situação foi observada hoje na linha entre as cidades-gêmeas Pindoty Porã (Paraguai) e Sete Quedas (MS). Do lado paraguaio, todas as lojas fecharam as portas a pedido da prefeitura.
Na Ponte Internacional da Amizade, entre Bella Vista Norte e Bela Vista (MS), militares paraguaios fizeram uma barreira e ninguém pode sair ou entrar. O mesmo ocorre na estrada entre Salto del Guairá e Mato Grosso do Sul, na região de Mundo Novo. O comércio de Salto também fechou as portas.
Hoje de manhã, o ministro da Saúde do Paraguai Julio Mazzoleni informou que a quarentena pode ser ampliada após a confirmação de dois casos da Covid-19 supostamente por transmissão comunitária. Se a medida for tomada, só postos de combustíveis, mercados e farmácias poderão abrir naquele país, das 9h às 14h.
Ao mesmo tempo em que o Paraguai corre para fechar as portas ao novo vírus, do lado brasileiro não havia, até o início da tarde de hoje, qualquer movimentação para cumprir a decisão do governo Jair Bolsonaro, que ontem mandou fechar as fronteiras com a maioria dos vizinhos sul-americanos.
Moradores e jornalistas locais consultados pelo Campo Grande News afirmam que não existe ainda mobilização de tropas federais para colocar em prática o fechamento da fronteira com o Paraguai.
Ao anunciar o decreto, ontem, Bolsonaro disse que a medida não seria colocada em prática em cidades-gêmeas, como Ponta Porã/Pedro Juan Caballero e Paranhos/Ypejhú devido ao trânsito intenso de moradores de um lado ao outro da Linha Internacional.
Em nota encaminhada pela assessoria de imprensa, a Superintendência da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul informou que segue trabalhando, mantendo atendimento aos casos urgentes e tomando todas as medidas para evitar o acúmulo de pessoas.
“No que tange à questão de fronteiras, os policiais federais estão presentes e atuando, dando cumprimento aos casos estabelecidos na portaria nº 125, de 19 de março de 2020, dos ministros chefe da Casa Civil da Presidência da República, da Justiça e Segurança Pública e da Saúde”, afirmas a PF.
Controle frouxo – O bloqueio paraguaio só não é intenso ainda em Pedro Juan Caballero, cidade-gêmea de Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande. Nos três pontos de acesso instalados pela FTC (Força Tarefa Conjunta) na rua que separa as duas cidades, soldados usam termômetro para medir a temperatura das pessoas. Quem está a pé ou de veículo com placa do Paraguai ou de Ponta Porã pode entrar tranquilamente naquele país.
Mas o que mais preocupa naquele trecho da fronteira é a falta de ações do lado brasileiro. Enquanto 90% das lojas de Pedro Juan, incluindo os grandes shoppings de importados, estão fechadas desde o início da semana, em Ponta Porã o comércio funciona a todo vapor.
Na manhã desta sexta-feira era intenso o movimento de carros nas ruas de Ponta Porã e filas em frente às agências bancárias, contrariando recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) para evitar aglomerações.
“Aqui está muito difícil. Só se chamar a polícia. Já tomamos todas as providências. Mas com a alta do dólar, os paraguaios compram aqui, assim como nós fazemos lá quando o dólar está baixo. Mas a Procuradoria vai adotar medidas para restringir o comércio”, afirmou ao Campo Grande News o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo Filho (PSDB).