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Interior

Jogo de empurra entre polícias emperra apuração de morte de indígena há 4 meses

Alex Recarte Vasques Lopes foi assassinado com pelo menos cinco tiros, em maio deste ano

Natália Olliver | 24/09/2022 08:57
Policiais na região onde o corpo de Alex foi encontrado em maio. (Foto\Arquivo)
Policiais na região onde o corpo de Alex foi encontrado em maio. (Foto\Arquivo)

O assassinato do indígena Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, morto com pelo menos cinco tiros, no dia 21 de maio, em uma área entre Capitán Bado, no Paraguai, e Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, segue no “empurra-empurra” entre a  Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Nacional do Paraguai.

O processo é acompanhado pelo MPF (Ministério Público Federal), que divulgou, na terça-feira (20), portaria informando que até a data da publicação, não houve decisão judicial, provisória ou definitiva, a respeito de qual polícia ficará responsável pelas investigações. Enquanto isso, o caso segue sem esclarecimento.

A PF informou que ficou encarregada de esclarecer apenas se a morte tinha ou não relação com disputas territoriais, ou crimes contra a etnia. “À época dos fatos, foi instaurada Notícia de Crime em Verificação e a investigações concluíram que a morte do indígena Alex Recarte Vasques Lopes não tinha relação com conflito agrário ou crime contra a comunidade indígena”, relatou, mesmo sem detalhar como chegou a essa conclusão, apesar de vários questionamento da reportagem.

A PF também afirmou não ser responsável por esclarecer a causa da morte do indígena. “Nós fizemos as verificações, mas não gerimos o processo investigatório. A investigação do fato. A morte continuou a cargo da Polícia Civil, que detém as informações”, contou.

A Polícia Civil, por sua vez, explicou que como crime foi realizado do lado paraguaio a polícia de Coronel Sapucaia é a Polícia Nacional que fez os primeiros levantamentos à respeito do caso.

Conflito de décadas - Segundo o CIMI (Conselho Indigenista Missionários), além de Alex, nos últimos 5 anos outras 3 pessoas da família Lopes foram assassinadas: a rezadora Xurite Lopes, em 2007, e as lideranças Ortiz Lopes, também em 2007, e Oswaldo Lopes, em 2009 – todos casos sem condenações até hoje.  A entidade garante que o motivo de todas as execuções foi disputa com fazendeiros pela terra.

Após a morte,  a Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani Kaiowá publicou uma carta lamentando a tragédia. “Alex, menino de 18 anos, cheio de sonhos, como as demais crianças e jovens lutavam – porque, no MS [Mato Grosso do Sul], para um Kaiowá viver é lutar – para ter um futuro em meio à violência e genocídio que nos cerca. Ele é o quarto da família extensa Lopes que é assassinado em Coronel Sapucaia desde 2007, em uma sequência de ataques que nunca para e que nunca parou contra nossos territórios”.

O assassinato também motivou, como forma de protesto, a retomada de parte do território chamado de Guapoy, no município de Amambai e provocou mais uma morte na região. No dia 25 de julho, em confronto com o Batalhão de Choque, 8 indígenas foram baleados e um morreu.

Crime sem solução - O assassinato de Alex ocorreu na manhã de 21 de maio, lideranças da Aldeia Taquaperi, em Coronel Sapucaia, a 396 quilômetros de Campo Grande, informaram a polícia que havia rapaz morto na região de fronteira. À polícia, lideranças indígenas informaram que testemunhas ouviram pelo menos seis disparos e que Alex poderia ter sido morto na fazenda que faz divisa com a aldeia.

Seis horas depois, por volta das 22h, testemunhas viram uma caminhonete de cor preta indo até a fazenda e saindo rápido, deixando o portão aberto. Os indígenas desconfiam, conforme boletim de ocorrência, que a vítima foi morta pelo capataz e somente desovaram o corpo no país vizinho.

A irmã de Alex foi quem identificou o corpo, que foi encaminhado para o IML (Instituto de Medicina Legal) do Paraguai e depois, liberado para a família.

Relatório -  Conforme já noticiado, em junho, a morte do indígena Alex Recarte Vasques Lopes, foi inserido no relatório preliminar do Cedoc-CPT (Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra) sobre assassinatos em conflitos no campo em 2022. Os dados divulgados referem-se ao período de janeiro a maio deste ano e contabilizaram 19 mortes no País.

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