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Interior

Juiz aceita denúncia contra marido de promotora ligado a “Barão das Drogas”

Daniel Montenegro e outras 40 pessoas agora respondem por lavagem de dinheiro e organização criminosa

Helio de Freitas, de Dourados | 11/07/2023 16:06
O advogado Daniel Montenegro, no momento em que foi preso, ontem em Pedro Juan (Foto: Divulgação)
O advogado Daniel Montenegro, no momento em que foi preso, ontem em Pedro Juan (Foto: Divulgação)

A Justiça do Paraguai aceitou nesta terça-feira (11) a denúncia contra as 41 pessoas investigadas no âmbito da Operação Pavo Real, deflagrada ontem contra a organização criminosa comandada pelo narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão, conhecido como “Barão das Drogas”.

O sistema jurídico do país vizinho é diferente do brasileiro e, na prática, os investigados agora passam para a condição de réus por lavagem de dinheiro e organização criminosa. A decisão foi do juiz de Garantias Especializado em Crime Organizado, Gustavo Amarilla.

Entre os denunciados está o advogado Daniel Montenegro Menezes, 51, marido da promotora de Justiça paraguaia Katia Uemura Montenegro. Ele foi preso ontem de manhã em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha de Ponta Porã (MS).

Das 12 pessoas presas até agora, Daniel e outros sete investigados continuam recolhidos e quatro foram beneficiados com prisão domiciliar. Onze foram capturados durante o cumprimento dos mandados de busca e de prisão.

O 12º preso é Pedro Pablo Seal Melgarejo, sócio empresas investigadas. Ele se apresentou voluntariamente ontem à noite na Base de Operações da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) em Asunción e ficou preso.

Advogados, funcionários de cartórios e representantes legais de empresas usadas no esquema são acusados de integrar a rede usada pelo Clã Pavão para lavar dinheiro do tráfico de cocaína.

Uma das fazendas de Jarvis Pavão, confiscada no Paraguai (Foto: Divulgação)   
Uma das fazendas de Jarvis Pavão, confiscada no Paraguai (Foto: Divulgação)

 Em nota enviada nesta tarde, a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) informou que nesses dois dias da operação, foram cumpridos 41 mandados e 12 pessoas presas. Treze imóveis localizados na fronteira com Mato Grosso do Sul, avaliados em 150 milhões de dólares, foram confiscados.

Segundo a agência paraguaia, além da lavagem de dinheiro, as propriedades rurais eram peças-chave para o tráfico aéreo de cocaína. Uma dessas fazendas é a Cielo de Dios, onde existe pista de pouso de aviões.

A “Pavo Real Paraguai” deflagrada ontem é desdobramento das três fases de operação homônima coordenada pela Polícia Federal brasileira. Os envolvidos e as propriedades confiscadas estavam em anotações de próprio punho, encontradas na cela de Jarvis Pavão quando ele estava preso em Porto Velho (RO), e arquivos apreendidos no computador de Luan Pavão, filho de Jarvis, preso em 2020.

O operador financeiro Carlos Andrés Oleñik Memmel ao ser preso em sua casa (Foto: Divulgação)
O operador financeiro Carlos Andrés Oleñik Memmel ao ser preso em sua casa (Foto: Divulgação)

 Em Asunción, foram presos Adrián Brizuela, Lilian Haydee Ayala de Silva, Gabriela Esther González Jacquet, Carlos Oleñik Memmel e Pedro Pablo Seal Melgarejo.

Em Pedro Juan Caballero, a Senad prendeu Daniel Montenegro, María Cristina González Ibarra, Nancy del Carmen Alfonso, Raquel Amaro González, Jorge Mora Galeano, Renan Gilberto Mora Benitez e Alfredo Duarte.

Marido da promotora – De acordo as investigações, Daniel Montenegro é apontado como um dos principais operadores administrativos do esquema. Ele seria o responsável em fazer transações a favor da organização e gozava de confiança do Clã Pavão.

O advogado, ainda segundo o MP paraguaio, faz parte da segunda linha hierárquica e tinha como missão atuar como administrador, testa-de-ferro, “laranja” e responsável por algumas propriedades de Jarvis Pavão em território paraguaio.

Daniel Montenegro é acusado de fazer transações de compra e venda de imóveis por ordem de Luan Nascimento Pavão, o filho de Jarvis. Conforme o jornal Última Hora, Daniel era conhecido dentro da organização como “Doutor Montenegro” e aparentemente mantinha vínculos diretos com outros dois acusados, Adrián Rolando Brizuela e Carlos Oleñik.

Agentes da Senad na recepção do Frontera Palace Hotel, ontem de manhã (Foto: Divulgação)
Agentes da Senad na recepção do Frontera Palace Hotel, ontem de manhã (Foto: Divulgação)

 Além de administrar a venda de fazendas do clã, Montenegro é presidente do Grupo Oriental Import Export, dono de parte do antigo Royal Palace Hotel, atual Frontera Palace Hotel, em Pedro Juan Caballero – alvo de buscas, ontem de manhã.

Segundo as investigações, o hotel pertenceria à organização criminosa e estaria sendo administrado por Tallessa Ariany Santos da Silva Pavão (mulher de Jarvis Pavão) e Luan Pavão. Segundo a imprensa paraguaia, Daniel Montenegro também é suspeito de pagar propina a funcionários de órgãos públicos, para blindar os bens da organização.

“Daniel Montenegro Menezes seria a pessoa especialmente vinculada a questões imobiliárias da organização criminosa no Paraguai, sendo peça-chave importante no esquema”, afirma trecho da denúncia.

Itapopo – Alvos dos mandados de busca cumpridos ontem, a Cerâmica Itapopo e Itapopo Materiais para Construção, localizadas em Pedro Juan Caballero, divulgaram nota conjunta afirmando serem “infundadas” as acusações de que as empresas façam parte da organização de Jarvis Pavão.

“É de público conhecimento que trabalhamos há mais de 43 anos e todos nossos bens foram adquiridos de forma lícita e devidamente documentados”, afirma a nota, assinada pelo diretor Alexandre Reichardt de Souza. Segundo ele, as empresas estão à disposição das autoridades para fornecer documentos e informações necessárias. O nome de Alexandre Reichardt de Souza está na lista das 41 pessoas denunciadas.

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