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Interior

Sem “dono”, fronteira sangra e polícia aproveita guerra para cortar cabeças

Ação conjunta, usando inteligência brasileira, que resultou em operações de hoje, é resultado mais importante na luta de Brasil e Paraguai contra o narcotráfico

Helio de Freitas, enviado especial a Ponta Porã | 04/11/2016 12:40
Na fronteira, lei parece ser outra entre traficantes. (Foto: Helio de Freitas)
Na fronteira, lei parece ser outra entre traficantes. (Foto: Helio de Freitas)

A guerra entre narcotraficantes para assumir o controle da distribuição de drogas na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, iniciada após a morte do chefão Jorge Rafaat, deixa rastros de sangue há quase seis meses em Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero.

Para quem não conhece a fronteira a impressão é de que a polícia perdeu o controle da situação e que está muito pior agora, sem Rafaat.

Mas a realidade não é bem essa. Apesar do banho de sangue e pessoas metralhadas quase diariamente, o momento está pior sim, mas para os próprios bandidos. A polícia aproveita o momento de descontrole para cortar cabeças antes que assumam o lugar do barão executado em junho deste ano.

Ações - As operações Cavalo Doido e Argus, desencadeadas hoje em Mato Grosso do Sul e vários outros estados apresentaram resultados nunca vistos. O trabalho conjunto da Polícia Federal brasileira com a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai contribuiu, mas a atual desorganização dos traficantes teve papel preponderante segundo policiais ouvidos pelo Campo Grande News. 

“Temos que parar com essa história que o Rafaat era bom para a fronteira. Era um bandido como outro qualquer, que matava gente do PCC e outras pessoas também. Alguns grupos estão tentando tomar o lugar dele, mas por enquanto o que temos ainda é um bando de bandidos menores se matando e esse momento sem comando é importante para a polícia”, revelou um delegado da PF com larga experiência na fronteira.

Autoridades policiais falaram sobre as operações nesta manhã. (Foto: Helio de Freitas)
Autoridades policiais falaram sobre as operações nesta manhã. (Foto: Helio de Freitas)

Parceria para valer – Pode-se dizer que a Operação Cavalo Doido é o primeiro trabalho conjunto da PF com a Senad a apresentar resultados tão expressivos. Coincidentemente, é a primeira grande ação após a morte de Rafaat.

Com troca de informações e trabalho de inteligência, as duas corporações conseguiram resultados rápidos e jamais esperados. Com informações descobertas pela PF durante as investigações, a Senad chegou a roças de maconha em regiões até então desconhecidas.

Com informações da Senad, a PF identificou os líderes da organização e hoje os colocou na cadeia, além de sequestrar bens, confiscar veículos e bloquear contas bancárias.

O delegado Cassius Valetin Baldelli, coordenador nacional de repressão a drogas da PF, disse que o trabalho de combate ao crime tem outro foco: o patrimônio dos traficantes, alvo principal da operação internacional realizada hoje.

“Através da Operação Cavalo Doido, descobrimos lavouras que não eram conhecidas. As informações foram repassadas para a Senad, que destruiu as plantações”, afirmou. A Operação Aliança, que fez o corte e incineração das plantas, além da destruição de acampamentos dos plantadores, foi encerrada hoje.

Mais de 200 policiais participaram da operação Cavalo Doido realizada hoje. (Foto: Helio de Freitas)
Mais de 200 policiais participaram da operação Cavalo Doido realizada hoje. (Foto: Helio de Freitas)

Secando gelo – Desde o início dos anos 2000 o Paraguai corta e queima roças de maconha. Alguns dias semanas depois, os traficantes plantam tudo novamente.

Apesar desse trabalho sem fim, como um cão que corre atrás do próprio rabo, o governo do país vizinho e a PF brasileira estão convencidos que é, a curto prazo, a forma mais eficiente de diminuir a maconha nos centros consumidores.

“O plantio da maconha está ligado também a questões sociais. Pessoas precisam dessa atividade para sobreviver”, afirmou o ministro da Senad, coronel Hugo Vera, que esteve hoje em Ponta Porã para a entrevista coletiva que marcou o encerramento das operações.

Hugo Vera defendeu mais presença do governo paraguaio e mais ação social nessas áreas, para apresentar resultados a médio e longo prazos. Mas, por enquanto, não vê outra forma a não ser destruir as lavouras da droga e prender os traficantes brasileiros. Segundo o governo paraguaio, os financiadores das roças de maconha moram do lado de cá da fronteira.

“É preciso continuar sempre destruindo as lavouras. Temos que insistir nisso para desestimular o plantio e quebrar o ciclo do narcotráfico”, afirmou o capitão Chamorro, chefe das operações de erradicação das roças de marihuana.

“A população paraguaia vinculada ao plantio que precisa de outra forma de sustento. O governo está enfatizando ações nessas áreas”, afirmou Hugo Vera.

Segundo Chamorro, a única forma de reduzir fornecimento é destruindo as lavouras. “Das 600 toneladas destruídas nas operações Aliança, 80% ia para o Brasil. E a droga não chegou aqui [do lado brasileiro] porque as lavouras foram queimadas”.

Na fronteira com o Paraguai, Ponta Porã é apontada como rota de tráfico de drogas. (Foto: Helio de Freitas)
Na fronteira com o Paraguai, Ponta Porã é apontada como rota de tráfico de drogas. (Foto: Helio de Freitas)
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