Segundo dia de tensão e índios têm 48h para deixar fazendas
Tentando controlar o clima de tensão nas propriedades rurais Buriti e Cambará, entre Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, a PF (Polícia Federal) conseguiu um acordo para que os índios terena deixem as fazendas invadidas até às 15h de sábado (18). O prazo é de 48 horas.
As negociações foram comandadas pelo delegado Alcídio de Souza Araújo.
O coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) de Sidrolândia, Jorge Antônio das Neves, se deslocou da região ainda nesta quinta-feira rumo a Campo Grande para tentar reverter a decisão. Ele informou que se não houver uma decisão favorável, os indígenas irão sair das áreas pacificamente.
Jorge se reúne na Capital com dez lideranças indígenas juntamente com a AGU (Advocacia-Geral da União) e a Funai. “É difícil um acordo numa situação dessa”, comentou o coodernador antes de se deslocar para Campo Grande.
A região foi invadida por 380 índios. Na fazenda Buriti são de 150 a 200. Na Cambará são pelo menos mais 50.
O clima de tensão era perceptível ainda no início da manhã. Os indígenas se instalaram na entrada da fazenda Buriti, de propriedade de Ricardo Bacha. No final do período matutino os índios tentaram montar acampamento próximo da sede, mas seguranças evitaram e quase um conflito foi estabelecido.
Minutos depois um comboio foi formado por cerca de 10 carros. O delegado da PF recomendou que os produtores rurais não atrapalhassem a negociação, mas eles insistiram e diziam que estavam no local para demonstrar apoio a Ricardo Bacha. Os fazendeiros representavam 32 propriedades.
Porém, os fazendeiros retornaram a Cambará aguardando que fosse cumprida a decisão judicial de reintegração de posse expedida pelo juiz federal Renato Toniasso, da 1ª Vara Federal de Campo Grande, o mesmo que havia determinado sexta-feira (10) multa diária de R$ 500 aos índios e R$ 1 mil à Funai caso houvesse invasão em cinco propriedades na região.
“Se existe um fundo para ressarcir os fazendeiros, que pague para acabar o problema. A invasão é uma forma de pressionar o governo”, cobrou o coordenador da Funai. Segundo ele, o espaço de aldeias índigenas hoje no Estado é de 2.090 hectares de terra para 4 mil índios.
De acordo com o delegado, somente na fazenda Buriti são 300 hectares. Os fazendeiros concordam com o coordenador da Funai sobre a cobrança na União.
Entretanto, a desconfiança é que o prazo de 48 horas para desocupar a área será suficiente para os indígenas conseguirem uma liminar e não deixar o local. “Representantes de mais de 100 fazendas estão unidos para mostrar solidariedade um com o outro”, disse Marcelo Bertoni, representante do Sindicato Rural de Bonito.
“Nos produtores nunca fizemos uma greve, pelo contrário, estamos batendo recorde de produção. Não somos bandidos, queremos produzir e numa situação dessa somos tratados como bandidos”, reclama Valério Luiz da Costa Vanni, de 54 anos.