Pais de menino filmado cheio de sangue agora fogem de "justiceiros"
Vídeo da criança chorando virou "prato cheio" para muita gente falar em "justiça com as próprias mãos"
Pais do menino de 3 anos que aparece aos prantos e coberto de sangue em vídeo que viralizou agora fogem dos “justiceiros da fronteira”, que assinam execuções sumárias de pessoas supostamente envolvidas em crimes em Ponta Porã – que faz fronteira com Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
Depois que a filmagem viralizou, a casa onde a família vivia foi invadida, os dois conseguiram fugir, mas a motorista de aplicativo que os levou até um hotel, os reconheceu e divulgou o local onde estavam hospedados. A polícia agora não sabe mais o paradeiro dos dois.
“Tivemos de ir até lá [hotel], os tiramos de lá e trouxemos para a delegacia, onde eles registraram boletim de ocorrência por causa das ameaças. Mas, agora, vamos ter de procura-los, porque devem ter se escondido, porque estão sendo ameaçados pelos ‘justiceiros’”, narra a delegada Analu Lacerda Ferraz, da 1ª DP (Delegacia de Polícia).
Ela explica que pediu a prisão preventiva do pai do garotinho e que o MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) deu parecer favorável a custódia dele enquanto durarem as investigações “para a garantia da ordem pública”, mas a polícia ainda aguarda análise de juiz. Se for expedida ordem de prisão, é que o homem passará a ser procurado.
O caso – O vídeo da criança chorando viralizou na quarta-feira (29) e virou “prato cheio” para muita gente falar em “justiça com as próprias mãos”. Mas o caso aconteceu no sábado passado, dia 24.
Analu Ferraz foi quem atendeu a ocorrência quando o pai da criança foi detido pela Polícia Militar. Denúncia contendo o vídeo foi feita à PM, que acionou o Conselho Tutelar na madrugada e foi ao local. Na casa da família, estavam a mãe e as crianças. O pai foi localizado depois, mas pego no mesmo dia.
Em depoimento, o homem nega que tenha agredido o filho, embora no vídeo, ele diga: “eu vou te bater mais”, mandando que o menino tirar a bermuda. O pai alega que o filho havia caído, por isso, estava ensanguentado e a mãe confirma. O casal também nega fazer uso de drogas e admite ter problemas com álcool.
A delegada explica que a polícia investiga o caso. Não há como provar, por enquanto, que aquele sangue na criança foi provocado por uma agressão, apesar da forte evidência de que o menino estava apanhando naquele momento. Foi pedida perícia no celular do pai para apurar, por exemplo, quando o vídeo foi gravado e se há mais imagens que esclareçam os fatos.
Em segurança - Desde o flagrante, as crianças – além do menino o casal tem outros dois filhos, uma garota mais velha que ele e um bebê – foram acolhidas pelo Conselho Tutelar e depois enviadas para a casa de parentes, foram de Ponta Porã.
A responsável pela investigação e a conselheira tutelar que esteve na casa da família, Marine Escobar de Souza, afirmam que a “caça as bruxas”, estimulada pelo compartilhamento do vídeo do menino chorando, em nada contribui para o bem-estar das crianças, além de ser crime reproduzir o vídeo, que identifica o menino em situação que pode gerar sofrimento para ele no futuro.
“Parem de compartilhar, é crime e é revitimizar essa criança. Tudo o que ela já passou, o que ela menos precisa nesse momento é essa exposição. Encarecidamente eu peço, como quem acompanhou, como quem viu, como quem estava de perto, apaguem esse vídeo do WhatsApp. Isso não ajuda em nada. A criança está atendida. Pelo amor de Deus, tirem das redes sociais. Parem!”, apelou Marine em entrevista ao Campo Grande News no dia 29.