Hackers fraudaram auxílio emergencial para “torrar” em compras
Os dois alvos da operação de hoje moram em Deodápolis e têm em torno de 20 anos de idade
Dois jovens hackers, com idade na casa dos 20 anos, foram os alvos dos mandados de busca e apreensão da Operação Inescrupulosos, deflagrada hoje (27) pela Polícia Federal para apurar fraudes na obtenção do auxílio emergencial.
Os dois são amigos e moram em Deodápolis, cidade de 13 mil habitantes localizada a 252 km de Campo Grande. Com o dinheiro recebido ilegalmente em nome de outras pessoas, eles compravam de tudo, de narguilé a bebidas.
“Torravam em compras pela internet”, disse o delegado da PF Luis Henrique Corrêa da Silveira, responsável pela investigação. A dupla também pagava a internet para os vizinhos, para utilizar o wi-fi de outras pessoas e dificultar o rastreamento do IP dos computadores usados no esquema.
O programa de transferência de dinheiro foi adotado no ano passado pelo Governo Federal para reduzir os impactos da pandemia de covid-19 entre a população mais pobre do País, mas virou alvo de golpistas, principalmente experts em computação e internet.
Em apenas uma semana, em março de 2020 – quando o auxílio emergencial foi instalado – os dois moradores de Deodápolis receberam 19 benefícios ilegais.
A Polícia Federal ainda não sabe ao certo o valor total da fraude, mas está confiante que novas provas vão surgir após a perícia nos documentos, computadores e celulares apreendidos durante as buscas de hoje. “De imediato já identificamos pelo menos mais cinco pessoas envolvidas nos golpes”, disse o delegado Corrêa.
Ele e o delegado Marcelo Guimarães Mascarenhas concederam entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira na sede da Polícia Federal em Dourados para falar da operação desencadeada em Deodápolis.
Quadrilha nacional – Apesar de a operação de hoje ser independente de outras investigações em andamento em Mato Grosso do Sul, a Polícia Federal suspeita que os dois hackers deodapolenses façam parte de uma quadrilha nacional. “Só em 2020 foram identificadas 1,3 milhão de fraudes semelhantes no País”, disse Luis Corrêa.
Segundo a PF, as investigações sobre os hackers de Deodápolis começaram em maio deste ano a partir da análise de informações registradas na Base Nacional de Fraudes ao Auxílio Emergencial.
Os dois criavam contas fraudulentamente em nome de terceiros no aplicativo “Caixa TEM” e depois pagavam boletos cujos valores iam parar em outras contas bancárias.
Conforme os delegados que conduzem as investigações, o golpe é tão engenhoso que fica difícil pedir a prisão dos suspeitos devido ao risco de prender um inocente.
“A pessoa que teve o nome usado pode ser inocente. Tem caso em que os golpistas conseguiram viabilizar o pagamento e o dinheiro está lá na conta e nem o beneficiário de boa-fé sabe disso. Os grupos têm criatividade exacerbada. Por isso é preciso aprofundar as investigações”, explicou Luis Corrêa.
“Envolve dinheiro público, envolve o brasileiro mais sofrido, que mais precisa desse auxílio para comprar alimento, comprar remédio. Independente do valor, a gente trabalha com a mesma dedicação como se estivesse investigando uma quadrilha pega com 250 quilos de cocaína”, disse o delegado.
O nome da operação faz alusão ao modo de atuação dos investigados que, mesmo diante da pandemia, vislumbraram oportunidade de fraudar o auxílio emergencial sem se importar com a vulnerabilidade dos que ealmente precisam da ajuda.