Pais de menino filmado cheio de sangue agora fogem de "justiceiros"
Vídeo da criança chorando virou "prato cheio" para muita gente falar em "justiça com as próprias mãos"
![Menino de 3 anos aparece em vídeo cheio de sangue e chorando bastante; pai é suspeito de agressão. (Foto: Reprodução)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2021/10/01/3dnogkb9t123.jpeg)
Pais do menino de 3 anos que aparece aos prantos e coberto de sangue em vídeo que viralizou agora fogem dos “justiceiros da fronteira”, que assinam execuções sumárias de pessoas supostamente envolvidas em crimes em Ponta Porã – que faz fronteira com Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
Depois que a filmagem viralizou, a casa onde a família vivia foi invadida, os dois conseguiram fugir, mas a motorista de aplicativo que os levou até um hotel, os reconheceu e divulgou o local onde estavam hospedados. A polícia agora não sabe mais o paradeiro dos dois.
“Tivemos de ir até lá [hotel], os tiramos de lá e trouxemos para a delegacia, onde eles registraram boletim de ocorrência por causa das ameaças. Mas, agora, vamos ter de procura-los, porque devem ter se escondido, porque estão sendo ameaçados pelos ‘justiceiros’”, narra a delegada Analu Lacerda Ferraz, da 1ª DP (Delegacia de Polícia).
Ela explica que pediu a prisão preventiva do pai do garotinho e que o MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) deu parecer favorável a custódia dele enquanto durarem as investigações “para a garantia da ordem pública”, mas a polícia ainda aguarda análise de juiz. Se for expedida ordem de prisão, é que o homem passará a ser procurado.
O caso – O vídeo da criança chorando viralizou na quarta-feira (29) e virou “prato cheio” para muita gente falar em “justiça com as próprias mãos”. Mas o caso aconteceu no sábado passado, dia 24.
Analu Ferraz foi quem atendeu a ocorrência quando o pai da criança foi detido pela Polícia Militar. Denúncia contendo o vídeo foi feita à PM, que acionou o Conselho Tutelar na madrugada e foi ao local. Na casa da família, estavam a mãe e as crianças. O pai foi localizado depois, mas pego no mesmo dia.
Em depoimento, o homem nega que tenha agredido o filho, embora no vídeo, ele diga: “eu vou te bater mais”, mandando que o menino tirar a bermuda. O pai alega que o filho havia caído, por isso, estava ensanguentado e a mãe confirma. O casal também nega fazer uso de drogas e admite ter problemas com álcool.
A delegada explica que a polícia investiga o caso. Não há como provar, por enquanto, que aquele sangue na criança foi provocado por uma agressão, apesar da forte evidência de que o menino estava apanhando naquele momento. Foi pedida perícia no celular do pai para apurar, por exemplo, quando o vídeo foi gravado e se há mais imagens que esclareçam os fatos.
Em segurança - Desde o flagrante, as crianças – além do menino o casal tem outros dois filhos, uma garota mais velha que ele e um bebê – foram acolhidas pelo Conselho Tutelar e depois enviadas para a casa de parentes, foram de Ponta Porã.
A responsável pela investigação e a conselheira tutelar que esteve na casa da família, Marine Escobar de Souza, afirmam que a “caça as bruxas”, estimulada pelo compartilhamento do vídeo do menino chorando, em nada contribui para o bem-estar das crianças, além de ser crime reproduzir o vídeo, que identifica o menino em situação que pode gerar sofrimento para ele no futuro.
“Parem de compartilhar, é crime e é revitimizar essa criança. Tudo o que ela já passou, o que ela menos precisa nesse momento é essa exposição. Encarecidamente eu peço, como quem acompanhou, como quem viu, como quem estava de perto, apaguem esse vídeo do WhatsApp. Isso não ajuda em nada. A criança está atendida. Pelo amor de Deus, tirem das redes sociais. Parem!”, apelou Marine em entrevista ao Campo Grande News no dia 29.