Sem médicos, equipamentos e remédios, UPA vai dispensar pacientes
Diretor técnico da UPA de Dourados determinou que pacientes avaliados como azul e verde fossem orientados a procurar postos
A crise na saúde de Dourados parece sem fim. Em colapso financeiro, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul agora vai dispensar pacientes considerados menos graves e orientá-los a procurar atendimento nos postos de saúde.
A determinação faz parte de comunicação interna assinada nesta terça-feira (15) pelo diretor técnico da UPA, médico Renato Cezar Nassr, à qual o Campo Grande News teve acesso. No documento número 64, o médico afirma que a medida ocorre devido à falta de estrutura e de profissionais na única UPA de Dourados.
“Devido à falta de segurança, enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, medicamentos e insumos e também equipamentos, resolvo a partir deste momento solicitar que após classificação de risco os pacientes avaliados como azul e verde sejam orientados a procurar atendimento na rede básica e nos postos de saúde mais próximos de sua residência”, afirma a CI assinada por Renato Nassr.
O diretor técnico deixa claro no documento interno que serão atendidos na UPA apenas os pacientes classificados como amarelo e vermelho. “Período de vigência: até que sejam resolvidas as solicitações”.
Na UPA de Dourados, o paciente é classificado como verde quando não corre risco de morte, podendo ser atendido sem prioridade. Paciente azul é aquele que deveria procurar o posto de saúde. Pacientes classificados como amarelo ou vermelho necessitam de atendimento de urgência ou emergência com risco de morte.
A dispensa de pacientes considerados sem gravidade é mais uma medida tomada nos últimos meses pela prefeitura para limitar o atendimento de saúde a moradores de Dourados e de outros 32 municípios da região.
Desde o início de setembro, o Hospital da Vida, referência em casos de urgência e emergência e trauma para atendimento pelo SUS a uma população regional de 800 mil habitantes, não é mais “de porta aberta”.
Isso significa que são recebidos apenas pacientes considerados graves, transferidos com autorização ou encaminhados pelo Corpo de Bombeiros e pelo Samu (Serviço Móvel de Urgência).
Na portaria que determinou o fechamento da ala verde do hospital, em vigor desde setembro, a Secretaria Municipal de Saúde estabeleceu que os casos de baixa e média complexidade seriam atendidos na UPA, a mesma onde agora o diretor técnico mandou dispensar pacientes sem gravidade.
Criança morta – No fim de semana, Matheus, de 3 meses de vida, foi levado três vezes à UPA de Dourados, onde morreu ontem de manhã com suspeita de meningite.
A mãe da criança procurou o primeiro atendimento no sábado. O menino foi atendido e liberado. No domingo, apresentando os mesmos sintomas, foi levado de novo para a UPA.
A mãe foi então orientada a ir ao posto de saúde do bairro Jóquei Clube para pedir encaminhamento para a UTI Pediátrica do HU (Hospital Universitário). Só que a vaga foi negada. Por meio da assessoria, o HU informou ontem que a UTI pediátrica estava lotada.
Na segunda-feira (14), Matheus foi novamente levado para a UPA, onde morreu no início da manhã de ontem. A Comissão de Saúde da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acompanha o caso.
A reportagem tenta desde ontem obter posição da secretária municipal de Saúde Berenice Machado Souza e da prefeitura sobre a morte da criança, mas não conseguiu resposta. Nesta manhã, novamente a assessoria da prefeita Délia Razuk (PTB) foi procurada para falar sobre a decisão do diretor técnico da UPA. Mais uma vez não houve resposta.