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Interior

Caçada por grupo de “Justiceiros”, “Mariposa Traicionera” jura que é inocente

Paraguaia deu entrevista para rádio da fronteira, negou ligação com o crime e diz temer pela filha

Helio de Freitas, de Dourados | 28/09/2021 21:48
Letícia, a “Mariposa Traicionera”, exibe pistola automática em data desconhecida. (Foto: Reprodução)
Letícia, a “Mariposa Traicionera”, exibe pistola automática em data desconhecida. (Foto: Reprodução)

Caçada na faixa de fronteira entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul pelo grupo de extermínio “Justiceiros da Fronteira”, a paraguaia “Mariposa Traicionera” falou hoje (28) durante 16 minutos, com uma emissora de rádio de Pedro Juan Caballero.

Na entrevista por telefone à Rádio Império FM 103.1, Letícia, como ela se identifica, negou ligação com o crime organizado, disse que está escondida em outro país para não ser morta e cobrou proteção do governo paraguaio à sua família, principalmente, à filha adolescente, que mora com o pai na cidade vizinha de Ponta Porã (MS).

Horas após Letícia alegar inocência e jurar não entender o motivo por estar jurada de morte pelos “Justiceiros”, seus inimigos espalharam fotos dela em redes sociais. Em uma delas, "Mariposa Traicionera" (borboleta traidora) aparece segurando uma pistola automática. A data em que a foto foi feita é desconhecida.

Em outra postagem, o JDF (Justiceiros da Fronteira) pergunta: “onde você se meteu mariposa? Mas eu juro pelos meus irmãos que você tirou de mim porque agora você não é mais nada. Você já não é mais a patroa que era antes. O ódio que sinto por você é mais forte que qualquer coisa”.

Na entrevista, Letícia afirmou não saber o motivo de ter sido jurada de morte, disse não ter poder para contratar matadores profissionais e que só fugiu da fronteira para não ser morta.

Ela disse que a perseguição começou em julho de 2019 e alegou não saber por qual motivo entrou para a lista dos assassinos. “Falavam que eu era dos ‘Justiceiros’, mas eu nunca fui desse grupo de bandidos. Agora os 'Justiceiros' falam que eu estou com o ‘Crime’, mas não é verdade”, afirmou ela.

“Mariposa Traicionera” foi citada em postagem feita hoje pelo perfil do JDF em rede social. Os inimigos a acusam de se aliar ao grupo que se intitula “Crime”, de oposição aos “Justiceiros”.

“Eu tive que abandonar Pedro Juan Caballero em 2019, porque esse grupo está me caçando, mudou toda a minha vida e a vida da minha família. Em 2020, começou tudo de novo, falaram que eu era do grupo "Justiceiros da Fronteira", mas eu nem sei quem são essas pessoas, é tudo mentira”, afirmou Letícia.

Ela disse que por 19 anos, foi funcionária da Prefeitura de Pedro Juan Caballero e do atual prefeito José Carlos Acevedo. “São tantas mortes na fronteira, mas eu estou longe, não sei de nada, peço que me deixem em paz. Não sei por qual motivo estão me complicando a vida. Estou muito triste pelo que estão dizendo de mim, espalhando minhas fotos, eu tenho mãe, eu tenho pai, eu tenho uma filha de 14 anos”.

Segue os líderes - Moradores da fronteira acostumados com a guerra entre quadrilhas presentes há meio século na linha internacional, afirmam que “Mariposa Traicionera” segue lendários chefões do crime organizado, negando ligação com o crime e falando em nome da família.

“Quem ouviu a entrevista e mora há muito tempo na fronteira, vai se lembrar da primeira entrevista de Fahd Jamil, das vezes que Jorge Rafaat falou com a imprensa, vão se lembrar até da entrevista de Jarvis Pavão”, disse fronteiriço.

Os três nomes citados pelo morador foram patrões do crime organizado na fronteira. Jorge Rafaat foi executado em junho de 2016, supostamente pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).

Derrotado pelo PCC, Fahd Jamil, 80 anos, está em prisão domiciliar e usando tornozeleira eletrônica. Jarvis Gimenes Pavão cumpre pena no presídio federal em Brasília.

Sem a presença desses “capos” famosos, facções brasileiras e paraguaias lutam pelo controle do trecho mais sangrento da fronteira entre Paraguai e Brasil.

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