Um pai "incrível" é a lembrança que a rapidez da morte por covid não apagará
Antônio Luscero tinha 64 anos quando faleceu, em Sidrolândia, com o novo coronavírus
O avanço rápido da doença que culminou na morte do pai, assusta até agora a empresária Luciana Luscero Strack, 37 anos. Antônio Luscero, 64, faleceu cinco dias depois de ter procurado o primeiro atendimento médico diante de sintomas que ninguém imaginava que poderia ser de covid-19.
“Levei ele na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e ele já ficou internado. Falaram que a saturação dele estava baixa e ficou tomando oxigênio, o que melhorou a respiração”, contou, lembrando que isso foi no dia 15 de julho. “Ele foi andando pra UPA e de lá não o vi mais”, lamentou.
Luciana lembra que na quarta e na quinta-feiras o pai tomou oxigênio e já começou o tratamento com as medicações protocolares para os sintomas de covid-19. Na sexta, telefonaram do hospital, em Sidrolândia, onde Antônio ficou internado, dizendo que ele havia sido entubado.
“Pra mim que meu pai ia ficar uns dias internado, tomando remédio e voltava. Jamais pensei que não ia mais vê-lo. A ficha ainda não caiu”, comentou, ao afirmar que na última vez que o viu, fez uma oração e o abraçou, mesmo não podendo. “O médico estava do lado, viu que eu o abracei, mas alguma coisa me dizia que tinha que abraçar meu pai”.
Sem contato depois desse dia, nem por celular, que foi proibido tanto na UPA quanto no hospital, as informações sobre a saúde de Antônio era repassadas pela equipe hospitalar, que indicou cada passo e evolução do tratamento. Ele tinha hipertensão e diabetes controlada com alimentação, sem insulina.
Foi no Hospital Elmiria Silvério Barbosa que ela ficou sabendo que o raio-x do pulmão de seu pai correspondia a um pulmão atacado pelo novo coronavírus, mesmo ainda não havendo resultado do teste feito nele, o que chegou apenas na segunda-feira, horas antes do falecimento de Antônio ocorrer.
“Na segunda chegou o resultado era meio-dia e a gente teve certeza que era covid. Quando deu 18 horas ligaram falando que ele tinha falecido”, recorda.
Segundo Luciana os sintomas em Antônio começaram três dias antes deles irem até à UPA, de domingo, 12 de julho, para segunda, dia 13. Ele teve fraqueza, febre e dor no corpo e na cabeça, mas mesmo assim, “na segunda-feira ainda ele foi trabalhar, mas eu vi que ele não estava bem”.
Ela lembra que o pai “foi andando pra UPA” e que era um homem forte, ativo e vaidoso. Donos de uma empresa de terraplanagem e oficina mecânica em Sidrolândia, Luciana conta que não faz ideia de como o pai pode ter sido contagiado, já que ele “morria de medo dessa doença e pra ir na casa dele a gente tomava banho de álcool”.
Para ela, as visitas em algumas fazendas para a terraplanagem podem ter sido a fonte de infecção, mas não há certeza, até porque ela, seus dois filhos e sua irmã que morava com o pai, testaram positivo para o novo coronavírus. “Não sabemos se passamos pra ele ou se ele passou pra nós”, contou. Nenhum deles desenvolveu sintomas graves, apenas dor de cabeça.
O que fica na lembrança é de um pai incrível, carinhoso, amoroso e presente. “Meu pai era uma pessoa muito querida, ajudava a todos, deixava de comer pra ajudar os outros. Quem o conheceu sabia que ele era incrível e ele sabia disso, o que tínhamos pra falar pra ele, falamos em vida. Ele foi um pai maravilhoso, pai que muitos não têm oportunidade de ter”.
Por três vezes ela repetiu que o pai era incrível. "O amoer e o carinho que ele tinha não tem igual. Ele era incrível, um pai exemplar. Tudo que ele fez fica de legado pra nós, porque meu pai, não tem outra coisa pra dizer, ele era incrível!".
Para Luciana, que agora tocará os negócios da família junto com os irmãos, é preciso que as pessoas tenham consciência, porque percebe que estão “brincando” com a covid-19. Antônio deixa três filhos de 39, 37 e 25 anos e quatro netos.