"Por que fizeram isso comigo?": transexual agredida a pauladas terá sequelas
Agredida em caso de transfobia, vítima sofreu traumatismo craniano severo; família pede doações
Com traumatismo craniano severo, sem os dentes de cima, olhos inchados, Cláudia Aparecida Linda, de 40 anos, mal consegue se mover e falar, apenas sussurra “Por que fizeram isso comigo? Será que vão voltar aqui?”. A família fez uma vaquinha para arrecadar doações para enfrentar o que vem pela frente.
“Virou uma criança, vai ter sequelas”, resume Daiane Almeida, de 27 anos, sobrinha da transexual espancada há seis dias por dois homens, pai e filho, em Mundo Novo, a 463 quilômetros da Capital.
A paciente estava em hospital de Dourados, mas ao sair da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), foi transferida de volta para a cidade onde mora.
A sobrinha conta que defensores públicos das duas cidades se comunicaram para saber se a transferência seria benéfica para a paciente, porque, segundo a família, ela já havia sofrido descaso do primeiro atendimento.
Daiane lembra que o médico disse que Claudinha "estava bêbada, mal por causa de briga de rua e iria para casa quando acordasse". “Ficou das 5h da manhã às 22h sem atendimento. Se não fosse isso, não teria tido hemorragia na cabeça”, diz a sobrinha.
“O médico disse que aqui em Mundo Novo tem enfermeiros e será melhor. Não tenho ideia do quanto vamos precisar, mas estamos fazendo a vaquinha, porque eu vendo bolos e estou parada desde que isso aconteceu, minha avó é aposentada e o dinheirinho dela vai tudo com as contas, meu avô também não tem condições. O que doarem vamos usando”, diz Daiane.
Claudinha, como é conhecida pelos amigos, vai passar ainda por exames diversos, inclusive nos olhos, cirurgias no maxilar e maçã do rosto. Além disso, vai precisar de fisioterapia e medicamentos fortes. “Minha avó está muito triste, emagreceu porque não come direito”, conta Daiane sobre a angústia da mãe da paciente.
Como ajudar - Quem quiser fazer doações de qualquer valor, pode enviar via Pix para o CPF 102.255.069-12, conta de Daiane Almeida.
Os valores serão usados para pagar exames, medicamentos e outros equipamentos que Claudinha vai precisar para voltar para casa.
Conforme as informações médicas, a família estima que a paciente terá alta em uma semana, mas depois disso ainda vai esperar para passar por cirurgias na cabeça e face.
Espancamento - Segundo a polícia, a tentativa de homicídio foi motivada por transfobia. Já presos, pai e filho são os suspeitos da agressão. Flávio Gean, o filho, confessou ter agredido Claudinha a pauladas.
O pai, Ademir Gonçalves de Oliveira, conhecido como Sabugo, diz que estava pescando e até conta com testemunho de amigo que corrobora a alegação.
Porém, segundo o delegado João Cléber Dorneles, testemunhas alegam o contrário, as versões estão sendo checadas.
No boletim de ocorrência, consta que as desavenças começaram em uma tabacaria. Daiane disse que soube que Claudinha e o Sabugo haviam se encontrado antes, em uma lanchonete e que o suspeito disse que “ali não era lugar de viado”. Para evitar briga, a transexual foi embora.
Mas os dois voltaram a se encontrar na tabacaria e Sabugo teria dito que “não queria viado olhando”. A transexual só retrucou: “Você que está na minha frente”. Sabugo partiu para cima dela, que revidou com garrafada. Claudinha foi embora.
O homem foi embora e voltou armado. Testemunhas disseram que ele gritava: “Cadê aquele viado? Vou matar ele”. Em seguida, saiu e emboscou Claudinha, juntamente com o filho, agredindo a pauladas a transexual.