Polícia Federal retira Kadiwéus de fazenda em Porto Murtinho
Cerca de 60 famílias Kadiwéu começaram a ser retiradas ontem pela Polícia Federal de área de cerca de 160 mil hectares no município de Porto Murtinho, na fazenda Santa Mônica. A informação foi divulgada pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Os indígenas divulgaram boletim afirmando que irão continuar na área até a decisão final do STF (Supremo Tribunal Federal).
"A gente respeita autoridade. Mas no momento em que não respeitam a gente, a gente não pode deixar que eles abusem da autoridade. Eles têm que ter respeito com a comunidade. A terra é nossa", disse o presidente da Associação das Comunidades Indígenas da Reserva Kadiwéu (ACIRK), Francisco Matchua.
A demarcação da reserva dos kadiwéus, na região do Pantanal, foi em 1981. Dos 538 mil hectares, 160 mil estão em disputa na Justiça desde 1987. O processo tramita há 25 anos no STF (Superior Tribunal Federal). A área foi ocupada pelos índios em maio deste ano.
Uma liminar da Justiça Federal, em setembro, determinou a retirada dos índios da área em 30 dias.
O Ministério Público Federal-MS (MPF) entrou com um recurso contra a decisão, ainda não julgado, e uma liminar que pedia a suspensão da reintegração e desocupação. O pedido foi negado pela Justiça.
Em solidariedade aos Kadiwéu, um grupo de 50 indígenas Terena da região do Pantanal se deslocou para a área da retomada.
A reportagem tentou entrar em contato com a PF e o CIMI, mas não obteve retorno. A Polícia Militar e o Exército de Porto Murtinho disseram que não foram acionados.
Perseguição - No último sábado (27), de acordo com o Cimi, um historiador, um advogado e quatro lideranças indígenas foram perseguidos por cerca de 20 homens armados em seis caminhonetes.
O advogado do Cimi, o indígena Terena Luiz Henrique Eloy, disse ter sentido na pele "a guerra instalada em Mato Grosso do Sul contra os índios".
A perseguição aconteceu durante uma visita do grupo ao território dos indígenas, que deve ser desocupado.