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Cidades

Jovem que passou mal em mega protesto está em quadro vegetativo

Zana Zaidan | 13/11/2013 11:04
Até para receber a reportagem, o grupo se mobilizou e busca arrecadar R$ 10 mil para o tratamento da amiga (Foto: Marcos Ermínio)
Até para receber a reportagem, o grupo se mobilizou e busca arrecadar R$ 10 mil para o tratamento da amiga (Foto: Marcos Ermínio)

Luanna Cristina Pavanatti, 24 anos, passou mal no dia 20 de junho deste ano, durante o protesto que levou mais de 60 mil pessoas às ruas de Campo Grande. Ela participava da manifestação com um grupo de mais três amigas, quando foi acometida por um mal súbito, de causas até hoje desconhecidas, tanto pela família, quanto pela equipe médica. Luanna teve “inúmeras” paradas cardíacas no meio da avenida Afonso Pena (as amigas não sabem precisar quantas), e outras duas já na ambulância, a caminho do hospital.

Hoje, o quadro é bastante delicado – Luanna saiu do hospital há pouco mais de um mês, depois de um longo período internada, e ficou com graves sequelas neurológicas: não se movimenta, alimenta-se por sonda, usa fraldas, está infectada por duas bactérias que podem se espalhar por todo organismo, e família não tem recursos para custear o tratamento da jovem.

Os amigos contam que Luanna sempre levou uma vida saudável e não tinha histórico de doenças. “Foi uma coisa repentina, ela era uma menina muito ativa, daquelas que tomava suco de couve e praticava Muay thai”, explica Bruna Barros, 23 anos.

A jovem trabalhava na pizzaria Pavanatti, no bairro Nova Bahia, com os pais, Carlos e Sirlei Pavanatti, e a irmã mais velha, Sabrina, 28. O restaurante é a única fonte de renda da família, e também fornece marmitas, durante o dia.

“Por isso é tão difícil esse cuidado com ela. A Luanna precisa de assistência 24h por dia, e ficam todos envolvidos com o restaurante, se eles pararem de trabalhar, aí é que não vão ter dinheiro para as despesas do tratamento”, conta Débora Oliveira, 38, amiga de Luanna.

No dia do protesto, Luanna foi levada para a Santa Casa, onde ficou internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por 59 dias. Recebeu alta, foi levada para casa, mas o estado de saúde piorou ela precisou ser internada novamente, desta vez por 31 dias.

Na segunda internação, foi descoberta a bactéria. Os médicos não sabem dizer ao certo se o organismo de Luanna estava contaminado antes de ela sofrer o mal súbito, mas defendem a hipótese de uma infecção hospitalar, durante a primeira estadia no hospital.

Com a imunidade baixa, Luanna teve duas pneumonias, que comprometeram os dois pulmões. Por causa da doença, ela precisa de sessões aspiração, procedimento que limpa as secreções das vias aéreas por meio de uma sonda.

Luanna não fala e não consegue mover os membros, por isso, faz fisioterapia e fonoaudiologia, três vezes por semana. Cada sessão custa R$ 50 e R$ 70, respectivamente, ambas custeadas pela família. “O SUS oferece o tratamento, mas não o transporte até o hospital. Nesse caso, eles teriam que pagar R$ 150 por uma ambulância com os equipamentos necessários, ida e volta. Sai mais barato os médicos irem até a casa dela, do que essa ambulância até o SUS”, explica Bruna.

Só de fraldas são R$ 300 por semana, mais lenços umedecidos para higienização. Uma cadeira de rodas, orçada em R$ 5 mil, será comprada, na base do desconto, por R$ 1,8 mil, depois que os amigos bateram o pé. “Agora ela vai poder sair da cama”, comemoram.

Ajuda – O que fez Luanna chegar ao atual estado de saúde, ninguém explica. Mas os amigos não desistem. São mais de 50 deles, mobilizados para arrecadar dinheiro para a família conseguir bancar os cuidados. Até para receber o Campo Grande News, quase 20 amigos da Lullys, como é conhecida, saíram do trabalho e foram para a casa de Débora, dispostos a divulgar a causa. 

Apesar de desacreditada pelos médicos, todos apostam que a amiga vai se recuperar, só precisa do tratamento adequado, e caro. “No começo, os médicos disseram ‘ela nunca vai abrir o olho. Hoje, ela já abre o olhinho, se a gente se mexe ela acompanha com o olhar. Passei a mão na perna e ela se arrepiou, ela está evoluindo”, acredita Bruna. “Ela faz careta, saem lágrimas pelos olhos, sei que de alguma forma ela responde”, acrescenta Débora, esperançosa.

Os amigos vão fazer um “carreteirão” beneficente no domingo (17). A meta é arrecadar pelo menos R$ 10 mil, o que eles calculam que será suficiente apenas para os próximos três meses. Muita coisa foi doada, mas R$ 3 mil o grupo fez uma vaquinha e tirou do próprio bolso para bancar o evento.

Quem quiser ajudar, o carreteirão será no 26º Quarteirão dos Amigos, das 11h30 às 14 horas, com música, bingo e doces vendidos no local. Convites individuais custam R$ 15 e crianças de até 6 anos não pagam.

O dia do protesto – O pai de Luanna não queria que ela participasse da manifestação. Com a insistência da filha, Carlos foi levá-la na casa de uma amiga, Ana Carolina, na Rua 15 de Novembro, uma quadra abaixo do ponto de início do protesto, na Avenida Afonso Pena. Lá, elas e mais três amigas aguardavam o “tumulto” passar para seguir o protesto.

“Ela estava normal, não aparentava nada que nos fizesse achar que ela poderia passar mal. Tomamos tereré – pouco, umas duas cuiadas – enquanto fazíamos cartazes. Quando ouvimos que o grosso da manifestação já tinha passado, subimos a rua”, conta Ana Carolina. “Não andamos quase nada, minha casa fica há meia quadra da Afonso Pena. Não tempo de ela ter ficado cansada, e na avenida, já não tinha mais tumulto ou aperto, a maior parte já tinha passado, não tinha mais sol, calor, nada”, apontando que não houve nenhum motivo que pudesse levar a amiga a passar pelo que passou no dia.

“Estávamos conversando, fazendo graça com as frases dos cartazes das pessoas, numa boa. Na altura do Burger King, ela simplesmente caiu. Achamos até que ela estava brincando, do jeito que é brincalhona”, explica Paula Panassolo. “Muita gente viu que tinha uma pessoa passando mal, mas ninguém, nem nós mesmas, imaginou que fosse tão grave. No meio de um protesto, você pensa que foi um desmaio, e só”.

Tassia Caviglioni, outra amiga que acompanhava o grupo, é técnica em enfermagem, o que foi crucial no socorro de Luanna. O acesso a Afonso Pena estava bloqueado pelos manifestantes, o que dificultou a chegada do Corpo de Bombeiros. Ana Carolina aponta que a ambulância levou 18 minutos para chegar. Nesse meio tempo, as meninas, com ajuda de outros, fizeram um círculo de isolamento para evitar que ela fosse pisoteada. Uma equipe do Samu passava orientações por telefone, e Tassia fazia massagem cardíaca em Luanna.

Serviço – Carreteirão beneficente da Lullys

Dia: 17 de novembro
Hora: 11h30 às 14 horas
Local: Quarteirão de Amigos - rua Paraisópolis, 26 - bairro Rita Vieira
Cardápio: Arroz Carreteiro, Saladas e Mandioca (bebidas e sobremesas à parte)
Obs: Levar pratos e talheres

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