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Interior

Índios bloqueiam BR contra mudança na Constituição e ordem de despejo

Caroline Maldonado | 21/10/2015 08:45
Cerca de 50 indígenas bloqueiam BR 136 (Foto: Olimar Gamarra/Rio Brilhante News)
Cerca de 50 indígenas bloqueiam BR 136 (Foto: Olimar Gamarra/Rio Brilhante News)

Após a suspensão da liminar que determinava a reintegração de posse das fazendas ocupadas pelos Guarani Kaiowá, na região de Antônio João, um grupo de indígenas iniciou bloqueio na BR 163, em Rio Brilhante, a 136 quilômetros de Campo Grande, em protesto contra a aprovação da PEC 215 (Proposta de Emenda à Constituição), que transfere do Governo Federal para o Congresso, a competência de demarcar terras e proíbe a ampliação das áreas já demarcadas. Eles também se manifestam contra reintegração de posse em outra área, prevista para sexta-feira (23).

Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), a interdição é total no KM 308, desde as 06h e o congestionamento chega a 5 km. Os condutores fazem desvio por Maracaju, pela BR 267, o que aumenta o percurso em, aproximadamente, 130 km.

Há cerca de 50 manifestantes, que além de ser contra a PEC 215, manifestam sentimento de luto pela decisão de reintegração de posse nas fazendas ocupadas. Eles realizam rituais, enquanto bloqueiam a rodovia. A PEC entrou em pauta ontem (20) na Câmara dos Deputados, mas a votação foi adiada após protestos de indígenas. A votação pode ocorrer hoje.

Ñanderu Marangatu - A liminar que pedia a reintegração de posse de três fazendas em Antônio João foi suspensa nesta madrugada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Com isso, os indígenas encerraram um primeiro bloqueio feito na MS-384. Cerca de 60 pessoas, entre homens, crianças e mulheres bloqueavam a via com paus, galhos e pedras.

Essas propriedades integram a área conhecida pelos índios como Ñanderu Marangatu, local onde o índio Semião Fernandes Vilhalba, 24 anos, morreu com um tiro na cabeça, durante confronto com fazendeiros, em agosto deste ano, quando voltaram a ocupar a área, uma década depois de serem despejados por ordem da Justiça. Eles reivindicam 9.317 hectares, cuja demarcação já foi homologada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005.

Índios encerraram bloqueio na MS 384 nesta manhã, após suspensão de despejo em Ñanderu Marangatu (Foto: Eliel Oliveira)
Índios encerraram bloqueio na MS 384 nesta manhã, após suspensão de despejo em Ñanderu Marangatu (Foto: Eliel Oliveira)

Equipes da tropa de choque da Polícia Militar e da Polícia Federal foram até Antônio João ontem (20) para a reintegração, o que gerou medo nas famílias indígenas, mas os policiais permaneceram na base do Exército da cidade, já que a liminar foi suspensa.

Guaiviry Jovy - A reintegração de posse de uma das três fazendas, em Aral Moreira, a 364 quilômetros de Campo Grande, está prevista para sexta-feira (23). No entanto, os índios têm expectativa de reverter a decisão com apoio do MPF (Ministério Público Federal).

Segundo o órgão, as famílias foram expulsas de suas terras para dar espaço à expansão agropecuária na região, na década de 60, obrigados a migrar para as reservas indígenas criadas pelo extinto SPI (Serviço de Proteção aos Índios), como ocorreu com as demais comunidades, que hoje reivindicam território em MS. Em contrapartida, os fazendeiros afirmam que as áreas foram compradas de forma legal e os índios, que moravam na região, não faziam oposição a sua presença.

O Kaiowá Nísio Gomes, 59 anos, foi assassinado em 2011, no acampamento Guaiviry, após ataque de pistoleiros. Ele foi mais um entre os 12 líderes indígenas mortos em confrontos ou ataques surpresa e também virou notícia nos jornais internacionais. Os índios reclamam ainda centenas de mortes em função do que chamam de "confinamento" de suas comunidades, mas os fazendeiros alegam que os casos de desnutrição, violência e suicídio não têm relação direta com o aldeamento feito pelo SPI para dar lugar à agropecuária.

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